Quando eu era menino, perto de minha casa, nos arrabaldes da cidade, havia um bar que adquirira fama pelas confusões que por ali aconteciam.
Nunca vi, mas soube, que ali, em razão de pequena mesa de bilhar, depois de algumas talagadas e impropérios, o "pau quebrava", os tacos voavam, mesas e cadeiras eram arremessadas. Diziam até que, volta e meia, alguém era atirado porta à fora estatelando-se na rua.
Nada que no dia seguinte, obedecendo as regras que os regiam, os bêbados de ontem não se desculpassem e continuassem as partidas, até nova disputa física.
Também era conhecido o "seu Nenê", velhote calmo, que, como de costume então, à tardezinha colocava a cadeira defronte sua residência cumprimentando a todos. Volta e meia, em conjunto, íamos atormentá-lo.
Coração grandioso, conversava conosco por um tempo, até que obedecendo a um código não estabelecido, um de nós lhe perguntava: "Mas, nenezinho com essa idade"?
Cara fechada e voz impostada respondia: "Vai procurar pai, moleque", e todos, rindo as escancaras, saíamos as carreiras do local em busca de novas estrepolias!
Nossa turma era unida! De diferentes classes sociais - se é que se pode falar de castas na esquecida periferia -, não fazíamos predileções ou julgamentos. Só tínhamos por meta o divertimento: o jogo do pião, da bola de gude, o empinar de pipa, e, principalmente, correr livres pelas ruas!
No início da semana, li comentários sobre o ministro da Educação, um tal de Weintraub, que respondendo a um interlocutor na rede social mandou-o" procurar pai" - e aí achei que ele tinha conhecido o velho Nenê! A outro, condenou a ter feições de "mistura de tatú com cobra", coisas que nem em sonhos diríamos aos irmãos antigos! Desconsiderou uma moça, dizendo que era filha de "égua desdentada e sarnenta que habitava estábulos".
Aí tive certeza de que não passara por Bauru! Frase dessas não mereceria contemplação na ética própria dos embriagados no "Boteco do Zé"!
Decepção.