Neste Dia do Professor, celebrado hoje (15), dois educadores da região compartilham reflexões sobre o cotidiano e os desafios da profissão. Leandro Narciso, que ensina japonês na Escola Estadual (E.E.) Professor Firmino Ladeira, em Mogi das Cruzes, e Irene de Almeida, professora de creche e do Ensino Fundamental da rede municipal de Suzano, afirmam que ensinar é uma missão que exige dedicação, criatividade e sensibilidade. Eles defendem uma maior valorização da profissão.
Apesar das trajetórias diferentes, os dois compartilham a mesma motivação: fazer parte do desenvolvimento dos alunos. Narciso, com mais de uma década de atuação, leciona para jovens e adultos e vê a docência como uma missão que exige persistência diante das limitações do próprio sistema escola. Irene, que começou a dar aulas há três anos, avalia que ser professora vai além de ensinar conteúdos, tendo como missão apoiar e acompanhar o desenvolvimento integral dos alunos, lidando com questões escolares, emocionais e até sociais.
Desafios e vocação
Narciso é professor da rede estadual desde 2013. Atualmente, leciona em quatro escolas — três na capital e uma em Mogi, a E.E Firmino Ladeira, na Avenida Brasil. Na unidade mogiana, ele ministra aulas de japonês pelo Centro de Estudo de Línguas, atendendo alunos de diferentes bairros. Formado em Filosofia, Teologia, Pedagogia, Letras, Educação Inclusiva e Libras, Narciso avalia que o principal desafio atualmente para o professor é o tratamento do próprio Estado. "Perdas de direitos trabalhistas afetam diretamente a atuação", destacou.
Para o professor, o Brasil de forma geral reconhece, no discurso, que a educação é prioridade, mas, na prática, falha em valorizar os professores. “A base da convivência vem da família, mas o professor, ao chegar na escola, muitas vezes precisa fazer dois papéis: ensinar o conteúdo e também educar para o respeito. Temos casos infelizmente em escolas de professores que ficam doentes por situações vividas em salas", afirmou, destacando também que falta de comprometimento de parte dos estudantes. “Está faltando esse despertar do sistema. Os alunos vêm para a escola por obrigação, para cumprir tabela", pontuou.
Porém, apesar das dificuldades, Narciso diz que a profissão é uma vocação: “Às vezes falta material e temos que tirar dinheiro do bolso para projetos. Mas, mesmo assim, o professor é feliz na medida do possível. O ato de ser professor é uma das vocações mais lindas, e enquanto eu for professor quero transmitir isso".
Nas aulas de japonês, o professor busca levar valores da cultura do país como respeito e disciplina. "Lembramos os costumes do Japão. Lá eles valorizam que todos passam pelas mãos do professor, desde o presidente ao morador de rua”, afirma, ressaltando que o país asiático compreendeu que professores não são só transmissores de conteúdo. "A veneração é profunda. Lá o professor não ensina só a matéria, mas dá orientações para a vida", salienta.
Como forma de valorizar os educadores, Narciso organiza todos os anos um evento com a participação dos alunos. “Em Mogi, estamos preparando uma nova homenagem para a semana que vem, onde os meus alunos irão até outras salas de aula entregar homenagens para os professores, porque queremos também incentivar essa visão de valorização para as outras turmas. Homenagear os professores e lembrar desta data é uma obrigação. Apesar de estarmos em tempos de esquecimento, até pelo Estado, precisamos resgatar a valorização da profissão", finalizou.
Paixão pela profissão
Irene se inspirou a seguir a carreira docente em 2013, quando trabalhava em um abrigo de crianças e adolescentes em Suzano e conheceu uma menina de 11 anos que não sabia ler nem escrever: “Ela copiava palavras em seu caderno, mas não conseguia lê-las, e essa experiência me inspirou a ajudar crianças a descobrirem o prazer de aprender”, lembrou.
A professora contou que entrou na faculdade em 2014, onde começou sua trajetória no ensino: "Começar a carreira não foi fácil por falta de experiência, então decidi me preparar para o concurso de Suzano. Em julho de 2022, fui convocada e iniciei em uma turma do 3º ano (do Ensino Fundamental), enfrentando muitos desafios e aprendizados".
A necessidade de compreender o ritmo individual de cada aluno e adaptar constantemente as estratégias pedagógicas para incluir todos é fundamental, segundo a professora: “Aprendi que cada criança aprende de maneira única e que é essencial respeitar seu ritmo. Paciência, escuta ativa e criatividade são fundamentais para motivar e incluir todos os alunos”, explicou. Atuando com turmas de creche e do 5º ano, ela reforçou que a atenção individualizada é essencial para o desenvolvimento dos alunos, permitindo que cada criança acompanhe a turma e participe ativamente das atividades escolares.
Para a professora, é importante contar com recursos adequados e suporte institucional para que os docentes possam atuar de forma eficiente e saudável: “Precisamos de valorização profissional, formação continuada e suporte pedagógico e emocional. Muitos professores estão adoecendo devido à sobrecarga e à pressão por resultados. Também é fundamental ter condições adequadas de trabalho, recursos suficientes e reconhecimento da sociedade para exercer a profissão com motivação e bem-estar”, concluiu.
Galeria
Foto 1 - Professor Leandro Narciso destaca a cultura japonesa de valorização dos professores - divulgação