No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20), a presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) de Mogi das Cruzes, Jannes Rodrigues, defende que o enfrentamento ao racismo deve ser permanente. Segundo ela, há avanços no município, mas ainda é necessário ampliar o debate, fortalecer políticas públicas e envolver mais vozes. No mês dedicado à valorização da história e da cultura preta, Jannes convida a população a conhecer e participar do conselho.
Advogada há 12 anos e integrante do Coletivo Diversidade Alto Tietê, Jannes preside o COMPIR na gestão 2024-2026 e já havia participado como vice-presidente no biênio anterior. Ela explica que o órgão exerce papel estratégico na formulação e avaliação de ações do poder público. “O Conselho é deliberativo, normativo, monitorador e avalia as políticas públicas da cidade”, resume, destacando que o objetivo é contribuir na formulação, implementação e monitoramento da Política Municipal de Promoção da Igualdade Racial.
Criado em 2013, Jannes avalia que o COMPIR começou a ganhar mais visibilidade a partir de 2022, quando passou a promover eventos na cidade. “É uma forma de trazer visibilidade e ocupar espaços, começando com homenagens para dez mulheres negras engajadas na pauta, pessoas que fizeram história”, conta. Ela se refere ao ao evento Personalidades Negras Mogianas, que chega à sua segunda edição neste ano, com mostra no hall da Prefeitura e entrega de prêmio na Câmara no próximo dia 28.
Outro evento apoiado pelo Conselho foi o Festival da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, organizado pela Secretaria Municipal da Mulher no dia 31 de julho. A presidente do COMPIR destaca ainda o Festival de Culturas Pretas 2025, com uma programação ao longo deste mês promovida pela Prefeitura, com palestras, shows, apresentações, exposições, feiras, ações de conscientização, caminhadas e homenagens à população negra e tradições da cultura afro.
Além de participar de eventos, o Conselho promove o debate e propõe políticas públicas. Entre as propostas em andamento, Jannes diz que está sendo elaborado um projeto para coibir e punir práticas de racismo em empresas, lojas, órgãos públicos e unidades de saúde do município. A iniciativa foi apresentada à para a prefeita Mara Bertaiolli há cerca de dois meses. “Nossa principal ideia é trazer a conscientização. A ideia é levar aprendizado, que as pessoas conheçam as leis”, explica. A proposta prevê que o Conselho possa avaliar denúncias e encaminhá-las ao Ministério Público.
Jannes diz que o Conselho também defende que Mogi adote a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, prevista em lei federal. Segundo a presidente, houve uma reunião com a Prefeitura há cerca de um mês, e a proposta está em análise. “Uma medicação que faz efeito para uma pessoa branca pode não fazer efeito pra mim. Os médicos têm que estar preparados para caso não funcione. Existe uma lei federal e algumas cidades já aderiram, e nossa proposta é que Mogi também faça parte.”
Participação
Apesar dos avanços, Jannes aponta que o COMPIR ainda é pouco conhecido. Ela lembra que as reuniões são abertas e acontecem na última segunda-feira de cada mês, às 14h, na Casa dos Conselhos, localizada na rua Francisco Franco, 206. “Quando a gente participa de qualquer evento público, a gente convida a população para participar do Conselho. Acredito que a causa está mudando e tendo mais visibilidade”, afirma.
Ela reforça que o combate ao racismo precisa ocorrer durante todo o ano: “A ideia de ter que ter um Dia da Consciência Negra é triste. A nossa luta é para que essa procura pela causa deixe de acontecer apenas em maio (13 de maio - Abolição da Escravatura) e novembro”.
O compromisso diário é o que garante mudanças reais, segundo a presidente do Conselho. "Eu me reconheci enquanto mulher negra no meu trabalho, atuando como advogada, vendo a dor do meu cliente. Eu não tive uma criação onde isso era tema e eu fui reconhecendo isso. Comecei a perceber que eu tinha que usar o local onde eu estava para fazer a diferença para alguém. Que eu podia usar isso para ajudar outras pessoas, principalmente mulheres", conta.
Galeria
Foto 1 - Jannes é advogada e presidente do COMPIR