O novo episódio "Café com Mogi News" desta terça-feira traz a segunda parte da entrevista sobre o Projeto Guerreiras, promovido pelo Centro Oncológico Mogi das Cruzes em parceria com a Rede Guiomar Pinheiro Franco, em referência a campanha Outubro Rosa, de conscientização e prevenção ao câncer de mama. Depois do idealizador da iniciativa, dr. Álvaro Isaías Rodrigues, diretor administrativo do Centro Oncológico, desta vez destaque para Lenita Kelly de Oliveira, que é assistente administrativa, e a aposentada Maria Helena de Freitas. Elas, juntamente com as outras 11 mulheres da exposição, têm inspirado e acolhido outras mulheres na luta contra a doença.
As fotos inspiradas em guerreiras amazonas que seriam para um calendário, previsto para o fim deste ano, também deu origem a uma exposição itinerante, que percorreu Mogi das Cruzes, Poá e Suzano, e estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
"Eu me coloquei à disposição para falar para as pessoas que existe cura, existe tratamento, para elas não se conformarem com qualquer resposta. Se você olhar para o seu corpo e sentir algo diferente vá em um, dois, três, quatro, dez médicos se for preciso, mas descubra o que você tem, e trate o que você tem, porque o câncer hoje tem cura", destacou Lenita.
"Graças a Deus estou curada. Há um ano atrás tive uma suspeita no tórax e foi investigado. Fiquei bem apreensiva novamente, graças a Deus não deu maligno, e vida que segue. Eu sou uma pessoa muito abençoada mesmo, e a gente está aqui para passar isso para as pessoas", contou Maria Helena.
O Café com Mogi News, em parceria com a Padaria Tita, traz histórias de superação e exemplos da comunidade. Saiba mais nesta entrevista especial.
Café com Mogi News: Conte um pouco para a gente da sua experiência e da sua história.
Lenita Kelly de Oliveira: Eu fazia o acompanhamento de minhas mamas desde os 33 anos, e eu falo para todo mundo que eu sempre achei que isso fosse acontecer algo, mas a gente nunca quer acreditar que isso vá acontecer com a gente.
CMN: Você tem histórico na família?
Lenita: Eu tenho, mas fiz testes genéticos e foi comprovado que não foi genético. Mas eu sentia, eu tinha um cisto nas minhas mamas e eu sentia dores e acompanhava. Quando em julho de 2020 passei no mastologista e eu tinha um carocinho pequenininho. Um ano depois veio a pandemia e aquela correria, ninguém vai atrás de tratamento, ninguém foi porque é difícil de acompanhar e eu me descuidei um pouco. Eu falo que eu pegava o sabonete e pegava na minha mão e eu passava o sabonete nas minhas mamas, então eu não me tocava. Um belo dia eu estava junto com meu namorado e ele falou assim para mim: “Lê, você já viu um carocinho no seu peito?”. Aí eu peguei e falei: “Ah, eu tenho um monte de caroço no meu peito”. Ele falou “depois você dá uma olhadinha com calma”, e falei “tá bom, depois eu vejo.” Três dias depois eu estava tomando banho, aí eu fiz diferente. Eu peguei o sabonete, passei nas minhas mãos e depois eu fui passando nas minhas mamas. Quando eu passei, eu senti algo duro na parte de baixo, porque a mama dobra e ficava em baixo, então eu não sentia. Aí eu desliguei o chuveiro, comecei a passar a mão e comecei a ficar atrapalhada. Fui, peguei o celular “ah, achei um caroço aqui, agora estou com medo, estou preocupada.”. Só que eu falo que esse alerta dele (namorado) para mim, porque eu não tinha visto, fez com que salvasse a minha vida. Por quê? Eu ia para o meu ginecologista, que eu já tinha marcado consulta para a outra semana, mesmo sem ter descoberto nada; era rotina. Isso fez com que eu chegasse na sala falando para o médico.
CMN: Então antes já era algo?
Lenita: Já era algo, mas não tenho certeza. Mas um ano depois eu fui de novo, dei esse alerta para o médico, ele me examinou e me pediu os exames de rotina. Quando eu entreguei os exames, ele falou “nossa, esses exames parecem exames de bebê”. Por quê? Eu sempre fiz atividade física, eu não bebia, não fumava, então eu tinha uma qualidade de vida boa. E aí ela falou assim: “Vamos fazer o seguinte, vamos pedir uma punção?”. Porque o meu exame de ultrassom deu cisto, não deu nódulo. Então o exame de ultrassom, embora eu tenha feito em um laboratório renomado, ele deu errado. Mas o meu ginecologista salvou minha, porque ele falou “vamos fazer punção”. Eu falei para ele “mas doutor, vai mexer com o que está quieto?”. Aí ele olhou bem para o meu olho e falou “ninguém está quieto. Você está sentindo dor. Tem alguma coisa errada, mas é 98% de ser nada”. E os 2% era o câncer.
