A entrevistada do Café com Mogi News de hoje (11), é a Dra. Danysa do Nascimento, médica ginecologista e obstetra e idealizadora do Projeto Crê Ações de Biritiba Mirim que atende mais de 130 crianças, jovens e gestantes. A médica conta um pouco de sua trajetória profissional e destaca que se inspirou na mãe para iniciar a carreira e o projeto social. A mãe de Danysa, Elisabete Natali do Nascimento morreu em 2003, após batalhar contra o câncer de mama. A médica conta que a escolha pela medicina veio de um desejo de salvar a vida da mãe e alertar outras mulheres sobre cuidados com a saúde. "Tudo aprendi com a minha mãe, até produzi algumas peças para os enxovais. Ela é a minha inspiração. Ela fazia tudo à mão e entregava vários kits por mês. Depois que ela falaceu senti que tinha que dar continuidade ao trabalho", ressaltou.
Na entrevista do novo episódio do Café, com apoio da Padaria Tita, a médica conta que há 13 anos recebe doações de produtos para bebês e monta enxovais para gestantes em situação de vulnerabilidade social da região. Segundo Danysa, desde que começou, o projeto já entregou milhares de kits. Além disso, a médica realiza palestras gratuitas para mulheres sobre cuidados com a realização de exames preventivos de doenças como, por exemplo, o câncer de mama e de útero.
Além do projeto na área da saúde, a médica também promove ações culturais. No bate-papo, Danysa também destaca que a sede do Projeto Crê Ações atende atualmente mais de cem crianças com atividades culturais, dentre elas: capoeira, música, teatro, além de aula reparatória para o programa Jovem Aprendiz.
Além do projeto social, Danysa atua em dois consultórios próprios, o DT Maia, em Biritiba Mirim, e a Clínica Pólen, em Mogi das Cruzes, além de atuar em hospitais do município.
Café com Mogi News: Estamos começando mais um episódio do Café com Mogi News, e hoje a nossa entrevistada especial é com a médica ginecologista doutora Danysa do Nascimento. Seja muito bem-vinda, prazer em conhecê-la. Hoje nós vamos falar um pouquinho sobre a sua trajetória, mas antes fala um pouquinho do seu trabalho atual, hoje você trabalha na região de Mogi das Cruzes?
Dra. Danysa: Sim, hoje eu estou vivendo um momento bem legal, que eu estou com meus consultórios próprios, então lá em Biritiba eu tenho um consultório popular que eu montei pra atender a cidade, as minhas pacientes, já que eu não estou mais na rede pública, que chama DTMAIA. Tem o meu projeto social em Biritiba, que é o meu sonho, a minha meta de tudo que eu espero de bom pra minha vida e pra vida de todos e aqui em Mogi eu estou com uma clínica que chama Clínica Polin, que é ali no prédio do Helbor, perto do shopping, que é meu sonho mesmo. Chega um momento que você quer atender com calma, ter suas pacientes acolhidas então esse é um novo projeto que está bem legal.
Café com Mogi News: Então fala um pouquinho sobre a sua trajetória, o que que te levou pra medicina? Foi desde criança, é um sonho desde a infância?
Dra. Danysa: Não, eu nunca tive pretensão, na verdade eu gostava muito de animais porque a gente morava em um sítio lá em Salesópolis, eu sou de São Paulo, mas mudei pra Salesópolis com doze, treze anos, então eu mexia muito com animais, meu pai era fazendeiro, minha mãe também se dedicava ali a parte da fazenda, então eu gostava muito, mas no terceiro ano eu achei que medicina seria bacana, talvez cuidar das pessoas do mesmo jeito que eu fazia com meus bichinhos e aí eu fui para medicina. Fui estudar em Minas Gerais, em Alfenas, eu fiz minha faculdade em Alfenas, e voltei depois de formada pra Campinas, fiz minha residência em Campinas. E depois que voltei pra cá, onde eu vivi. Eu amo a medicina, meu pai quando ele morava em São Paulo ele era farmacêutico, então eu tinha uma inspiração nele por essa questão, antigamente o farmacêutico era um médico, né, ele fazia tudo, então na farmácia do meu pai ele fazia tudo, então isso também era inspirador para mim, mas eu gostava mais de animais. Decidi ser ginecologista porque no meio da minha faculdade a minha mãe teve câncer de mama, e aquilo mexeu muito comigo porque eu já estava entendendo e passando pelos estágios onde eu via o quanto que o câncer era devastador né então me deu muito medo, só que foi tudo bem, do terceiro ano até o sexto ela teve uma recuperação muito boa. Em 2001 quando eu me formei, ela teve um novo processo, metástase e desde então a gente curtiu ali aquele momento, ela faleceu em 2003, então, depois de formada, foram dois anos que ela conviveu comigo. Que bom que ela me viu formar, foi um orgulho imenso. E aí, a ginecologia foi por causa disso porque eu queria entender por que que uma mulher tão culta, tão inteligente, tão sensacional, porque ela era muito envolvida com projetos sociais, a minha inspiração de projetos sociais foi dela, por que que ela demorou tanto pra fazer os exames preventivos, por que que ela escondeu os nódulos que ela estava sentindo na mama. Então aquilo foi decisivo, eu tenho que fazer com que as mulheres se previnam, se cuidem e que não deixem para não contar o que está acontecendo, pra não procurar o ginecologista, então foi decisivo isso na minha na minha vida.
