O Café com Mogi News desta terça-feira (27) entrevista a CEO e fundadora do projeto Soul Bilíngue, Ariane Noronha. A ONG visa democratizar o inglês levando cursos para jovens de 18 a 26 anos que vieram da rede pública de ensino e, por meio disso, concorrem a oportunidade de bolsas de intercâmbio para países de língua inglesa. O foco também está na inclusão, sendo a maioria dos estudantes formada por mulheres e pessoas pretas ou pardas. "Realmente a gente sempre vai querer mais mulheres, mais pessoas pretas e pardas porque a desigualdade está muito atrelada à questão racial", disse.

Cerca de 3 mil jovens foram impactados diretamente pela ONG, fundada em 2018. Neste semestre são 330 estudantes cursando inglês e a perspectiva é atender entre 600 a 700 pessoas até o final deste ano. Saiba mais nesta entrevista especial, com apoio da Padaria Tita, e gravações realizadas pela empresa F-Studio - Comunicação Institucional formada pelos publicitários Felipe Claro e Carla Miranda.

Café com Mogi News: O que é a ONG é a Soul Bilíngue e de que forma ela atua na transformação da vida dos jovens?
Ariane Noronha: Sou jornalista, trabalhei por um tempo aqui e é um prazer estar de volta. A Soul Bilíngue nasceu do meu coração. Eu sempre tive o sonho de falar inglês, de viajar o mundo. A organização chega para democratizar o acesso internacional para pessoas de baixa renda, para transformar a vida do jovem por meio do inglês e de oportunidades internacionais. Tudo começou mesmo com essa minha vontade de viajar. Eu não tinha referência de ninguém próximo a mim que havia pisado no exterior. Sou ex-aluna de escola pública e fui a primeira a pisar em outro país. Minha amiga de infância me inspirou a viajar, foi minha primeira referência, ela é de Guararema e foi para os Estados Unidos para um programa de Au Pair, um programa de babá. Isso me trouxe uma esperança a mais de poder alcançar esse meu sonho de falar inglês e viajar para outros países.

Foi por causa dessa minha amiga que eu me inspirei e descobri que o intercâmbio é muito maior do que falar inglês e viajar para fora, além da questão do inglês, o ganho que você tem tendo uma experiência internacional, ele é muito maior, é uma coisa grandiosa. É você se envolver com outras culturas, não só no caso nos Estados Unidos, você se envolve com pessoas de outras nacionalidades, aprende a respeitar a diversidade, entende que tem outras formas de tomar café, de almoçar, enfim de viver mesmo. Isso me transformou muito, mudou muito a minha visão de mundo.

Quando eu voltei pro Brasil, eu pensei: ‘eu quero usar meu inglês como ferramenta de transformação, não quero perder também esse contato com o idioma e eu quero poder também ajudar essas pessoas que vieram da rede pública como eu. Eu chego no Brasil realmente com essa ideia de levar essa consciência para pessoas de baixa renda, pra pessoas que vieram de escolas públicas como eu. A Soul Bilíngue nasce justamente pra democratizar esse acesso internacional para pessoas que vieram da rede pública de ensino.

CMN: Isso foi em 2018 quando você voltou dos Estados Unidos ?
Ariane: Na verdade, eu chego dos Estados Unidos em 2015 e fiquei trabalhando como assessora de imprensa. Por eu ser jornalista, ainda continuei atuando e tive contato com uma organização social que é a Gerando Falcões. Aquilo me despertou ainda mais o interesse de fazer algo diferente para pessoas de baixa renda, porque a gente tem a ideia de que ONG você não pode ter uma remuneração, tem que ser sempre filantropia, mas não. Eu mudei um pouco meu conceito e aprendi mais sobre isso. Uma ONG não vai dividir lucros, mas a gente pode ter um salário para fazer a diferença e mudar a vida das pessoas. Isso me abriu muito a mente para poder criar a minha própria iniciativa.

Eu lembro que quando eu voltei dando aulas de inglês para pessoas de periferia num projeto de tecnologia, eu comecei a ter contato com essas pessoas e falar diretamente sobre a minha experiência. Elas também muito interessadas em saber mais, entender como eu fui. Eu comecei a ensinar todos os processos e pensei: ‘por que não criar uma iniciativa para ajudar essas pessoas?’. Uma coisa curiosa também, isso foi de 2016 até 2017 mais ou menos, e eu fiquei grávida também nesse período. O meu filho Caetano tem 5 anos e Soul Bilíngue tem justamente cinco anos, então a ideia nasce junto com meu filho.

