O episódio do Café com Mogi News desta terça-feira (14) entrevista André de Camargo Almeida, que atualmente é secretário executivo do Instituto Sopa, entidade social com sede em  Mogi das Cruzes. Ele conta sobre a trajetória da instituição, inspirada pelo trabalho de Odete de Almeida, e os trabalhos desenvolvidos com pessoas em situação de rua e com famílias em três bairros de Mogi, além da importância dos voluntários e como qualquer pessoa pode contribuir com o trabalho do Instituto. 

Acompanhe a entrevista completa de mais um episódio, em parceria com a Padaria Tita. 


Café com Mogi News: Como você descobriu o Instituto Sopa?
André de Camargo Almeida:
Bom, nós estávamos num inverno bem rigoroso há uns oito anos, e um grupo de amigos pensou nos moradores de rua. Compramos cobertores, inclusive, compramos daqueles fardos e cortamos para render mais, e quando terminamos um olhou para o outro e falou: 'E agora? O que a gente faz?'. Quem trabalha com voluntariado às vezes acha que é simplesmente chegar e entregar, e não é.  A gente precisava ter uma noção de como fazer e não sabíamos. Até que alguém falou: 'Conheço a Dona Odete, então vamos entregar para a Dona Odete'. Então chegamos lá para a entrega na Dona Odete, e eu já fiquei para os trabalhos. Fui o único que continuou e estou lá até hoje. 



CMN: Então aproveita e conta para a gente um pouco sobre a história do Instituto. A Dona Odete Bueno de Almeida foi a fundadora do Instituto Sopa, e eu queria que você contasse um pouco do que você sabe sobre a trajetória dela.
André:
Bom, a história dela é muito incentivadora, inclusive para essas pessoas que você falou que acham que não têm condições de auxiliar. A Dona Odete era uma pessoa muito simples, morava na Vila Industrial, e ela atendia todas as pessoas com necessidades. Ela começou a trabalhar na Casa da Sopa, auxiliando no corte dos legumes e fazendo a sopa. Era muito próximo da casa dela, e até hoje a Casa da Sopa ainda existe. Ela atendia as pessoas que tinham doenças ali perto, ia na casa, dava comida, virava na cama. Enfim, fazia o trabalho de enfermeira mesmo, e ia cuidando assim das pessoas, dando o alimento que elas necessitavam, e aos poucos as pessoas foram procurando por ela. Com o tempo, ela decidiu fazer na casa dela a sopa. Ganhou o primeiro fogão de duas bocas e começou todo o trabalho numa casa bem humilde. O Instituto Sopa começou há 20 anos, quando ela já tinha 60 anos. Ela sempre fez o trabalho voluntário e de uma forma muito simples, numa casa bem simples, e foi auxiliando, e foram chegando voluntários para fazer a distribuição da sopa nos bairros para moradores de rua, e assim começou o trabalho dela.


CMN: Eu acho que é bem importante, quando a gente pensa em organizações, em ONGS que fazem esse trabalho no terceiro setor, ter uma pessoa que é referência, porque isso acaba incentivando novos voluntários e também quem já está lá se manter. Você comentou que atualmente a sede do Instituto é a antiga casa da Dona Odete.
André:
Ela faleceu em 2020 e sempre deixou registrado para os parentes dela que ela gostaria que o Instituto Sopa continuasse funcionando ali. Ela pediu que pelo menos por 6 meses não fosse cobrado nada, e os herdeiros respeitaram. Passados os 6 meses, a família disse que queria vender a casa, até porque os herdeiros também são pessoas simples, precisavam do dinheiro, e nos procuraram: 'A gente quer vender e gostaríamos de ver se vocês têm interesse, porque para ela seria ótimo”. Passou uma semana, e um casal de voluntários, que não quis ser identificado, nos procurou dizendo que tinha uma quantia para doar para o instituto para poder comprar a sede. A quantia representava precisamente 75% do valor do bem. 

