Essa semana, um motorista de Uber se envolveu num acidente e atropelou uma criança. O motorista perdeu o controle da direção após dormir ao volante depois de trabalhar por mais de 12 horas seguidas.
Não são raras as histórias de motoristas de aplicativos que dirigem dez, 12, 14 horas por dia. Além das histórias absurdas em que marido e mulher, filho e mãe se revezam no mesmo veículo em turnos ininterruptos. Sem descanso semanal, sem férias, sem qualquer direito em caso de acidente, doença, furto ou roubo.
Muita gente acha bonito, mas o que assistimos e a precarização das condições de trabalho. Muitos dirão que é melhor trabalhar assim do que ficar desempregado e sem renda. Desempregado o motorista já está, pois não há vínculo de emprego formal com o aplicativo. Já a renda, é preciso fazer as contas, pois a despesa com a mão de obra, o veículo, sua manutenção e combustível são do próprio motorista. O aplicativo cobra 25% em média apenas para direcionar as viagens. Muitos motoristas na verdade pagam para trabalhar.
O lucro vem depois de deduzir todas as despesas e suas horas de trabalho, sim, porque o tempo é o único ativo do trabalhador, ele vende seu tempo. Sem qualquer garantia o trabalhador em aplicativo tem sua relação de trabalho precarizada.
O que a sociedade e os trabalhadores levaram décadas para assegurar como direitos mínimos para não só trabalharem, mas também viverem com dignidade, vem sendo destruído pela visão de que, na sociedade atual, a tecnologia pode achatar as conquistas trabalhistas e deixar o trabalhador sem qualquer garantia mínima. Não é bonito, saudável ou seguro trabalhar 12 horas todos os dias, o trabalhador adoece, há risco de acidentes e toda sociedade perde. É o que acontece com costureiros bolivianos que trabalham 12 horas por dia em troca de uma cama e comida, a única diferença é que as oficinas de costura não são aplicativos. Vejam os entregadores de comida dormindo nas ruas com suas bicicletas, esse não é o novo mercado de trabalho que queremos.