CMN: Faz toda a diferença se sentir acolhida?
Lenita: Quem faz tratamento oncológico precisa de amor, e os médicos precisam aprender isso. Eles precisam dar amor. Se eles escolheram essa profissão foi para isso. Eu falo que eu fui muito abençoada, eu tive muito Deus na minha vida durante todo o meu tratamento, porque teve um amigo nosso em comum, do nada apareceu no escritório no dia em que eu tinha pego o resultado do exame, e ele falou assim “Lenita, ontem eu fui no médico aqui de Mogi” - o Doutor Baeta (Adriano), e eu sou muito grata ao Doutor Baeta por tudo que ele fez. Então eu tive uma benção de Deus na minha vida muito grande, porque eu não precisei esperar, eu já fui sendo direcionada, então quando eu cheguei lá ele já me direcionou para tudo que eu precisava. Eu não tinha certeza de que estava com câncer, mas eu tinha uma suspeita e, quando a gente tem uma suspeita, o tempo é muito curto. Ele me direcionou para os melhores médicos daqui da região. Eu não sabia que havia lugares tão bons para fazer o tratamento oncológico, porque a experiência que eu tive foi muito ruim com o meu pai que teve câncer e já chegava no hospital como um moribundo. Ele nunca foi tratado como o ser humano que ele era. E eu fui, fiz os meus exames, recebi meu diagnóstico e aí começou a minha batalha.
CMN: Você fez quimioterapia, radioterapia e cirurgias?
Lenita: Fiz 16 quimioterapia, fiz uma cirurgia, tirei um quadrante da mama, e fiz 18 sessoes de radioterapia
CMN: Hoje como você está?
Lenita: Tive resposta completa do meu tratamento, eu estou curada. Fui muito bem tratada no Centro Oncológico, que é o que eu falo sempre, por isso que eu me coloquei à disposição para estar participando do projeto. Eu sinto como se hoje fosse um chamado na minha vida, porque eu não tive colo no começo para ninguém me orientar. Quando você é diagnosticada com câncer para todo mundo é o fim da vida. Eu fiquei doente 20 dias, durante 20 dias. A minha cabeça era você vai morrer mas o meu corpo era saudável, então eu tive que entender isso, só que eu tive que aprender sozinha. Hoje eu me coloquei à disposição para falar para as pessoas que existe cura, existe tratamento, para elas não se conformarem com qualquer resposta. Se você olhar para o seu corpo e sentir algo diferente vá em um, dois, três, quatro, dez médicos se for preciso mas descubra o que você tem, e trate o que você, porque tem cura, o câncer hoje tem cura. O tratamento é dolorido, a gente sofre, o emocional fica abalado, mas é passageiro, um período que você passa e esse período é de cura interna. Quando você é diagnosticado, quando você abre seus olhos e seus ouvidos, você consegue olhar as pequenas coisas na sua vida e foi o que aprendi no meu tratamento a valorizar as pequenas coisas.
CMN: Como foi participar do calendário e da exposição?
Lenita: Eu decidi participar do projeto. Eu sou muito reservada, eu não gosto muito de ficar me expondo para as pessoas, mas eu me coloquei à disposição exatamente para isso, para ajudar outras vidas, para que as outras pessoas se espelhem. As pessoas às vezes falam que a motivação vem de dentro para fora, e não, às vezes a gente tem que olhar de fora e falar: "ela ficou bem, olha como o cabelo está crescendo, ela não precisou tirar a mama, ou ela tirou a mama e está muito bem". Então tem que vir de fora para dentro algumas vezes para a gente poder se levantar e correr atrás. Quando o dr. Baeta falou pra mim: "Lenita, levanta a manga da sua camisa e vai atrás da sua cura", é isso que eu falo para todo mundo - se você foi diagnosticado, vai atrás da sua cura, vai buscar ajuda, vai atrás, se levanta. Não se encurve para uma doença que está sendo combatida, porque às vezes a gente fica pensando: "Ah, eu tive câncer, vou ter de novo, e todo mundo pode ter". Hoje todo mundo tem que se cuidar. A gente tem que zelar pelo bem maior que Deus deu que é a nossa vida e é por isso que eu me coloquei à disposição do projeto, para as pessoas aprenderem a se olhar com amor, a se cuidar, a ir atrás, zelar pela vida delas e acreditar que se acontecer algo, que tem cura porque eu sou a prova viva de que tem cura.
