Em 1998 fui assaltado em uma churrascaria na Marginal. Por acaso, era uma sexta-feira, 13. No episódio do assalto, quantas curiosidades e quantas conclusões puderam ser tiradas: dois dos marginais, quando vieram nos assaltar, (era um grupo de dez), nós os reconhecemos, pois estavam jantando em uma das mesas ao lado. E é isto que se pode chamar de jantar com o inimigo.
É muita cara-de-pau e ousadia, assim como certos políticos que dão maus exemplos. Aliás, um dos marginais apontou uma arma para minha cabeça e disse: "dá o dinheiro, vagabundo". Foram os cinco minutos mais longos da minha vida. Com os assaltantes fazendo o "rapa", numa verdadeira ousadia e impondo suas humilhações, cheguei a pensar: "terá chegado a minha hora?"
Bem, fala-se tanto em democracia. A democracia é um mito? Entretanto, a morte é a coisa mais democrática que existe, pois todos morrerão um dia e o fim será o mesmo. Não será melhor morrer democraticamente do que ser taxado de vagabundo tanto por marginais como pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da época? (pois me aposentei com menos de 50 anos e o chefe do Executivo federal afirmou: "quem se aposenta com menos de cinquenta é vagabundo").
O interessante é que o tempo não passava e algumas senhoras começaram a gritar e imaginei: "vai haver fuzilaria". E assim permanecemos: silentes, preocupados, numa mistura de pânico e calma aparente, aguardando o futuro e imaginando se os nossos anjos-de-guarda estariam ou não de plantão. Embora ninguém saísse ferido, eu podia sentir a minha respiração mais forte, os segundos não passavam, era como se os relógios tivessem paralisados.
Os lares se tornaram modernos presídios: são grades e muros altos, porteiros eletrônicos, cercas elétricas, câmeras de vídeo, guardas armados em guaritas, vigias de ruas, etc... Tudo visando salvaguardar pessoas e seus patrimônios. É a política do Estado Capitalista Neo Liberal Tecnológico Globalizante. "Sonhos de uma Noite de Verão" (William Shakespeare). God send me an angel.