O advogado da família, que é sobrinho da Dona Odete, estava cuidando do inventário. Eu perguntei para ele: 'Daniel, será que a gente não consegue parcelar então? A gente tem um valor aqui, será que não conseguimos parcelar?', e ele falou: 'Infelizmente só tem um herdeiro que aceita'. 'Então não vai dar porque a gente tem 75% do valor do bem', e ele disse: 'O herdeiro que aceita tem 25% do imóvel'. Parcelamos então esses 25% e fizemos uma campanha para arrecadar durante 11 meses o valor que era R$ 4.200,00 se não me falha a memória, fizemos cotas de R$ 100, conseguimos os doadores e conseguimos comprar a casa.



CMN: Vocês conseguiram reformar a casa? Vocês já estão usando a casa da Dona Odete como sede? Como está funcionando?
André:
A gente começou realmente a utilizar como sede, bem felizes por essa conquista. Era a casa dela, então a gente tinha que fazer algumas alterações, e uma delas era justamente onde nós estávamos usando, onde seria a dispensa. O telhado dela já era ruim, a caixa d’água era de amianto, então a gente teria que trocar. Já tínhamos feito a reforma da cozinha que era o essencial, ganhamos a doação de um herdeiro também. Tínhamos que reformar a outra parte, e quando nós fomos fazer essa reforma, tínhamos que quebrar a parede para dar maior fluxo para a entrada e saída de alimentos, onde era o local da dispensa, e na hora de quebrar, rachou a parede. 
Chamamos o nosso engenheiro, que é um voluntário, ele olhou e disse: 'André, você vai ter que refazer”. Colocamos escoras, e eu falei para a diretoria. 'Agora não dá, a gente vai ter que reformar tudo, porque se é para derrubar essa parede para refazer, sendo que tem o telhado e a caixa d’água para refazer, vamos refazer tudo'.

Assim que a gente colocou as escoras e definimos que iríamos derrubar, passaram dez dias e apareceu na porta, quem depois eu descobri ser o presidente do Centro Espírita Sementeira do Bem. Eles tinham uma creche que funcionava em frente ao Sementeira e falaram que iam alugar aquele imóvel para reverter depois em atividades sociais, mas iriam alugar. Eu falei para eles alugarem para nós, e ele me levou. Na hora que eu entrei no lugar de 400 metros, enorme, eu quase chorei quando olhei aquilo. Ele perguntou se era ali era bom para nós e eu falei: 'Muito bom!'. A diretoria aprovou, e pudemos ira para a creche enquanto fazíamos a reforma, e agora, conseguimos um doador para essa parte e, finalmente terminamos a reformar. Só falta fazer o segundo andar para podermos retornar para a sede, que é onde a gente tem que ficar.



CMN: Aproveitando que você está contando sobre a reforma, queria que você contasse um pouco como funciona essa captação de recursos, como as pessoas vem até vocês para doar?
André:
Bom, a captação é muito da credibilidade da Dona Odete. Tem histórias de muitas pessoas que iam procurá-la, desde a pessoa que morava num barraco no rodeio, até juízes e médicos que a procuravam para ter uma palavra dela. A palavra é credibilidade mesmo, e ela passava muita. Ela conseguiu com a simplicidade dela conquistar essas pessoas que até hoje nos auxiliam. Há pessoas que estão iniciando agora, esse trabalho do voluntariado é mais difícil. Tenho amigos que estão iniciando alguns projetos, e eu imagino como deve ser difícil esse início.

Nós conseguimos pegar 'o barco andando', já estava colocado no mar, era só fazer seguir, graças ao trabalho da Dona Odete que demorou bastante tempo. Ela teve mais de 20 anos com o Instituto Sopa, fora o trabalho anterior. Ela trabalhou mais de 50 anos com a caridade e isso trouxe muita credibilidade, muito dos doadores vêm dessa credibilidade que ela conquistou e muitos outros chegaram depois, justamente pelo trabalho que fizemos nas mídias e eventos. Tem um pouco de tudo, mas eu credito muito a Dona Odete e a todo esse respeito e carinho que todos têm por ela.



