Celebrado nesta segunda-feira, dia 8 de maio, o Dia do Artista Plástico foi criado em 1950, com o objetivo de estimular a apreciação das manifestações artísticas envolvendo pinturas, instalações e esculturas. De lá para cá, entretanto, muitos aspectos da arte têm se transformado, sobretudo no que diz respeito ao acesso às obras de arte.


Para o escultor mogiano Lucio Bittencourt, que possui muitas de suas produções espalhadas em pontos de Mogi das Cruzes e Suzano, entre outras cidades do Brasil e de outros países, é essencial pensar em produções culturais abstratas, mas também em obras figurativas, que penetrem entre as camadas populares.


Bittencourt tem como matéria-prima para suas esculturas o aço, pensando em obras duráveis para que possam estar, justamente, em locais públicos, fazendo parte do cotidiano das pessoas. "Eu faço as esculturas que gosto, que é um trabalho mais abstrato, mas também faço obras figurativas, que às vezes nem me agradam tanto, mas eu tenho que pensar nas pessoas que irão ver a obra, como as crianças. Eu trabalho bastante com crianças, em escolas, principalmente. Buscando estar sempre atento aos dois lados", disse.


Como artista, ele considera o público popular "mais puro e verdadeiro com o trabalho". Em contrapartida, segundo o escultor, muitas das vezes, o frequentador de galerias compra uma obra pelo nome do artista. "Às vezes tem um nome mais em alta no mercado e a pessoa quer ter esse nome na parede da casa dela. Já o popular não, ele é de alma, ele de fato gosta", destacou Bittencourt.


Ele ressalta, porém, o desafio que é escolher ser artista, e "não só nas artes, mas na música, no teatro, em tudo". Ele admite que é muito complicado viver de arte avaliando a questão financeira. "Eu conheço muito artista que já expôs no mundo inteiro passando dificuldades. Um artista verdadeiro, de essência, ele não é tão ligado ao comércio e por isso tem uma dificuldade maior", ponderou.


Produção artística


Bittencourt reflete também sobre novas formas de se ver e fazer arte, aliada a uma produção em massa. "Hoje, existem escultores que possuem empresas que executam o projeto. É diferente do cara que faz tudo, desde a criação, construção, acabamento. O que está acabando", comentou.


Ele admite, porém, que as mudanças são naturais e acontecem todos os dias, podendo ser vistas, inclusive, nas Bienais de Arte. "Com essa coisa da internet, essa rapidez e evolução toda, precisa ter mudança. Quando comecei a fazer escultura, havia mais oito escultores em todo o país, hoje tem milhares. Então, surge um movimento que torna tudo isso mais popular", complementou Bittencourt.


Identidade regional


Maurício Chaer, artista plástico também mogiano, realça a participação da arte em um movimento que crie identidade, não só para Mogi, como para o Alto Tietê. "Estamos fazendo o que sempre fizemos, criando uma identidade cultural para a região, dando uma continuidade a nossa história e folclore. Nossa ligação com a cidade é muito forte, estamos dentro das casas das pessoas e a cultura não pode ser 'a última da fila', como disse uma vez o Darwin Valente (jornalista)", disse.


Assim como Bittencourt, o artista tem obras em cidades do país e também no exterior. Chaer conta que prioriza uma arte que ultrapasse as paredes de museus e galerias e chegue até "as pessoas e atropele os passantes". Entretanto, ele entende que a arte precisa penetrar ainda mais nas casas das pessoas, para que elas também possam contar histórias, decorando "suas casas com obras originais de artistas locais, contando uma história, senão fica parecendo uma loja".


Processo criativo


O processo de criação de uma obra de arte, segundo Chaer, varia de acordo com o material escolhido para trabalhar. O escultor se utiliza de cimento, mas também encontrou na mamona um material versátil que, de acordo com ele, pode contar uma história em cada espaço que estiver. "Mas sempre dando chance para que seja possível usar diversos outros materiais que não foram usados ainda, para aguentar ficar no sol e chuva", explicou.


Em suas obras, o artista faz muito uso das cores, buscando combinar uma relação com o contexto e especificidades de cada local. Além disso, fica atento aos avanços tecnológicos para entender com quais novas formas pode fazer o emprego das cores. Em sua atual exposição, intitulado "Lockdown", faz "uma instalação com cubos brancos empilhados com galhos pretos saindo deles, e a segunda parte, que é na rua e na praça da matriz, em Suzano, há uma explosão de cores significando o fim do Lockdown".


Quando questionado sobre como é viver de arte, Chaer foi sucinto: "É bom ter a sensação de estar fazendo e crescendo na sua paixão, todos têm sua paixão, não dá pra viver sem uma".


"Lockdown" está exposta no Centro de Educação e Cultura de Suzano, localizado na rua Benjamin Constant, 682, no centro. A mostra segue aberta até a próxima sexta-feira (12), das 9 às 19 horas, com curadoria de Erasmo Amorim.

*Texto supervisionado pelo editor