A língua do presidente talvez cause mais estrago ao país do que as queimadas na Amazônia. As declarações de Bolsonaro quanto aos incêndios e suas consequências foram recebidas de maneira extremamente negativa no exterior. Primeiro porque, diferente do Brasil, no exterior as pessoas recebem com relevância o que diz um presidente de República. Aqui, ninguém mais dá importância ao que Bolsonaro fala.
O excesso de polêmicas lhe retirou a credibilidade e importância do discurso, já tido como folclórico. Mas, no exterior, pelo menos ainda, não se tem essa percepção e se leva a sério o que ele diz. A imagem que se criou é de que nosso presidente pouco se importa com a preservação do ambiente natural. Vende a ideia que a preservação é um óbice ao crescimento brasileiro, que temos que explorar os recursos naturais e que esse é o novo rumo do Brasil. As declarações sobre as queimas indicaram isso e o resultado foi uma forte reação internacional. Acuado, inclusive internamente por quem tem exata ideia do custo econômico do estrago, o presidente viu a necessidade de fazer um pronunciamento oficial em rede nacional. Lá disse o óbvio, que, como governo, irá fazer o que tem que ser feito. O prejuízo à imagem do Brasil já estava consolidado.
Há temor, e não infundado, de retaliações comerciais em razão da postura quanto à preservação ambiental. A floresta amazônica é mundialmente conhecida por sua extensão e biodiversidade, cujo valor é inestimável, um patrimônio da humanidade. Tratar a questão ambiental com desdém ou apontar o erro de outros países que também já destruíram o ambiente natural não é a postura que se espera de um mandatário máximo.
A fatura vai chegar, mas quem vai pagar, para variar é o Brasil e não o seu mandatário. Precisamos de menos discursos incendiários e mais ação, inclusive na área ambiental, com repressão ao desmatamento ilegal desenfreado e às queimadas criminosas. Pior do que o fogo na floresta é a língua, com poder destrutivo muito maior.