CMN: Eu acho que as redes sociais hoje vieram para melhorar e ajudar, pois é um espaço onde se você pode fazer uma divulgação e alcançar pessoa de outros estados e até outros países, mas ainda assim a credibilidade é algo muito importante. Quais são os projetos que atualmente o Instituto Sopa realiza? Pesquisando sobre a organização, vi que vocês produzem oito mil litros de sopa por mês.
André:
Temos vários grupos que atuam na casa. Então é feito um trabalho praticamente todos os dias. Pelo menos de segunda a sábado tem alguém trabalhando, seja de manhã, tarde ou à noite. Nós estabelecemos grupos que se revezam entre os dias da semana para as funções de picar mantimentos, preparo da sopa, cuidado com a cozinha, e entregas das sopas - que são feitas aos moradores de ruas, e também no Jardim Aeroporto e Jundiapeba- e cuidados com as doações de roupas, livros e brinquedos que são reformados para distribuição no Natal e no Dia das Crianças. 



CMN: Então com os brinquedos vocês trabalham vocês trabalham só nessas duas ocasiões? E durante o ano a demanda da sopa, e paralelamente roupas, livros e brinquedos?
André:
Basicamente sim.



CMN: E vocês aceitam doações de qualquer pessoa ou instituição? Qualquer um que quiser ajudar, é só entrar em contato com vocês e levar até a sede?
André:
Sim. Quem tiver interesse é só levar, porque a gente recebe de tudo lá. A Dona Odete dizia que se você chegasse com uma Havaianas lá, um par chegaria na sequência, e realmente vemos isso acontecer. Os brinquedos, por exemplo, pode chegar um brinquedo faltando uma peça, e deve ser levado mesmo assim, pois ele pode servir para completar um outro brinquedo que está sem peça lá, então tudo tem serventia. Uma vez chegou para nós um balde de óleo de 15 litros, e eu me perguntei porque estávamos recebendo aquilo, mas disse para não jogar fora, e guardar porque se chegou, foi por um motivo. Um dia estávamos sem, porque levamos a sopa para os moradores de rua em potes de margarina. Me perguntaram: 'Como a gente faz André?'. Vi que tinha potes de margarina sem tampa, então sugeri que a sopa fosse colocada no balde de 15 litros para servir na hora. Eles questionaram, mas eu disse: 'É o que a gente tem não é ?'. A sopa foi servida, e até hoje usamos esse método, porque podemos reaproveitar vários potes que chegam para nós. Podemos colocar no marmitex, que é mais barato do que comprar potes de plástico. Então, facilitou a nossa vida nesse ponto e reduzimos custos graças ao pote de margarina. Antes não sabíamos onde servir.



CMN: Então vocês também aceitam doações de potes de sorvete, margarina, quem quiser doar, são bem-vindos também?
André:
São bem-vindos também. Pote de margarina, que vai para o morador de rua, pote de sorvete é essencial, a gente sempre está precisando. Hoje mesmo, se fossem hoje lá na casa para levar, está precisando porque é dia de sopa. Então potes de sorvete são essenciais para as entregas nos bairros. Na terça feira, nós entregamos cerca de 400 potes de sorvete, e no sábado, 350 mais ou menos. Esses potes vão e voltam, mas eles têm um limite, uma hora temos que jogar eles fora, então sempre precisamos de potes novos. E garrafas de água, que são higienizadas para levar água para os moradores de rua. Às vezes a gente não pensa nisso, e foi um choque para mim da primeira vez. Chegamos com a comida e a pessoa perguntou se tinha água. A pessoa precisa mais de água do que comida, por que onde é que eles vão pegar água? Nem todo lugar tem um posto de gasolina em frente para eles pegarem água. E a noite quando eles tiverem sede, eles vão onde? Então eles precisam da água. Tentamos levar o máximo de água possível para não deixar ninguém sem água, então a doação de garrafinhas também é importante.



CMN : André, você comentou sobre bairros de Mogi das Cruzes que vocês ajudam, então atualmente é só na cidade de Mogi das Cruzes que vocês atuam ou auxiliam outros municípios da região?
André:
Não, nós realmente ficamos mais aqui por Mogi, normalmente nos bairros em que nós estamos.  De uma forma indireta auxiliamos, porque tem algumas entidades que pedem.  Por exemplo, sempre tem uma moça que leva ursinhos de pelúcia para as crianças que estão no HC (Hospital das Clínicas) de Suzano, então ela pega conosco para levar para eles. Essas crianças são acamadas, não podem sair de lá, e a única coisa que pode entrar lá são os ursinhos de pelúcia. Ela me pede uns 20 ursinhos de pelúcia para poder levar no Natal. Então de forma indireta a gente acaba auxiliando, mas o nosso foco mesmo são os bairros que nós atendemos.