Eu resolvi abrir mão da questão do emprego para empreender, sem saber se ia dar certo ou não. Então William, meu marido acabou segurando as pontas por um bom tempo e aquilo me deu muita força. Acho que meu filho me trouxe muita força para poder criar algo próprio e foi muito bom. O impacto que a gente tem causado, as pessoas que a gente tem atingido, e o legal é você também conhecer pessoas de outras regiões com ideias e intenções muito parecidas, que têm muita vontade. Eu nunca tinha pensado na possibilidade de viajar ou tinha pensado, mas enxergava como uma utopia. Eu sinto que muito jovem acha que isso é algo surreal, que não vai conseguir. A Soul chega justamente para mudar isso para essas pessoas de baixa renda.

CMN: Quais são os braços de atuação da Soul Bilíngue? De que maneira vocês oferecem o intercâmbio e como funciona?
Ariane: A Soul é um programa gameficado. O jovem entra para o programa pelo site da ONG, e passa por um processo seletivo para fazer uma imersão conosco durante 22 semanas, que são quase 6 meses. É um programa que envolve muito a questão do desenvolvimento de inglês. Ele vai aprender inglês de acordo com o seu nível, vai fazendo aulas e ganhando pontos pelo seu desempenho. Tudo que ele faz na organização social ao longo dessas 22 semanas, ele ganha pontos pelo seu desempenho.

Cada aluno da Soul tem também o seu mentor de inglês, que é uma pessoa que não é professor, mas tem o conhecimento do segundo idioma e ajuda a praticar a conversação, a estudar para prova. Ele tem a obrigatoriedade de fazer três mentorias por mês, inclusive a gente tem uma comunidade hoje com mais de 300 voluntários pelo mundo. Tudo começou com alguns amigos do intercâmbio que começaram a se voluntariar, e a gente foi crescendo. Essa comunidade de mais de 300 pessoas ajuda esses jovens a se desenvolver. São pessoas no Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda, de vários lugares. A maior parte é brasileira, mas que tem o domínio do segundo idioma e ajuda esse jovem a desenvolver o inglês como segunda língua.

Voltando nesse ponto de como funciona, é um programa gameficado em que tudo que ele faz ganha pontos. Ao final do ciclo de 22 semanas, os que mais pontuam, ganham as bolsas de intercâmbio para fora do Brasil. Um outro ponto também importante, é que os jovens participam de duas campanhas de engajamento, quando desenvolve comunicação criativa e uma série de soft skills (habilidades comportamentais), porque ajuda a gente a trazer doadores para a causa, Isso também é uma fonte de receita para gente, então, por exemplo, ele tem uma campanha em que é desafiado a engajar 10 doadores de R$ 10,00 para a causa. Ele vai ter toda essa comunicação, trabalhar a oratória e tudo mais e é com esse recurso que a gente também mantém a organização social para além de parcerias de empresas. Isso acaba ajudando a organização social e o próprio jovem, que às vezes é tímido, tem problema de comunicação.

CMN: Você comentou que são mais de 300 voluntários, como foi gerir a ONG durante a pandemia?
Ariane: Acho que foi um desafio para todo mundo. A gente estava num espaço físico e pra gente ter que adaptar tudo para o online foi um desafio, até para o aluno entender como funcionava. Ninguém sabia o que ia acontecer, como ia acontecer. A gente tinha acabado de mudar para um espaço físico próprio em janeiro e aí em março já teve toda a questão da pandemia. Nós tivemos que avisar os alunos, que começaram essa adaptação no online e não sabíamos quando ia voltar. Até surpreendeu positivamente e a galera aceitou muito bem. Acho que para o jovem também ter uma ocupação com a Soul Bilíngue foi positivo, porque foi nesse meio tempo que a gente conseguiu trazer uma rede de psicólogos para somar com a organização social. Hoje o jovem também tem acolhimento emocional. A gente sempre teve na verdade, mas criamos um grupo de voluntários de psicologia a partir da época da pandemia para ajudar o jovem. A gente entende que não adianta falarmos de ganhar o mundo, de falar inglês, de desenvolver essas habilidades, se ele não tem preparo psicológico ou está enfrentando uma série de dificuldades em casa, problemas que abalam o seu emocional. Esses profissionais de psicologia ajudam esse jovem a trabalhar essas questões. Falamos muito de depressão e ansiedade, do contexto familiar, então o jovem aprende também sobre isso durante as aulas com a Soul Bilíngue.

