Estamos completando hoje três quartos do calendário atípico de um ano atribulado politicamente. Nas esferas federal e estadual paulista, seus respectivos comandantes, Jair Bolsonaro e João Doria, trilham caminhos distintos pela própria origem que os levou ao poder. Ambos cumprem o primeiro ano de mandato no Executivo. Bolsonaro, de seu lado, surge nas fileiras militares e seguiu carreira até a patente de capitão, sem grande projeção no Exército, a não ser pela forma impensada de expressar suas ideias, que lhe rendeu, inclusive, 15 dias de prisão por criticar os salários dos oficiais, em 1986.
Dois anos depois, iniciou jornada legislativa como vereador no Rio de Janeiro até cumprir seis mandatos de deputado federal pelo Estado homônimo antes de alcançar a Presidência, no ano passado. Neste percurso, se há algo que possa resumir o seu estilo é o destempero e a radicalização. Seu último embate, contra o octogenário cacique Raoni, ao qual criticou de maneira pouco cortês em seu discurso na abertura da Assembleia da ONU, na semana passada, é, no mínimo, lamentável, ao mostrar total falta de respeito com a história de um índio que já fez muito pelo país.
De outra estirpe, Doria construiu sua história na área de Comunicação, talvez, por isso, sua tendência explícita pelo marketing. Tem uma capacidade incrível de "anunciar" obras e eventos muito antes de eles saírem do papel. Assim foi, na semana passada, em Guararema, quando falou sobre a construção de moradias populares, que costuma tocar a fundo no sonho das pessoas, sem, no entanto, definir local e data para a concretização da promessa. Também propôs uma reformulação radical no sistema educacional do Estado e conseguiu "vender" a ideia como quem vende guarda-chuva em dia de tempestade. No dia seguinte, todo mundo esquece.
Já nas plêiades municipais, o momento político é outro. Prefeitos e vereadores entram no último ano de mandato e estão mais de olho na reeleição do que propriamente na produção de benfeitorias. Como todos têm um quê de Bolsonaro e de Doria na sua essência, daqui para frente é de se esperar disparates e palavras ao léu.