Mogi - Após o lançamento do premiado "Serráqueos", o diretor mogiano Rodrigo Campos, começou a dar os primeiros passos para a produção de um novo documentário, o "Tietê: Águas Verdadeiras". O longa-metragem, que recebe apoio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC), irá explorar de forma diferente Rio Tietê pois, para desenvolver o roteiro, o cineasta contará com as próprias histórias dos moradores que vivem próximo ao rio, e que poderão enviar depoimentos, fotos, vídeos, áudios e textos para Rodrigo por meio do WhatsApp, pelo número (11) 96060-0533. O objetivo é que esse material recebido venha a fazer parte do filme ou de outras etapas da produção.
Segundo o diretor, a ideia é explorar o Tietê da nascente, em Salesópolis, passando por Biritiba Mirim, até a fronteira entre Mogi das Cruzes e Suzano. "O mais importante é encontrar histórias de pessoas que possuam uma memória afetiva com o rio. Mesmo que o filme tenha entrado em pré-produção agora, neste começo de ano, já tivemos alguns depoimentos de pessoas que falaram que já se banharam no rio no passado. Então, esse resgate é o que vai mover o filme, porque é muito impressionante imaginar que, de Salesópolis até Mogi das Cruzes, nós conseguimos matar o rio, simplesmente ele se torna um rio morto", disse Rodrigo.
Assim, a população dessas três cidades poderão enviar seus materiais para a produção do longa. Logo que entrarem em contato, será encaminhado um texto com as instruções auxiliando o colaborador a enviar o material da forma mais correta para que os documentos possam ser aproveitados.
"Pelo o que começamos a estudar sobre o rio nesta fase inicial, por meio de artigos acadêmicos, livros, reportagens e conversas, existem questões técnicas e mais críticas que serão sim abordadas. Mas, o nosso foco, é explorar a memória de um rio que estava cheio de vida e, assim, refletir sobre o que vamos deixar para as futuras gerações. Então, nesse sentido, a partição da criança será fundamental. E temos pensado muito, justamente, em como fazer esse link entre a figura da criança e o rio", explicou o diretor.
Por fim, o diretor explicou que, para muito além de um filme, o real objetivo é explorar o sentimento do público. "O principal do longa, assim como foi com o 'Serráqueos', é aguçar o sentimento de pertencimento; das pessoas se sentirem pertencentes a esse lugar, se verem na tela e se verem responsáveis e acolhidas por esse projeto. Como é um filme que trata de um recorte regionalizado, mas que o tema é universal, se a gente consegue se aproximar e se conectar, depois para transmitir outros elementos e temáticas, fica muito mais fácil", concluiu.
A pré-produção
A codiretora do longa, Denise Szabo, conta que, por já trazer em sua trajetória cinematográfica filmes de autoria própria que tratam de preservação de rios, como o "Águas Passadas", quando recebeu o convite de Rodrigo para participar de "Tietê: Águas Verdadeiras" logo aceitou a ideia.
Ela explica que nesses momentos iniciais, o principal movimento é fazer o levantamento de documentos sobre o rio e produções audiovisuais com mesma temática, bem como conversar com professores e especialistas. Entretanto, para além do material histórico, o desafio é encontrar aquilo que não foi documentado, mas que está na memória dos moradores da região.
"Uma das coisas mais complexas em se fazer um filme é fazer um recorte. Então estamos na fase de estudar o macro e, uma vez munido dessas informações, precisamos saber o momento de parar de pesquisar, porque uma pesquisa é sempre infinita, e desta forma podemos partir para um recorte a partir do que temos", explicou a cineasta complementando que, já em uma primeira reunião, o balanço foi muito positivo. "Estamos com gente engajada e curiosa, e sempre que temos produções com esse espírito é um bom sinal".
O Filme e o Rio
Para Eliseu Piacentin, educador e biólogo que forma o corpo de pesquisadores do documentário, o longa terá uma importante função social. "O filme poderá contribuir no sentido de despertar no munícipe, um sentimento de ressuscitar o rio, e que também depende da administração pública em investimentos no saneamento básico e do envolvimento de toda sociedade, especialmente das crianças, com educação ambiental", explicou.
Além disso, o professor alerta que o rio é muito mais que apenas um rio. "O rio Tietê é muito mais que um sistema de drenagem, há aspectos geológicos e ambientais importantes. A mata ciliar (Mata Atlântica) tem uma função muito além de fornecer alimento para os peixes e seres vivos do rio, essa floresta faz conexão entre as Serras do Mar e do Itapety, criando um fluxo gênico, uma renovação constante da vida", concluiu.