Eu acho que a pandemia nos provocou a criar esse grupo, e por um lado foi bom. Nós estávamos muito preocupados com o desempenho do programa, se ia dar certo ou não no home office, porque também sabíamos que se tratando de pessoas de baixa renda nem todo mundo tem acesso à internet em casa. Isso é um ponto também que foi muito preocupante, refletimos muito e nós achamos que não ia dar certo, mas acabou que deu, porque pra essa galera, principalmente essa turma que a gente estava atendendo, é claro que perdemos algumas pessoas, que infelizmente não puderam continuar. Sabemos que a internet não é realidade para todo mundo, mas deu certo com essa turma e depois adaptamos o programa para as futuras.

No começo eram 30, 40 jovens e hoje a gente atende por semestre mais de 300 pessoas em vários Estados. Foi um desafio muito grande que trouxe coisas positivas, aprendemos muita coisa e conseguimos até ampliar o nosso alcance por causa da questão do remoto.

CMN: Hoje vocês trabalham com formato híbrido com esses jovens?
Ariane: Na verdade, é remoto, 100% online. A gente tem encontros que acontecem todos os sábados em horários específicos. É ele e o mentor que decide os horários. A gente adaptou o programa 100% para o online e às vezes com encontros pontuais. Por enquanto a gente só fez em São Paulo, mas queremos fazer em outros lugares do Brasil. Nesses encontros reunimos voluntários, alunos e parceiros para fazer uma ação e participar de um piquenique em conjunto.

Entendemos que para poder atender mais pessoas, fazemos online. Também tem parcerias com escolas, instituições e universidades que eventualmente oferecem o espaço para jovens que não têm a possibilidade de acessar a internet em casa. Então ele tem esse espaço público para poder fazer o programa da Soul Bilíngue também. Nós tivemos uns casos nesse sentido, mas o objetivo é fazer com que a Soul chegue para todos os jovens de baixa renda, e a gente sabe que tem um caminho a trilhar porque não é todo mundo que tem computador e internet em casa.

CMN: A ideia de democratizar o acesso ao inglês da mesma forma que o intercâmbio foi uma transformação na sua vida. Como ocê avalia que é a transformação para esse jovem de periferia?
Ariane: Sempre fazemos pesquisas de feedback. A gente tem sempre um acompanhamento do jovem quando ele entra e quando ele sai. Eu sinto que ele ganha muito mais visão de mundo, aprende, entende que ele pode ir para além do bairro, que o mundo não é só Mogi das Cruzes, Suzano, Guararema, que ele pode ir além, pode viajar para outros lugares, que existem formas mais acessíveis de realizar o sonho do intercâmbio e aprender inglês como segunda língua. A gente o encoraja para o mundo e sente essa transformação. Como é um programa gameficado, os jovens ganham as bolsas de intercâmbio, geralmente são 10 bolsas por semestre para essas 300 pessoas. Então não é todo mundo que a gente consegue dar, porém durante o programa ele tem conhecimento sobre esses programas mais acessíveis. A gente fala do Au Pair, de voluntariado no exterior, da oportunidade de bolsas em alguns países. Na Hungria, por exemplo, tem muitas bolsas para brasileiros que muita gente não sabe, então trazemos esse conhecimento para eles de oportunidades, de possibilidades e vemos, na verdade, mais do que qualquer coisa, esses jovens ganhando o mundo pós-Soul Bilíngue.

A gente também tem mentores que ajudam esses jovens, tem muita gente que até conseguiu maior visibilidade no mercado de trabalho, porque estava estudando inglês passou e a empresa viu o desempenho. As empresas veem o jovem como potencial e acabam investindo, às vezes promovendo. Então vemos muito progresso nesse sentido, essa mudança de perspectiva, de quebrar essa coisa de que ele não pode, de que o mundo é aquilo ali, de que ele tem que ficar ali e acaba não enxergando algo além. Isso é muito legal de ver e é uma transformação. A gente percebe o nosso trabalho, dentro desse contexto, o jovem acaba também inspirando outras pessoas em casa, ao redor dele, na escola, e às vezes, a mãe ou pai. Então isso acaba inspirando e depois os amigos acabam fazendo o Soul Bilíngue. A gente acaba vendo que esse ciclo se repete a cada edição, com mais pessoas inscritas, mais pessoas impactadas, e mais pessoas satisfeitas com o enxergar o mundo diferente para além do bairro.