Café com Mogi News: E você acha que pode dizer que sua mãe foi a importância dessa tomada do caminho para sua profissão e também qual a importância das mulheres hoje em dia também que não tem feito esse acompanhamento, o câncer de mama ele tem crescido muito nos últimos anos...
Dra. Danysa: O câncer é muito curável, o que a gente pode falar do câncer de mama é que se ele tiver um diagnóstico precoce, se essa paciente fizer os exames preventivos, o de colo de útero também, não só o de mama, mas se essa mulher fizer os exames preventivos, passar no ginecologista anualmente e detectar, porque é pra isso que a gente passa, você passa no ginecologista à procura de que algo esteja errado, se está tudo bem perfeito, seguimos mais um ano, mas, quando acontece um diagnóstico, às vezes elas se frustram, porque dizem: meu Deus, eu passo todo ano, eu me cuido, o que aconteceu”. Então é exatamente para isso, para que se tenha um diagnóstico precoce, que pegue algo ali muito inicial e a gente consiga a cura total. O câncer de mama por exemplo, se o nódulo tiver até três centímetros um diagnóstico precoce, 95% de chance de cura, você vai ser curada. O câncer de colo de útero é a mesma coisa, ele é devido ao HPV, então olha que curioso, ele é devido a um vírus que é sexualmente transmissível e o caminho pra transformar um colo normal pra um colo alterado e chegar no câncer de colo de útero são anos. Então por que que as mulheres ainda estão morrendo de câncer de colo de útero? Então esse acho que foi o estopim para eu pensar que eu preciso ajudá-las na prevenção porque eu senti muito pela minha mãe. Quando a minha mãe nos contou de verdade o nódulo dela estava com mais de cinco centímetros, então você imagina uma mulher todos os dias convivendo, palpando na sua mama um nódulo mamário sabendo que aquilo podia ser algo ruim, mas por causa dos filhos da faculdade talvez. Meu pai numa vida muito louca de trabalho pra dar conta de pagar duas faculdades particulares, então, acho que ela não se achou no direito de preocupar as pessoas com isso e demorou muito diagnóstico. Depois do diagnóstico, ela viveu ainda 10, 11 anos, e realmente quando ela teve o diagnóstico já estava bem avançado, e aí é por ela, e ela é minha inspiração em todos os sentidos porque pelo meu projeto social, também foi por ela.
Café com Mogi News: Então fala um pouco pra gente do nome desse projeto.
Danysa- O meu projeto social, começou pela minha mãe, quando eu era bem novinha, uns 15,16 anos, um jovem um pouco ocioso dentro de casa, então ela me colocava pra fazer mantinha, ela comprou uma maquininha de tricô, ou ganhou, não me lembro, e ela descobriu que se ela fizesse várias barrinhas daquele tricozinho infantil, ela faria uma manta muito mais rápido, e ela entregava um enxoval por mês, porque era todo feito à mão, por causa da entidade espírita que ela fazia parte, então ela me colocou pra fazer, então eu tinha uma meta “você tem que fazer 20 fitinhas de tricô, faixas de tricô todos os dias” e aquilo pro jovem era chato “ai todo dia, todo dia” mas depois eu fui pegando amor por aquilo, vendo o enxoval ficando pronto, então eu comecei assim, ajudando minha mãe.
