O "escritório" dele é na quadra. A afirmação, que é bem parecida com a frase utilizada em uma música famosa, veste perfeitamente a rotina do campeão paralímpico e coordenador do Centro Municipal de Paradesporto Professor Cid Torquato, Dirceu Pinto. É dali, na beira das quatro linhas do poliesportivo, que ele controla o dia a dia de uma das mais importantes estruturas paradesportivas do Brasil. O espaço recebe entre 300 e 400 pessoas com deficiência diariamente. "Eu prefiro ficar aqui no meio das pessoas. Até tenho uma sala, mas... sala fechada não é comigo. E as pessoas me conhecem mais como Dirceu campeão e não o Dirceu coordenador. Por isso, eu gosto de estar sempre aqui", explicou o atleta.
Dirceu trilhou um caminho de sucesso dentro do paradesporto. Foi o primeiro atleta de Mogi das Cruzes a conquistar medalhas em uma paralimpíada. O seu triunfo, em 2008, em Pequim, pode-se dizer que foi a chegada à luz situada no final de um imenso túnel escuro. Isso porque um ano e meio antes, o paratleta, que nem pensava em praticar bocha adaptada, vivia uma depressão profunda. Não via mais sentido para a vida. "Em 2007, eu comecei a praticar bocha adaptada socialmente. Comecei somente para não ficar em casa. Nem gostava muito e vivia pensando: 'que graça tem um monte de deficiente ficar jogando estas bolinhas'. É, mas a coisa foi ficando séria. Acabei sendo chamado e fui para a Copa do Mundo, no Canadá. Fui sem treinar e fiquei em oitavo lugar. Eram mais de cem atletas no total. Daí, eu pensei: 'Se eu treinar forte, consigo subir ainda mais'. Quando dei por mim, a depressão tinha ido embora. Um ano depois eu estava na paralimpíada de Pequim com duas medalhas de ouro e uma de prata", detalhou.
Pode-se afirmar ainda que a conquista paralímpica de Dirceu, em 2008, tenha pavimentado o caminho para a chegada dos investimentos voltados às pessoas com deficiência em Mogi. Desde 2010, a vida de cerca de 1,2 mil pessoas com algum tipo de deficiência foi transformada na cidade. O atleta Fabio Souza Silva é um destes exemplos (leia mais na página seguinte). O atleta, no entanto, se incomoda com tal afirmação e, de forma generosa e grata, traz outras pessoas para o rol dos responsáveis pelas conquistas. "Não digo que foi o Dirceu que abriu este caminho. Sempre digo que estou finalizando o trabalho de uma grande equipe; outros tentaram fazer isso, um deles é o Tradef (Trabalho de Apoio ao Deficiente), que fazia um trabalho importante e já tinha este desejo, assim como outras entidades", justificou.
Hoje, à frente da estrutura paradesportiva de Mogi, o medalhista tenta fazer com que outros portadores de deficiência, pelo menos, saiam de casa para treinar. Aliás, lá atrás, segundo Dirceu, quando o atual deputado federal Marco Bertaiolli (PSD) ainda nem era prefeito, um acordo entre ele e o político teria sido firmado na garagem de sua casa. Na ocasião, o atleta da bocha já havia conquistado as medalhas em Pequim. "Um dia, o Bertaiolli foi na minha casa. Ele foi ver como eu consegui treinar na garagem da minha casa. Naquele dia, ele disse: 'Dirceu, têm muitas pessoas nas condições em que você se encontrava antes, dentro de casa. Topa fazer um trabalho comigo para tirar estas pessoas de casa? Para que elas vivam o mesmo que você está vivendo?'. Naquele dia, eu assinei um termo com ele de comprometimento que, se caso ele ganhasse as eleições, construiria um Centro de Paradesporto", relembrou.
Em 2010, Bertaiolli, já prefeito de Mogi, chamou Dirceu para assumir os trabalhos do paradesporto na cidade. "Treinávamos lá no Ginásio Hugo Ramos. Era tudo meio improvisado, tanto que usávamos o estacionamento e as pessoas, inclusive, até tiravam os carros lá para nós. As pessoas foram chegando, iam no ginásio para conhecer o nosso trabalho, e vários deficientes começaram a praticar esporte. Em 2014, enfim, como foi prometido pelo Bertaiolli, o Centro de Paradesporto foi inaugurado e aqui estamos nós", detalhou.