Ao comporem a bela canção "Saudade dos aviões da Panair", em 1975, Milton Nascimento e Fernando Brant eternizaram um dos desejos mais antigos da humanidade: o de voar. Em um dos trechos da música - "A maior das maravilhas foi/ voando sobre o mundo/ nas asas da Panair" -, a dupla relacionou a imagem do belo à sensação de liberdade que o voo proporciona. Essa mesma emoção foi a responsável por levar um bom número de participantes ao 31º Festival de Voo Livre, evento realizado no último final de semana no Pico do Urubu, em Mogi das Cruzes. Durante dois dias, além dos indomáveis praticantes de parapente, o público presente também pôde sonhar com a liberdade.
Os esportes radicais ganharam espaço nos últimos anos, no mundo inteiro, justamente porque levam as pessoas a vivenciarem experiências que as tiram de uma rotina estafante do trabalho e das exigências do dia a dia. Além disso, colocam o ser humano em contato direto com a natureza, não exatamente desafiando-a, mas incentivando a uma integração com o meio ambiente e oferecendo um grau de satisfação sem igual.
A mitologia grega já associava o sonho de voar ao prazer. Ícaro, não satisfeito em fugir da prisão em Creta, na Grécia, e equipado com um par de asas feito com penas de gaivota coladas com cera de abelhas, quis voar ainda mais alto, embalado pelo sentimento de liberdade. Mas foi punido pela imprudência e acabou caindo no mar Egeu ao se aproximar do Sol e ver suas asas derreterem. A analogia é válida para se entender como as ações impensadas conduzem ao fracasso. Por outro lado, não se aventurar na vida pode, igualmente, levar à frustração da falta de iniciativa, como ensinam os provérbios chineses.
Seguir o exemplo do esporte é sempre uma excelente fórmula para se viver em busca de um objetivo, seja no âmbito pessoal, profissional ou político. Instintos como superação, competição, persistência, aprimoramento e fair play precisam ser trabalhados na mente e no caráter para se melhorar a performance. Há um lado racional no ensinamento, mas não se pode, jamais, deixar de sonhar. Afinal, voar é preciso.