Então eu via que ela entregava 12 enxovais por mês, então depois que ela faleceu eu falei “eu tenho que começar a fazer alguma coisa” e ai eu andava com coisinhas de tricô, com mantinhas dentro do carro, conforme eu ia atendendo nos postos de saúde, eu ia entregando, eu ia ajudando uma mãe aqui, outra ali, eu fazia enxovais pequenos, um sabonetinho, um lencinho e uma mantinha por exemplo, só que aquilo foi aumentando, porque eu chegava pra atender no posto e todas as mães queriam passar comigo pra receber o enxovalzinho, era algo muito pequeno, mas elas vinham Esperando receber no final esse enxovalzinho e aquilo foi crescendo foi tomando uma proporção eu fui pedindo para minhas pacientes, olha que legal, elas perguntavam “Ah que que você faz” e eu comecei aqui na SAMED, inclusive, as pacientes da SAMED foram muito legais nesse sentido, elas falavam “eu fiquei sabendo que você entregou um enxovalzinho pra minha amiga que fez consulta com você pelo posto de saúde aqui da cidade” E aí elas falavam “vou te trazer o que sobrou do Meu nenê” E aí começou, as minhas pacientes traziam, então fralda que abriu e deu alergia, as roupinhas que não serviam mais, elas começaram a me trazer. Chegou um momento que a minha sala tava cheia. Aí eu falei não eu preciso começar um projeto social.
Meu marido é mestre de capoeira, nos conhecemos na faculdade e ele fazia um trabalho na faculdade e nós conhecemos lá e ele faz um trabalho social, desde lá era inspirador. Também lá em Alfenas, ele fazia um trabalho para os carentes ensinando a capoeira e aqui ele continuou.
Viemos morar aqui em Biritiba Mirim e ele continuou esse trabalho. Então seguia eu com meus Enxovais e ele em paralelo dando aula para as crianças. E aí nós falamos “vamos não vamos começar o nosso projeto social” E aí surgiu, ele chama projeto CreAções, a sede é lá em Biritiba Mirim, mas a gente faz entregas de enxovais o trabalho dele de capoeira envolve todo o Alto Tietê, fora isso agora o projeto tá grande, graças a Deus muito grande, então nós temos agora teatro, balé, street dance temos o preparatório profissionalizante, que é uma professora sensacional que é algo também que não acontecia e agora começou a acontecer. Já é a terceira turma, então tivemos duas turmas já formadas, fizeram formatura foi bem legal, então agora o projeto cresceu, a minha parte continua sendo de enxovais, apoio a gestantes, eu faço palestras educativas, então eu faço palestra para gestante e palestras educativas nas escolas nas escolas públicas aqui em Mogi, eu faço muita.
Quem me chama são sempre aquelas escolas estaduais, os monitores que ficam lá orientando, para falar sobre gravidez precoce, sexualidade, uso de drogas, então a parte social é essa.
Café com Mogi News- E você tem ideia assim de quantos Enxovais você já entregou? vocês sentem que elas, essas mulheres, se sentem em especiais quando recebem esses kits? Já que são mulheres que estão em situação de vulnerabilidade social?
Danysa- Tem pacientes que às vezes mandam mensagens, que não entendem que é de Biritiba ou que é localizado aqui, elas são de Minas, do Rio de Janeiro, de São Paulo, a gente mandou, deu um jeitinho fez uma rifa para ter dinheiro pro correio e a gente conseguiu mandar.
Agora em Biritiba e Alto Tietê, a gente entrega mais ou menos 40 enxovais por mês, mas isso é mais ou menos e é através de um cadastro na nossa página, na nossa rede social ou através do WhatsApp, preenche um formulário, só para cadastrar e a gente documentar que foi entregue, mas não é para ver se a pessoa precisa ou não, isso não faz parte do nosso projeto, a única coisa que a gente informa é que não são necessariamente tudo novo, então tem coisas semi-novas, como eu disse a minhas pacientes são maravilhosas, nossa as grávidas que caem comigo assim são anjos mesmo, ela se envolvem durante os nove meses com o meu projeto, aí elas vão lá levam tudo, leva cômoda, leva tudo berço, por anos, eu tenho pacientes que o neném tá com 4, 5 anos e continua levando toda a roupa, porque a gente também tem o Brechó pra sustentabilidade do projeto, já que a gente não tem o apoio Municipal, infelizmente ainda, somos utilidade pública municipal em Biritiba, Mirim, temos uma sintonia muito grande com a prefeitura, mas ainda não conseguimos, eu faço parte do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, o nosso projeto social é faz parte do Conselho Municipal para proteger mesmo a criança e adolescente, mas ainda nós não temos o recurso Municipal, nós temos alguns recursos do Estado e esses recursos vem através de editais que a gente participa, fica lá eu e o Ed, que é tipo um dos voluntários, a gente fica lá dia e noite montando, pensando aonde encaixa, então nós ganhamos alguns editais que nos deu uma tranquilidade para agir na cultura, mas para assistência ainda nós não temos apoio porque a assistência social, é um outro setor não cabe o que o Proac, que é onde nós ganhamos editais, não cabe nos projetos sociais, então a gente não pode passar pra assistência social, essa parte de assistência.
