O serviço de limpeza do Tietê é o primeiro passo para que o dia do rio - celebrado hoje e que dá nome à região - possa ser comemorado no futuro. O curso d'água será desassoreado em um trecho de cerca de 5 quilômetros, entre o córrego do Sabino, no bairro do Cocuera, e a ponte da avenida João XXIII, no distrito de César de Souza, em Mogi das Cruzes. Os serviços de desassoreamento ainda estão em processo de licitação, portanto, não possuem prazos para início.
Até lá, há pouco para se comemorar no Dia do rio Tietê. Mas, ainda que o cenário seja desanimador, "há esperanças e a vida pode voltar a fluir no principal caudal da região e do Estado", ao menos esse é o pensamento de Alexandre Hilsdorf, professor e pesquisador da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) que coordena o núcleo de pesquisas em genética e conservação de peixes.
Hilsdorf contou à reportagem que um dos principais indicativos de vida no rio são os peixes que nele habitam. No entanto, depois de décadas de degradação, cerca de 40% do Tietê é formado por esgoto, mas na bacia de cabeceiras Alto Tietê - porção dos rios afluentes próxima à nascente, em Salesópolis, existe vida, e em abundância, 56 espécies nativas foram catalogas, desse total, duas são endêmicas, ou seja só vivem na região.
"O Tietê nasce aqui, ele tem vida, de Mogi das Cruzes em diante ele começa a deteriorar e quando ele entra na cidade de São Paulo já morre, só podemos falar que o rio tem vida quando tem peixe", explicou Hilsdorf. Antes de chegar à capital, o rio ainda atravessa Suzano e Itaquaquecetuba.
Segundo o professor, a ressurreição do Tietê depende da volta desses cardumes, isolados nas cabeceiras, nadando livremente nos trechos urbanos do rio, e entre estes peixes há um em especial. "O tabarana deveria ser considerado o nosso panda do Tietê, é um peixe muito símbolo da possibilidade de recuperação. Ele ainda vive acima de Mogi das Cruzes, mas antigamente subia o rio Tamanduateí e desovava na altura da Estação Ipiranga", explicou o professor, se referindo à estacão de trem da Linha 10-Turquesa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em São Paulo.
Para o especialista, há exemplos de recuperação de rios a serem seguidos, entre eles o rio Tâmisa, que corta Londres, na Inglaterra. Segundo o pesquisador, o rio inglês não atravessou a Revolução Industrial sem castigos. Por mais de dois séculos, a partir de 1750, foi extremamente poluído, mas depois de um forte trabalho de conscientização e pesados investimentos, o rio foi recuperado, por volta de 1970 os londrinos viram o retorno dos cardumes de salmões, indicando a ressurreição do rio.
"Costumo dizer que o mesmo poderá ser constatado por nós, quando o nosso tabarana voltar a fazer a migração que fazia antigamente, subindo o Tamanduateí e desovando no Ipiranga. Será para nós como o reaparecimento dos salmões no Tâmisa", contou Hilsdorf.
Mas para acontecer no Tietê o que ocorreu no Tâmisa, e a data se tornar mais do que um dia para relembrar os problemas do rio, o professor ressaltou que é preciso mudar nossa postura em relação ao rio, encarar a situação e ter a determinação de mudar, para isso, também é necessário muita vontade política e investimentos, assim o dia do Tietê poderá ser celebrado.
*Texto supervisionado pelo editor.