Grave bem este nome: Fábio Souza da Silva. O caminho deste jovem mogiano cruzou com o do atleta Dirceu Pinto nos anos 90. O medalhista paralímpico tinha cerca de 14 anos e Fábio era um bebê. As famílias de ambos moravam no bairro Nove de Julho, na região rural de Mogi. Naquela época, Dirceu tomava conta da criança e, em troca disso, o pai do bebê liberava o adolescente para assistir televisão na casa dele. "Eu não tinha TV em casa e vivia com o Fabinho (Fábio) no colo. Ele chorava muito. Nossas famílias eram vizinhas", detalhou.
No entanto, o problema de Dirceu - distrofia muscular na cintura - começou a se agravar e sua família teve de se mudar para perto do centro de Mogi. Ele e Fábio perderam o contato e, somente depois de mais de dez anos, o caminho de ambos voltou a se cruzar. "Em 2010, soube que o Fabinho estava depressivo em casa. Ele deixou de andar após um acidente de moto e eu fui lá com o meu irmão. Cheguei e ele estava paralisado do peito para baixo e entregue em cima de uma cama. Não acreditei naquilo. Pedi permissão para a mãe dele e nós o levamos para o ginásio. Tivemos de pegá-lo à força porque ele não queria sair da cama. Mas sua mãe queria muito que nós o ajudássemos e autorizou que forçássemos", detalhou Dirceu.
No ginásio, o rapaz, em uma cadeira de rodas, foi colocado diante de uma mesa de tênis. Era o começo de uma história brilhante, não só dentro do paradesporto, mas uma verdadeira restauração na vida daquele jovem que até então estava sem perspectiva.
"Ele começou a jogar tênis de mesa naquele dia, de forma social mesmo. No final do dia, me perguntou se poderia voltar. E assim foi. Foi treinando, tomando gosto e hoje está prestes a conseguir uma vaga nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no ano que vem. A vida dele mudou. É casado, tirou habilitação, dirige. Se ele não saísse daquela cama naquele dia, iria morrer. Ele achava que a vida tinha acabado", relembrou Dirceu.
Além de Fábio, Dirceu também aposta em Maciel Santos, atleta da categoria BC2 da bocha adaptada. Foi o medalhista mogiano que convenceu Santos, que treinava na capital, a se mudar para Mogi. "Eu morava em Embu das Artes em 2010. Em um campeonato mundial, em Portugal, o técnico da seleção brasileira pediu para eu vir treinar em Mogi, no Clube Náutico. Foi aí que ele (Dirceu) disse que ia me treinar para eu disputar a Copa do Mundo, na Irlanda do Norte. Vendi minha casa em Embú das Artes e me mudei para Itaquera, mais perto de Mogi", detalhou.
Na ocasião, em 2011, Maciel ficou na terceira colocação. O objetivo, então, era treinar ainda mais forte para as Paralimpíadas de Londres, a ser disputada no ano seguinte. "Lá, eu consegui a medalha de ouro. Agora, moro aqui em Mogi das Cruzes, com a minha esposa e os dois filhos", definiu.