CMN: Olhando o corpo de estudantes da ONG, que são na maioria mulheres e pretos, viabilizando a inclusão de fato. Foi algo que você pensou ou foi natural?
Ariane: Foi algo natural. No começo a gente foi ganhando mais conscientização com relação a esses percentuais mínimos que a gente queria dentro da ONG, hoje realmente sempre vamos querer mais mulheres, mais pessoas pretas e pardas porque a desigualdade está muito atrelada a questão racial. A gente sabe a questão das mulheres também, as oportunidades são menores e as mulheres se sentem menos capazes.

O reflexo da do inglês no Brasil, onde menos de 5% da população fala inglês como segunda língua. Se não me engano uma pesquisa da British Country, 70% a 75% dos jovens vêm da rede pública de ensino, e a questão da raça é muito clara, pessoas pobres pessoas que não têm acesso geralmente são pessoas pretas. A gente quer mostrar que esse espaço é deles também, tanto que as nossas comunicações a gente sempre trabalha com essa questão da representatividade negra, de mulheres. A gente quer aproximar essas pessoas da organização social, por isso também fazemos esses movimentos para trazer mais, para que se sintam representados e se sintam pertencentes. Não adianta também fazer um programa e não trabalhar essa comunicação visual ou oral, e até mesmo com as bolsas, a gente tem cota nas 10 bolsas por semestre, se não me engano são 25% das bolsas no mínimo tem que ter pessoas pretas e pardas ou com deficiência ocupando essas vagas.

A gente nunca precisou usar esse sistema de cotas porque automaticamente no ranking, quando chega ao final do programa sempre tem pessoas pretas, e parte delas ganhando o programa, mas é algo que a gente sempre bate na tecla da importância de trazer e mostrar que esse espaço é deles, trabalhamos na nossa comunicação desde quando começou a ONG.

CMN: Quais foram e ainda são os maiores desafios cinco anos depois?
Ariane: Eu acho que no começo foi tentar fazer com que as pessoas abraçassem a ideia, acreditar que aquilo ia dar certo. Eu costumo falar que se você não acredita na sua ideia, no que você tá fazendo ninguém vai acreditar. Eu tive que ser a primeira pessoa a acreditar que aquilo ia dar certo de coração. Não adianta a gente só falar que vai acreditar, mas no fundo sabe e tem aquele receio. Claro também depois a questão financeira, como que a gente se sustenta financeiramente, como ter uma sustentabilidade financeira. Depois dessa questão da sustentabilidade, mas logo na primeira edição, no piloto que a gente fez, eu já comecei a correr atrás de bolsas de intercâmbio e bater em agências para falar do programa, do que eu queria e pedi bolsa de intercâmbio para essas pessoas.

A galera falava não tem como, não acredito, enfim foram muitos nãos até o primeiro sim. A primeira pessoa foi o Edson Ventura, que inclusive trabalhava na ABRASEEIO (Associação Brasileira das Empresas Especialistas em Intercâmbio para Oceania). que é uma associação especialista em intercâmbios e viagens para Oceania, Austrália, Nova Zelândia. Ele foi a primeira pessoa a abrir as portas e falar “dou quatro bolsas de intercâmbio para Oceania, Austrália e Nova Zelândia para você levar seus jovens”. Aí começou a gameficação, como que a gente vai conceder essas quatro bolsas para essas onze pessoas que estão fazendo o programa, como que a gente vai escolher, sorteio não fazia sentido, e começou essa ideia de gameficar pelo desempenho ao longo do programa.

Para a gente conceder essa oportunidade para quem realmente se dedicasse e foram essas quatro, depois foi mais bolsa e a própria Gerando Falcões foi uma organização que apoiou muito a gente no começo, com o espaço físico usávamos. Eu acho que no começo o desafio é implementar a ideia e fazer as pessoas acreditarem, e aí os outros passos a gente vai entendendo e vem naturalmente, assim como o progresso.
Na questão financeira hoje temos os desafios, temos empresas que nos apoiam e também pessoas que apostam na nossa ideia. A gente tem trabalhado muito com essa questão do ISD (Índice de Sustentabilidade e Diversidade) que está muito alta, e temos grandes talentos de diversidade. Oferecemos isso para as empresas também, é uma forma de trabalhar em conjunto e ter receita financeira. O mais recente, por exemplo, foi a Embaixada dos Estados Unidos. Participamos de um edital, ganhamos e conseguimos recursos para fazer o programa na região Norte do Brasil e até tivemos que ir até o Acre para poder divulgar o programa naquela região, fazer um movimento de visitar escolas. Com recursos financeiros, conseguimos fazer muita coisa e fazer as pessoas também conhecerem a iniciativa.

