Uma semana após a reabertura do comércio de rua e do shopping de Mogi das Cruzes, infectologistas se mostram preocupados com as filas e aglomerações e reforçam o potencial risco no aumento do número de contaminados e de mortos pelo novo coronavírus.
O movimento intenso registrado na sexta-feira passada e no final de semana diminuiu ao longo dos últimos dias. Entretanto, a preocupação dos especialistas em saúde é com a "nova demanda" de contaminados que pode ser gerada a partir da reabertura do comércio no município e no Alto Tietê.
O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, André Giglio Bueno, acredita que com a reabertura do comércio a circulação de pessoas será mais intensa, o que propiciará mais aglomerações. Com isso, em algumas semanas após a retomada do movimento, há grandes chances de ter um aumento ainda mais expressivo do número de contaminados. "Certamente é algo que nos traz bastante preocupação. Estamos num momento na curva ascendente no número de casos", confirmou o especialista.
O mais correto a ser feito, segundo o infectologista, seria esperar uma diminuição no número de casos, consequentemente a queda da demanda por leitos de enfermarias e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para que esses novos casos da Covid-19 sejam absorvidos nas unidades hospitalares. "Fazer isso no momento em que a curva de casos está ascendente não é algo racional e pode deixar a gente numa situação bem complicada nas próximas semanas", completou.
No mesmo sentido, a médica infectologista Juliana Barreto informou que as filas e aglomerações em estabelecimentos comerciais - como as que a reportagem constatou há uma semana em Mogi - representam um "risco enorme" para a população. Para a especialista, a sociedade precisar ter consciência que esse não é o momento de se aglomerar. "É preciso que a pergunta 'qual a real necessidade de ir a esses locais?' tem de ser feita pela população. Isso representa um grande risco", afirmou.
Em relação às aglomerações, a especialista confirmou que implicará no aumento do número de casos, óbitos, e pode levar ao colapso do sistema de saúde público e privado.
O professor e médico infectologista Bueno informou ainda que o Estado de São Paulo vai contra o tempo de reabertura praticado na maioria dos países do mundo. Segundo ele, em geral, os países aguardaram o momento de estabilização ou redução dos casos para que fossem liberadas as atividades comerciais não essenciais.
Pico
O secretário municipal de Saúde de Mogi das Cruzes, Henrique Naufel, disse na semana passada que Mogi já estava no período mais complicado em relação à pandemia do coronavírus e que acreditava que, no final desse mês, a situação começaria a voltar ao normal. Naufel ainda destacou o preparo do sistema de saúde do município para suportar a demanda de novos casos.