Os últimos domingos têm sido marcados por protestos contra e a favor do governo Bolsonaro. Em Brasília, as ações costumam contar com o apoio do próprio, dentro de um padrão de comportamento desobediente quase adolescente ao não respeitar regras de distanciamento e de não usar máscaras de proteção, como manda a regra na capital nacional. A presença do presidente nos atos só contribui para insuflar a polarização entre os dois grupos que acreditam, baseados em seus princípios ideológicos, defender a democracia. Pelos adversários, são rotulados como fascistas, de um lado, ou comunistas, pelo outro, bem distantes da liberdade de pensamento defendida por ambos.
No domingo passado, os protestos extrapolaram em São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, houve confronto entre membros de torcidas organizadas que se uniram para manifestar contra o governo Bolsonaro e apoiadores do presidente, em plena avenida Paulista, em frente ao Masp. Separados por um cordão de policiais militares, os oponentes trocavam ofensas sem nenhum pudor, gritando palavras de ordem desconexas, sem um pretexto claro. Ora foram pedidos para o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), prisão aos comunistas e críticas à imprensa, pelos membros da direita; ora foram palavras de abaixo o fascismo e fora Bolsonaro, pelos opositores. Tudo num balaio só.
Enquanto isso, o país segue na sua subida vertiginosa no ranking das nações em número de mortos por Covid-19. Já somos o quarto do mundo, tendo passado a França e a Espanha neste final de semana. À nossa frente, apenas Estados Unidos, Reino Unido e Itália. É uma liderança pouco atrativa para um país sério e promissor. Mas por aqui, dependendo da postura do governo federal, parece uma estatística irrelevante. O que vale mesmo é desviar do foco da crise sanitária mundial para colocar lenha numa fogueira político-partidária sem nenhum senso de oportunismo. No próximo domingo, certamente, Bolsonaro vai surpreender com mais uma aparição provocativa em público. Até lá, o país, se mantiver a quantidade diária de mortos dos últimos quatro dias, brigará pela medalha de prata. É triste, mas é verdadeiro.