Temos uma metodologia consolidada, as pessoas já sabem que funciona, e tem a questão da transparência. Todas as edições que fazemos, a gente tem o balanço no site de como foi o semestre, quanto foi de despesa, de rentabilidade, temos todos esses dados no nosso site de forma muito transparente. È uma coisa muito legal, e que traz para nós uma credibilidade, faz com que outras empresas nos apoiem. A questão do selo Melhores ONGs, que ganhamos no ano passado, ficando entre as 10 melhores ONGs de pequeno porte do Brasil. O prêmio reconhece as melhores ONGs do Brasil, é um prêmio de super credibilidade que tem parceria com Ambev, então conseguir esse selo fez com que a gente também pudesse ter mais respaldo, porque eles avaliam uma série de coisas. Para nós é muito importante cada vez mais subir um degrauzinho, sabe conseguir alcançar mais pessoas, vai ser bem legal.

CMN: E depois que o jovem entrou, qual é o trajeto que ele percorre até conseguir a bolsa?
Ariane: O programa tem duração de 22 semanas, então ele fica com a gente nesses quase 6 meses fazendo essa imersão. Caso ganhe a bolsa de intercâmbio conosco, ele vai ter pelo menos 8 meses para se programar para fazer essa viagem. É uma coisa tão importante que vale ressaltar, o jovem ganha a bolsa e são geralmente quatro semanas de curso de inglês com a acomodação incluída. Nós damos todo suporte para tirar o passaporte, se eventualmente precisar de visto também. A passagem aérea é por conta dele também, que acaba tendo esse tempo para se programar, porque esse o custo maior a gente já concedeu por meio da parceria com as escolas internacionais. Ele se prepara nesses 8 meses para fazer essa viagem, quase um ano de preparo para entrar no programa até viajar.

CMN: Quais são os futuros projetos da ONG?
Ariane: Com a Embaixada dos Estados Unidos, conseguimos chegar na região Norte, e temos a possibilidade de trabalhar com 150 jovens por causa desse projeto. Para o futuro, a gente quer poder alcançar pessoas do Brasil todo. Hoje estamos na região Norte, Nordeste e Sudeste, e ainda faltam outras regiões para entrarmos. Queremos possibilitar que mais pessoas vivam essa experiência e tenham acesso. Como um sonho grande, a nossa meta maior é a Soul Bilíngue ter uma escola própria fora do Brasil para poder levar cada vez mais jovens para o sonho do intercâmbio. É algo que a gente quer batalhar para conseguir e alcançar pessoas poder possibilitar esse acesso e ampliação de visão de mundo.

Todo mundo que é de baixa renda, pessoas que vem escolas públicas e às vezes tem essa questão limitada, fazer com que essas pessoas desenvolvam o inglês como segunda língua, porque isso muda a vida das pessoas. É você se comunicar, ser um cidadão do mundo globalizado. Você estar em contato com outras culturas e conseguir se comunicar. Eu acho que isso é transformador, por isso queremos poder trabalhar nessa mudança, não só 5% das pessoas brasileiras que falam inglês como segunda língua, mas elevar esse percentual e fazer sermos notados. Eu acho que isso também vai trazer benefícios para o próprio país de forma geral. Queremos contribuir com isso por meio dessas pessoas que estão se desenvolvendo em inglês, ampliando sua visão de mundo, saindo ali da do bairro, da vizinhança. A gente quer fazer essas pessoas irem além.

CMN: São quantos jovens hoje na ONG? Quantos já passaram nesses cinco anos?
Ariane: A gente deve estar próximo de 3 mil jovens impactados diretamente. Fora ou indiretamente já são mais de 10 mil pessoas, porque o aluno tem amigos e tem outras pessoas. Nesse semestre, estamos com 330 jovens e até o final do ano a gente vai atender pelo menos de 600 a 700 pessoas. Com essa metodologia para além do impacto indireto, trabalhamos em média 600 até mil pessoas hoje na nossa capacidade de 900 ou mil pessoas por ano com o nosso programa.

CMN: E caso alguém queira ajudar, se voluntariar como faz?
Ariane: Você pode entrar no site da Soul Bilíngue (https://www.soulbilingue.com/ ), e temos três modalidades de voluntariado: os mentores de inglês, que são pessoas que falam inglês mas não são professores; teachers, que são os professores de inglês mesmo, e os psicólogos que também podem fazer parte do programa. Claro que doações são sempre muito bem-vindas, doações recorrentes para apoiar um jovem, para apoiar o programa como um todo.