A Europa pode enfrentar uma disparada de infecções por Covid-19 nas próximas semanas devido aos protestos em massa ocorridos no continente nos últimos dias, disseram, na quinta-feira passada, em Bruxelas, autoridades e especialistas da União Europeia.
Dezenas de milhares de manifestantes se reuniram em grandes cidades europeias recentemente para protestar contra o racismo após o assassinato do afro-norte-americano George Floyd, sob custódia da polícia dos Estados Unidos.
"Se você aconselha todos a ficarem a um metro e meio uns dos outros e no final todo mundo fica perto dos outros, se abraçando, então não tenho um bom pressentimento disso", disse, em uma conferência, Jozef Kesecioglu, que preside a Sociedade Europeia de Medicina de Tratamento Intensivo.
Indagado se pode haver um aumento de infecções na próxima quinzena, ele respondeu: "Sim, mas espero estar errado". A maioria das 27 nações do bloco já passou pelo pico da epidemia e está reabrindo negócios e fronteiras gradualmente porque a doença recuou nas últimas semanas. Antes dos protestos recentes, cientistas acreditavam em uma segunda onda só depois do verão, mas as aglomerações podem afetar esta tendência positiva.
"Como em qualquer doença respiratória infecciosa, eventos em massa podem ser uma grande rota de transmissão", disse à agência de notícias Reuters, Martin Seychell, autoridade de saúde da Comissão Europeia, quando questionado sobre a possibilidade de uma segunda onda precoce desencadeada pelas manifestações. O vírus ainda está circulando, mas em índices menores do que há algumas semanas, explicou.
A probabilidade e o tamanho de uma segunda onda dependeriam da manutenção eficiente das medidas de distanciamento social e de outros fatores, muitos dos quais ainda são desconhecidos, afirmou ele.
A Comissão Europeia recomendou uma reabertura gradual e parcial das fronteiras, entre 15 de junho e 1º de julho. A direção do bloco sugere a elaboração de uma lista comum de países fora da União, para os quais as restrições possam ser levantadas.
Independentemente da proposta da Comissão, a última palavra cabe sempre aos Estados-membros. A União Europeia encerrou as fronteiras externas a todas as viagens "não indispensáveis" no dia 17 de março deste ano.
Confrontada com a decisão de Portugal e Espanha de manter as fronteiras comuns fechadas até ao fim deste mês, a comissária europeia responsável pelos Assuntos Internos, Janez Lenarcic, disse que o importante é que a livre circulação esteja reposta até ao início de julho.