CNM: Outra guerreira é a Maria Helena. Conta um pouco da sua história e da sua participação no projeto.
Maria Helena de Freitas: Tudo começou em 2013, através de exame também de rotina pelo médico ginecologista, e como nossa amiga Lenita, também sempre fui uma pessoa super ativa, fazia atividade física, nunca imaginava na vida que isso pudesse acontecer. Eu estava acompanhando a minha mãe na época com suspeita de câncer também. Naquela ansiedade, naquela angústia, na possibilidade de ela vir a ter um câncer, e aquilo me deixou muito ansiosa, muito angustiada. Nisso eu tinha feito meu exame de mamografia, fui pegar meu resultado depois de um mês mais ou menos e lá estava eu com câncer de mama. O chão da gente se abre, fica muito mal, achando que não vai conseguir. Também não questionei em nenhum momento porque comigo, sendo que pode acontecer com qualquer pessoa. Eu fiquei muito angustiada, mas pensei a minha mãe, e graças a Deus ela não teve nenhum problema de câncer, só umas infecções. Eu tenho um filho para cuidar, tenho uma mãe para cuidar, tenho minha família, é muito difícil mas a luta foi grande também, mas estou aqui para contar essa história.
CMN: Você passou por radioterapia, quimioterapia e cirurgia também?
Maria Helena: Sim, eu me deparei com uma situação também sem convênio. Eu tinha me separado, então perdi meu convênio, e tudo isso vem deixar a gente mais aflita sem um convênio médico, o SUS (Sistema Único de Saúde) enfim, mas não, isso é um mito. Eu fui muito abençoada e sou até hoje, porque tive um atendimento de primeira.
CMN: Você fez tudo pela rede pública?
Maria Helena: Tudo, e anjos que apareceram na minha vida. O médico também que é o dr. Baeta, que é uma benção nas nossas vidas, me ajudou demais. Tudo aconteceu muito bem, muito rápido, todo procedimento. Na época em 2013, já havia essa possibilidade da prótese pelo SUS, e eu consegui a mastectomia com a reconstrução imediata. Pedi muito para Deus que não desse alguma rejeição porque pode acontecer, mas é difícil. Enfim tudo deu certo, graças ao bom Deus e nisso já iniciou o tratamento de quimio e radio.
CMN: Qual a sua situação hoje?
Maria Helena: Graças a Deus de curada. Há um ano atrás tive uma suspeita no tórax, foi investigado, fiquei bem apreensiva novamente. Graças a Deus não deu maligno, e vida que segue. Eu sou uma pessoa muito abençoada mesmo. A gente está aqui para isso, para passar isso para as pessoas.
CMN: E como surgiu o projeto na sua vida, era calendário e se transformou em exposição ?
Maria Helena: O calendário realmente foi uma bênção, muito gratificante. Na verdade, depois de tudo isso, eu tinha uma necessidade enorme de estar ajudando alguém, de procurar levar alguma coisa e não sabia como. Nisso eu conheci umas meninas do Centro Oncológico de Mogi, em 2016, e nós achamos a necessidade de criar um grupo para ajudar pessoas. É um grupo que nós criamos no WhatsApp para orientar, para ajudar algumas pessoas que estão em tratamento também. Passou o tempo, e mais esse convite pelas amigas do Centro Oncológico para participar desse grandioso evento, e eu abracei com toda benção mesmo e muito grata por poder ajudar tantas pessoas aí que precisam do nosso apoio, da nossa experiência com tudo isso. Inclusive, na época da retirada da mama, eu comecei a abraçar várias causas, inclusive de micropigmentação da sobrancelha que ajuda muito na autoestima da gente, e levar para essas pessoas que acham que a beleza não tem mais jeito, mas tem jeito. A gente independente de beleza ou não, a gente tem que estar bem dentro da gente. O Centro Oncológico é uma outra mãe para mim também, além do hospital onde eu tive o tratamento. Não sou paciente mas estou ali firme e forte com eles. Eu sinto um imenso orgulho de estar participando desse projeto, que é lindo e maravilhoso e levar isso adiante sempre, não só no Outubro Rosa, mas todo ano.
(Colaborou Geraldo Campos)