O roteiro é muito semelhante em anos eleitorais: os primeiros meses são marcados pela busca dos partidos pelos candidatos que mais ofereçam estrutura; passados alguns meses, o foco é a apresentação dos concorrentes. Os comícios ficam para o segundo semestre do ano, quando também são realizados os debates. A reta final é marcada pelas últimas cartadas dos pretendentes. Outubro, as eleições. Depois disso, certa tranquilidade para os eleitos, experiência para os que tiveram os planos frustados e alívio para uma parte e frustração para outra da população.
Mas, não em 2020. Não com o coronavírus. O roteiro que vem sendo escrito diariamente, ao alcance dos olhos da população, é marcado por incertezas e pela sensação clara de que não estamos em ano eleitoral. Há, ainda, para os pretendentes a cargos públicos e àqueles que acompanham política com mais afinco, o sentimento de uma corrida eleitoral diferente de tudo que já foi vivido.
As notícias sobre o tema ficam sempre em segundo plano em detrimento do crescente número de casos e mortes, causados pela Covid-19. Em junho, por exemplo, as manchetes dos jornais, bem como as postagens nas redes sociais, seriam muito mais voltadas para as eleições municipais do que vem acontecendo, em um cenário comum. Apesar de manter o calendário eleitoral até o momento, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não descartou a possibilidade de adiamento da votação, sendo, no melhor dos cenários, remarcadas para novembro ou dezembro.
Neste panorama, a discussão sobre a digitalização do voto é outro ponto fundamental. O voto por smartphones, portais, ou qualquer que seja a ferramenta que viabilizaria o voto sem a necessidade de sair de casa, precisa ser considerada já para 2020. Entretanto, no país em que há uma significativa desconfiança da legitimidade de apuração das urnas eletrônicas, pensar em eleições digitalizadas fica cada vez mais distante, travando um importante avanço.
Enquanto as notícias sobre as eleições estão em segundo plano, o calendário eleitoral avança e, em breve, o voto será necessário novamente. De que forma? Ainda não sabemos.