CMN: Vocês realizam algum tipo de acompanhamento com as pessoas que ajudam, ou procuram sempre oxigenar, estar ajudando o maior número de pessoas possível?
André:
Sim. A gente acaba conhecendo bem a pessoa, porque a sopa nos possibilita o contato com aquela pessoa. Uma vez, antes de começar esse trabalho, eu fui ao Hospital do Câncer (Centro Oncológico Mogi), e eu encontrei umas pessoas que estavam preparando chá e bolacha para entregar. Eu olhei aquilo, e fui conversar com uma delas, que depois até acabei conhecendo, a Deise, uma grande amiga minha, e eu disse: 'Que legal que vocês fazem isso, vocês entregam?', e ela me falou: 'Na verdade, isso aqui serve para a gente ter o primeiro contato com eles. O chá, a bolacha e o bolo servem de contato para conseguir conversar com eles'. Então, a sopa também serve para isso. A sopa alimenta sim, tem muitas famílias que pegam 6 baldes de sopa para passar a semana porque não têm outra comida, mas o carinho de estarmos presentes toda semana lá, conversar com eles, isso eu acho que vai além da simples entrega da sopa. 

Tudo ali tem a sua importância, inclusive nessa entrega com esse contato, a gente conhece bastante as pessoas, e tentamos fazer o máximo por elas, mas muitas vezes esbarramos em alguns problemas, porque elas não têm sonhos. O maior problema delas é a falta de sonhos. Nós fizemos um questionário, e isso foi bem impactante para nós. Fomos recolher informações básicas nos bairros: nome, endereço, telefone, idade, quantos filhos têm. E uma das perguntas era sobre qual era o sonho. Queríamos ver o que dava para ser feito por eles. Se o questionário não vinha em branco, vinha escrito: 'um emprego'. Eu achei que aquilo estava errado, então devolvi todas as fichas para os voluntários e falei o seguinte: 'Vocês vão fazer o seguinte: agora vocês vão ter uma tarefa.  Cada um vai ficar numa fila, pegar essas fichas e perguntar um a um qual é o sonho, olhando no olho da pessoa". E aquilo foi tão marcante que as pessoas falam até hoje, porque as pessoas não conseguiam pensar. Parece que ninguém nunca chegou para elas e disse: 'Você pode fazer isso, você pode escolher'. 

O que a gente via, então, é que elas estavam no imediatismo de conseguir algo para matar a fome. Parece que elas não conseguiam parar para pensar no sonho delas, e quando questionávamos, elas ficavam meio perdidas, não sabiam nem o que dizer. Teve uma voluntária que falou: 'Às vezes eu queria balançar a pessoa, porque o meu filho de 10 anos tem um sonho e ela não tinha'. Para conseguirmos fazer saírem desse ciclo é necessária essa motivação primeiro, e isso vamos trabalhar no próximo ano. Estamos com o projeto de fazer cursos motivacionais, pois a nossa ideia é também ministrar cursos. Já tivemos o curso de cuidador de idosos, mas para isso a gente precisa motivar. Necessitamos dessa motivação, e eles saberem que podem fazer isso, que eles conseguem. Só que para isso temos que fazer um trabalho bem grande com eles, porque não é fácil. Assim nós vamos conhecendo as pessoas, mas infelizmente há essas restrições.


CMN: Então atualmente vocês não atendem somente pessoas que moram nas ruas, vocês atendem famílias que vivem na vulnerabilidade. Essa questão do sonho, imagino que muitas vezes pais de família, querem dar o melhor para os filhos, mas não têm espaço para ter o sonho ou uma conquista pessoal.
André:
Exatamente. Nós atendemos 550 famílias nos três bairros, o que totaliza mais ou menos três mil pessoas, contando crianças, pais, mães, enfim. E realmente vemos que essa é a dificuldade. Queremos implementar alguns cursos, algumas coisas para a melhoria dele, mas temos essa dificuldade. 



