Aos 13 anos, após uma viagem de navio que durou mais de dois meses, o japonês Yokichi Kimura desembarcou em terras brasileiras. Se estabilizou na região de Paraguaçu Paulista, no interior do Estado e, lá mesmo, começou a trabalhar na roça. "Meu avô sempre nos contou que quando ele tinha uns 17 anos suas mãos eram repletas de feridas e por conta disso ele quase não conseguia lavá-las. Eu jamais esqueci isso", contou o neto.
Em 1957, o progenitor, já casado e com quatro filhos - uma das crianças era a mãe de Yoshio - trocou o interior paulista pela cidade de Mogi das Cruzes. "Meu avô já praticava judô no Japão e deu continuidade quando morava no interior. Aliás, lá, a comunidade japonesa praticava judô, beisebol e atletismo. Em Mogi, meu avô montou uma academia na Escola Washington Luiz", explicou.
No entanto, Kimura queria colocar em prática a sua ideologia e, neste caso, com um grupo de amigos, acabou fundando o Judô Clube de Mogi das Cruzes que, no ano que vem completará 48 anos de vida. "O primeiro endereço do Judô Clube era a rua Flaviano de Melo, bem no centro. Passamos por outros endereços e hoje estamos na região do Alto do Ipiranga", detalhou.
Um dos braços direito do sensei durante todos estes anos foi um homem chamado Yoshiyuki Shimotsu, uma espécie de 'pupilo' do fundador do clube. "Ele é uma das pilastras do Judô Clube. É graças a ele que o clube perdura por todo este tempo. Mesmo na ausência do meu avô, foi o Yoshiyuki que sempre nos orientou, dando os puxões de orelha necessários e nos encaminhando, tanto dentro dos tatames como na vida", explicou Kimura neto.
Em 2010, em razão de um aneurisma no intestino, o avô de Yoshio faleceu deixando um legado não só para o judô mogiano, mas para a vida de muitos atletas que receberam a formação baseada na ideologia de vida do sensei. "Meu avô morreu dormindo. Era a madrugada de uma segunda-feira. Tudo o que eu sei foi ele que ensinou, inclusive ter fé. Eu sou católico. A minha família tem parte budista e minha irmã é evangélica, mas independentemente de tudo isso, como meu avô me ensinou, o importante é jamais perder a fé", finalizou.