Um Guarda Civil Municipal (GCM) foi flagrado, na última quarta-feira (23), por uma câmera de monitoramento atirando contra um jovem negro, no distrito de César de Souza, em Mogi das Cruzes. Pedro Azpilicueta levou um tiro de raspão no rosto e outro na barriga. Nas imagens é possível observar que o GCM faz quatro disparos. A vítima precisou passar por cirurgia no intestino e está em observação. O estado de saúde dele é estável.
O crime ocorreu por volta das 7 horas na Avenida Ricieri José Marcatto, quando a vítima estava chegando em casa com alguns amigos. Ao observar o GCM na calçada, os jovens aguardaram na esquina até que ele entrasse em sua residência. De acordo com o advogado da família, Ewerton Carvalho, Pedro estava no portão, entrando em sua casa, quando o GCM saiu e iniciou uma discussão, e depois voltou com a arma e efetuou os disparos.
De acordo com o advogado, a vítima já registrou vários Boletins de Ocorrência (B.O.) contra o suspeito. “Desde 2015 que o Pedro faz reclamações administrativas na GCM do município, além dos registros policiais nas delegacias do distrito”, afirmou.
No dia 9 de novembro, em outro vídeo, o GCM é flagrado despejando cascas de banana em frente à casa da vítima. “Existem vários tipos de denúncias que transpassam a questão racial”, afirmou o advogado. Segundo ele, a mãe da vítima sofreu importunação sexual e assédio sexual. “O autor do crime mostrou o órgão genital pelo muro do imóvel da família. Além disso, o agressor insultava os moradores com palavras racistas”, destacou. O advogado afirmou ainda, que não foi a primeira vez que o GCM mostrou a arma para o jovem e destacou que o tio da vítima já processou o guarda municipal pelo crime de homofobia e racismo.
De acordo com o advogado da família, o suspeito está foragido, mas as medidas já estão sendo providenciadas para que o GCM seja punido. “O primeiro passo é pedir o mandado de prisão imediata do suspeito. Estamos entrando com uma ação judicial cível para que ele pague por perdas e danos e para que ele custeie todo o tratamento da vítima. Além da tentativa de homicídio, o objetivo é também provar que ele cometeu crimes de racismo, porte ilegal de arma e injúria racial”, concluiu.
O Guarda Municipal já está afastado e responderá por sindicância na Prefeitura de Mogi. A Administração Municipal informou que "não compactua com desvios de conduta e que todos os fatos estão sendo rigorosamente apurados administrativamente dentro de um Processo Administrativo Disciplinar, já iniciado pela administração municipal. E destacou que após o final do procedimento, serão tomadas as medidas que a lei determina".
Marielle Yukie Udo, presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), orienta como proceder diante de ameaças e atos racistas. “O primeiro passo é sempre registrar o boletim de ocorrência. Caso seja possível, no momento em que estiver ocorrendo a situação, recomendo acionar a Polícia pelo número 190 e reunir o maior número de testemunhas possível. A vítima de racismo também pode entrar com uma ação para que o agressor seja punido cível e criminalmente. Especificamente neste caso em questão, além do crime de racismo, há também a injúria, então é necessário além do B.O. fazer a representação na delegacia. Denúncias também podem ser registradas no Compir, pois é parte das atribuições do conselho, fiscalizar se os órgãos competentes estão adotando as medidas cabíveis de apuração dos fatos e aplicação de sanções”, destacou.
A Secretaria de Segurança pública informou que a ocorrência segue em investigação por meio de inquérito policial instaurado pelo 3º Distrito Policial de Mogi das Cruzes.