CMN: Você poderia contar um pouco sobre esse projeto de cursos motivacionais e o que vocês já têm planejado para o ano que vem?
André:
Bom, para o ano que vem já estamos iniciando a conversa para isso. Temos dois voluntários e uma outra pessoa, uma hipnóloga que se prontificou a nos auxiliar. Agora vamos procurar locais nos bairros, porque há uma grande dificuldade. Temos um local maravilhoso onde nós poderíamos ministrar o curso, mas é longe para eles e para eles virem para às vezes é muito difícil. Quando nós promovemos o curso de cuidador de idosos, abrimos as inscrições para os bairros. As aulas eram duas vezes por semana, durante três meses. As pessoas se inscreveram, mas não conseguiram dar continuidade porque não tinham o dinheiro para o ônibus. São várias dificuldades para conseguirmos quebrar e pelo menos dar a motivação a elas. A gente precisa estar perto, então vamos procurar isso nos bairros. Vamos tentar levar esse projeto até eles, mas ainda estamos no início do processo. 


CMN: Na verdade o principal empecilho, no momento, para vocês começarem colocar em prática seria encontrar o lugar para poder dar continuidade?
André:
Os três lugares, porque vamos levar para os três bairros atendidos.

CMN: Só para relembrar o pessoal, quais são os três bairros que vocês atendem?
André:
Jardim Aeroporto, Conjunto Jeferson e Jundiapeba.


CMN: André, você poderia nos contar sobre o projeto de Natal?
André:
Para o Natal nós seguimos uma fórmula que a Dona Odete trazia consigo há bastante tempo, só colocamos algumas coisas a mais. Fazemos uma entrega no sábado, dia 16 de dezembro. Vamos nos bairros, escolas, inclusive para ter um controle maior, e fazemos a entrega de brinquedos, lanches e refrigerantes. Tem um grupo que nos auxilia a fazer os lanches, que neste ano prometeu 3.500 lanches. Estamos pensando em colocar roupas usadas, mas em boas condições para que os assistidos possam ter o direito a escolher essas roupas. Levamos também livros no Dia das Crianças, e foi muito bom. Então vamos ver se conseguimos levar novamente. É isso, vamos nos bairros, fazemos as entregas, e eles saem bem felizes. 



CMN: Atualmente quantos voluntários vocês têm?
André:
Temos em torno de 90 voluntários, porque como eu te disse, cada entrega tem uma equipe distinta, então para fazer tudo isso precisa de muita gente.


CMN: E como vocês fazem a captação de voluntários? Porque 90 pessoas é bastante, mas quanto mais melhor, certo?
André:
Sim. O quanto a gente conseguir, é o tanto que terá de trabalho. Então é o interesse. A pessoa pode entrar em contato conosco através das redes sociais ou telefone e nós conversamos para compreender qual o dia da semana que ela tem livre, o que sabe fazer. Por exemplo, nós estamos com a intenção de oferecer cursos, talvez a pessoa possa dar o curso.  Há algum tempo surgiu um arquiteto que queria ensinar as crianças a desenhar, ele queria dar o curso. Então estamos pensando também em fazer algo nesse sentido. Vamos atrás das crianças que já têm esse talento para conseguirem desenvolvê-lo melhor e dar a elas outras condições. Então tudo vai depender realmente da pessoa que está nos procurando.



CMN: Acho que a ideia principal é as pessoas entenderem que para elas fazerem um projeto social, elas não precisam ter muito dinheiro, basta você ter o tempo e a vontade de dar carinho para alguém, isso já tem muito valor, certo?
André:
Sim, exatamente. Tendo tempo e disposição, é o que importa. O resto a gente vai aprimorando, aprendendo. Não é preciso dinheiro, nem a dedicação de muito tempo, porque o tempo é o voluntário que faz, o tempo que ele quiser estar presente. Ele vai se habituando, conhecendo as tarefas e vai vendo novos horizontes. 


