São muitos os estereótipos associados ao envelhecer, como quando alguém diz que está velho para isso ou para aquilo. Um preconceito que tem nome: idadismo. Muitos desses termos, expressões, frases e situações que expressam a discriminação contra pessoas idosas estão reunidos no Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, lançado em dezembro de 2021.
A iniciativa do Glossário Coletivo é da Longevida, consultoria na área do envelhecimento, como parte da Campanha de Enfrentamento ao Idadismo "Lugar de pessoa idosa é onde ela quiser", lançada em outubro de 2021, em referência ao Dia Internacional da Pessoa Idosa.
O termo idadismo é uma tradução de "ageism", criado pelo geriatra norte-americano Robert Butler em 1969. Também chamado de etarismo, ageísmo, velhismo, é uma forma de preconceito sofrida por pessoas por conta da idade, sobretudo, em relação aos indivíduos mais velhos. Para muitos, o envelhecimento ainda está associado de forma equivocada a um período de perdas, solidão e isolamento. Enquanto, na verdade, a velhice é uma das etapas do curso de vida, um período de conquistas e desafios como a infância, a adolescência e a juventude.
"A ideia de fazer o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo foi de reunir palavras e expressões que muitas vezes desconhecemos e não temos a noção de quanto elas causam sofrimento nas pessoas idosas, tais como: perda de autoestima, aumento do risco de solidão, depressão e em alguns casos até provocam o suicídio. E tudo isso é mais frequente do que imaginamos", explica Sandra Gomes, diretora da Longevida e coordenadora do Glossário.
O material foi elaborado em parceria com a Prefeitura do Recife, por meio da Gerência da Pessoa Idosa; Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo; Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos de São Paulo; Casa Vovó Bibia de Apoio à Família, também de Recife (PE), e o Movimento Atualiza. A publicação está disponível para download gratuito no site da Longevida - www.longevida.ong.br.
De acordo com Sandra, a Longevida tem como princípio a disponibilidade ao diálogo para a construção de suas ações. "Neste momento entendemos o quanto seria importante a participação de forma colaborativa de vários parceiros, pois a integração de diferentes atores sociais como o governo, os Conselhos de Direitos das Pessoas Idosas, a universidade, serviços de atendimento e a sociedade civil fizeram deste material um feito inédito".
O Glossário, segundo a coordenadora do projeto, é uma ferramenta educativa para sensibilizar a sociedade de como o idadismo é reproduzido e muitas vezes não percebemos. "Temos um longo caminho pela frente e vamos acompanhar à luz das diretrizes da do documento Década do Envelhecimento Ativo (2021-2030) que devemos mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento", conclui.
Enfrentamento
Além do Glossário Coletivo, as ações da Campanha de Enfrentamento ao Idadismo incluíram lives sobre o duplo preconceito que muitas vezes envolve a pessoa idosa, em relação ao capacitismo (preconceito contra a pessoa com deficiência), ao racismo, à população LGBTQIA e a feminização da velhice. As lives estão disponíveis no canal do YouTube da Longevida.
Velhice
Uma demonstração de como o preconceito contra a pessoa idosa é mundial, foi vista com a tentativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) de incluir o termo "velhice" na atualização da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), que entra em vigor neste mês. Decisão que foi revista em dezembro.
O Movimento "Velhice não é Doença", que mobilizou nos últimos meses profissionais e instituições do Brasil e de outros países, foi determinante para a mudança feita pela OMS. No lugar do termo "velhice" foi incluído na classificação "Ageing associated decline in intrinsic capacity", que pode ser traduzido como "envelhecimento associado à capacidade intrínseca em declínio".