Mas estamos no caminho, minha gestantes são lindas, tudo que eu peço, quando eu ponho minha cara lá na no Instagram, o que eu peço, duas semanas mesmo atrás, quem quiser tá lá ainda o vídeo, eu falei “gente eu tô aqui no projeto vim fazer uns Enxovais” porque quem monta sou eu e meu marido e temos voluntários também, a Jussara é meu braço direito, mas a gente tá lá conversando e montando e aquela sala, parece que é mágica, você entra deve ser aspiração da minha mãe, você sai muito bem de lá, então é a gente fica lá montando o Enxovais e conversando.
E aí quando eu olhei tinha 10 lencinhos umedecidos, 10 enxovais e vai acabar esse lenço aí, eu entrei lá no ao vivo louca da minha na rede social e nossa veio muito veio, bastante todos os lados, lá na minha clínica na DTMaia, as pacientes têm um desconto, não é nem um desconto, é um carinho para quem leva algo para o projeto. Então elas já sabem que ajuda também e qualquer desconto ou qualquer oferecimento especial, a gente gosta, todo mundo gosta, então elas levam e aí elas têm um carinho na nossa parte lá.
Café com Mogi News: Doutora, a senhora comentou aí dos enxovais que no comecinho era o sabonete, era a mantinha e hoje eu vejo que pelas fotos lá eu dei uma olhada lá no Instagram, e eu vejo que tem por cor, tem azul.
Danysa- Isso, a gente põe, menino, menina e neutro e tem de tudo, é completo tem, manta, tem boddy, tem as saídas de maternidade.
Eu tenho uma senhorinha, eu não posso deixar de falar nela, ela apareceu pelas filhas dela que passam comigo, são minhas pacientes. Ela tem mais de 80 anos e ela manda todo mês, acho que uns 15 é casaquinhos que ela faz e ela costura também. Então ela faz calças de *pluche* aquele tecido bem molinho, bem fininho, ela também manda então, a gente manda essa saída maternidade que é a roupinha de tricô, toda bonitinha é tem tudo o que a gente espera, o que a gente quer impactar com esse enxoval...a gente quer que a paciente tenha dignidade de chegar a maternidade com tudo que ela precisa ali, para que ela não seja exposta, “não tem uma roupa pro meu filho” “não tem uma fralda para colocar” então é tudo o que gente quer, que ela esteja nesse momento pelo menos nos primeiros 40 dias amparada com roupinha, com fralda, com lenço, que é o que traz dignidade para esse momento que ela precisa.
Depois elas criam um vínculo com a gente, elas vão pedindo “Ah, Doutora ganhei uma fralda G, mas eu precisava de P, você troca comigo? ” e vai acontecendo, muita coisa legal, sabe? e a gente dá a voz para isso, porque a gente poderia falar “não, fica com o que você tem e a gente te dá o que você precisa”, mas é interessante essa troca, essa sustentabilidade, onde ela sabe que depois quando ela precisar da GG de novo, ela vai entrar em contato dizendo que a P tá pequena e a gente vai fazer essa troca, isso da a sensação para elas de que elas também são um apoio elas não são só as pessoas que precisam, elas também podem apoiar o projeto e a grande maioria devolve, eu às vezes mando mensagem e falo “mas faz um lote” Você viu que na internet agora se você fizer um potinho de roupa, você consegue vender e pegar outra coisa para o seu bebê, e elas falam “não Doutora, nós somos gratos, pelo que você fez agora tá um pouquinho melhor, nós vamos devolver” então as roupinhas voltam e isso é muito legal
Agora sim o nosso grande sonho, meu grande sonho, é fazer uma bolsa de maternidade personalizada do projeto CreAções, ainda não conseguimos, é cara, já tentamos diversas maneiras, existem até empresas que tem um valor bem acessível, só que se a gente gastar 20, 30 reais em cada é bolsa, a gente perde de fornecer o básico, então infelizmente a gente ainda entrega num saquinho, mas a bolsa é muito importante também para dignidade, vai acontecer vocês vão ver.