CMN: Então por exemplo: 'André, eu quero ajudar no projeto de Natal, mas depois, durante o ano, talvez eu consiga fazer uma ou outra doação pontual, mas não possa frequentar o instituto'. Então não tem problema?
André:
Nenhum problema! A pessoa ajuda conforme ela quer, isso que é o voluntariado. O voluntariado é você auxiliar com o que você tem de melhor, no momento que você pode. O foco é você fazer o bem. Como você vai fazer não importa, você faz do jeito que achar melhor.



CMN: Você já contou algumas histórias, mas eu queria pedir para você nos contar se tem mais alguma marcante, algo que ficou guardado nas suas memórias dentro do instituto, que você gostaria de compartilhar?
André:
Tem várias histórias. A gente lida com tantas pessoas, mas sempre tem alguma história que mostra que quando você está trabalhando para a caridade, Deus está ali nos ajudando e amparando sempre. Posso contar uma história, por exemplo, em que eu estava entregando sopa para um morador de rua, e tinha umas bolachas de água e sal também que tínhamos levado. Eu já estava no final da tarefa, e as bolachas já tinham acabado. Eu parei e vi uma pessoa que não era morador de rua, mas pensei: 'Ela está precisando, vou falar com ela". Chamei e ele deu graças a Deus porque estava sem comida em casa. Ele também pediu dinheiro para ir numa venda próxima dali para comprar bolacha de água e sal para o filho que estava com vontade. Já era por volta de 22 horas. Eu falei: 'Sério? Você quer bolacha de água e sal? Espera, eu estava com bolacha de água e sal aqui no carro, vamos ver'. Para mim já tinha acabado, eu já tinha visto, não tinha mais. Revirei e revirei, e tinha a última bolacha de água e sal caída no carro. Entreguei para ele, que saiu com uma alegria tão grande de ter conseguido a bolacha para levar para o filho dele, que foi incrível.



CMN: Para você que está ajudando também faz um bem imenso. Eu já fiz projeto social durante a adolescência, e você doar o seu tempo para as pessoas te ajuda também, você volta com outra energia.
André:
Exatamente, é importante. É muito bonito ver acontecer. Às vezes as pessoas falam que doar uma sopa é tão pouco. Pode ser pouco para a gente, mas para quem está recebendo, não. A cesta básica, que é uma coisa que as pessoas costumam falar: 'Mas uma cesta básica?'. Uma pessoa me mandou uma mensagem perguntando se nós tínhamos cesta básica e eu descobri que ela era do Itaim Paulista (bairro da Zona Leste de São Paulo), e falei que nós somos de Mogi. Ela disse que não tinha problema, que viria buscar. Eu não acreditei, porém informei que a entrega seria no sábado às 13 horas. Eu estava lá no sábado, e chegou o irmão dela para buscar. Eu expliquei que era uma cesta simples. Então ela mandou o irmão dela vir do Itaim até o Instituto Sopa para pegar alimento, uma cesta que se fossemos converter em dinheiro daria R$ 50. Ela mandou uma mensagem agradecendo pelo alimento depois. Então sim, uma cesta faz a diferença.



CMN: Gostaria que você deixasse uma mensagem para quem tem vontade de se voluntariar, mas que às vezes acha que não tem tempo, que não vai poder ajudar.
André:
Quem gostar e quiser ser voluntário, vocês vão gostar muito. É muito importante, muito bom. O tempo, vocês é que fazem. O importante é saber que a gente doa aquilo que a gente tem. Às vezes não temos aquele tempo de estar presente, mas temos tanto trabalho que pode ser feito; o trabalho com as mídias sociais, que pode ser feito de casa; você pode nos auxiliar arrecadando potes de sorvete, por exemplo. O trabalho pode ser feito de diversas formas, não necessariamente estando presente no Instituto no dia a dia. Pode ir num evento, o importante é se você ter essa vontade no coração de auxiliar, porque nós estamos de portas abertas para vocês.


CMN: Quer deixar o contato do Instituto, redes sociais?
André:
Claro! O contato é o 9 7544-3444 e as mídias são @institutosopa, além do site www.institutosopa.org.br