O Brasil está perdendo a guerra para um mísero mosquito capaz de transmitir doenças que deixam graves sequelas até mesmo nos bebês ainda dentro das barrigas das mães, e que pode, inclusive, matar.
A população está preocupada. E tem motivos para tal. O crescente número de casos de microcefalia, principalmente agora que a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo investiga seis casos de má-formação cerebral em recém-nascidos possivelmente relacionados à infecção pelo vírus zika, transmitido pelo Aedes aegypti, alimenta esta preocupação.
São bebês nascidos nas cidades de Campinas, na vizinha Guarulhos, em Mogi-Guaçu, Ribeirão Preto, São Paulo e Sumaré. No caso de São Paulo, a gestante tem histórico de viagem ao Nordeste. Ela chegou a São Paulo com 37 semanas de gestação. De 17 de novembro até 10 de dezembro, os municípios paulistas notificaram 46 casos de microcefalia ao Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado.
A situação, de fato, é crítica, porém, mais do que as doenças em si, a disseminação de meias verdades e boatos, principalmente por redes sociais, piora ainda mais este quadro. Talvez em alguns casos até haja a intenção de ajudar, mas há muitos pseudos especialistas defendendo inverdades. Essas práticas somente contribuem para desinformar e propagar ainda mais os vírus. Algo parecido com a campanha não dê vacina aos seus filhos. Uma idiotice tão grande quanto dizer que o zika é doença de nordestinos.
Como se trata de um problema recente e ainda pouco estudado, a atmosfera criada faz com que haja muitas perguntas sem respostas das autoridades. E é justamente nesta brecha que entram os "especialistas" formados a partir de 140 caracteres.
Chegou a hora do País criar um pacto contra este maldito inseto e também contra aqueles que espalham os vírus das falsas notícias. O combate ao Aedes precisa ser prioridade do governo, mas também da população.
O quadro é crítico e exige ações urgentes, mas não pontuais, que duram apenas até a presença dos fotógrafos. Depois de mais de uma década do reaparecimento do Aedes ainda não temos uma estratégia de combate nacional, coordenada e unificada. Enquanto as políticas nas primeiras décadas do século 1920 eram voltadas para o controle da dengue, hoje as políticas públicas, voltadas para esta doença, têm como objetivo o controle e não mais a erradicação.
A sociedade precisa fazer a sua parte nesta rede e deixar de negligenciar ações para inibir a reprodução do mosquito, além de não alardear ainda mais um povo que ainda consegue estabelecer como verdade absoluta um comentário ou uma falsa notícia publicada nas redes sociais.