Ao afirmar que a humanidade não foi capaz de conter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius (ºC) – meta definida pelo Acordo de Paris há dez anos –, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou que é imprescindível mudar de rumo e com urgência. “Vamos reconhecer o nosso fracasso”, admitiu Guterres em entrevista concedida antes da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que começa em 10 de novembro. Ao jornal Guardian e à agência de notícias Sumaúma, sediada na Amazônia, o secretário-geral da ONU reconheceu “que não conseguimos evitar um aumento acima de 1,5°C nos próximos anos”. “Ultrapassar 1,5°C tem consequências devastadoras. Algumas dessas consequências devastadoras são pontos de inflexão, seja na Amazônia, na Groenlândia, na Antártida ocidental ou nos recifes de coral”, avisa Guterres. “Não queremos ver a Amazônia como uma savana. Mas este é um verdadeiro risco se não mudarmos de rumo e se não reduzirmos drasticamente as emissões [de gases de efeito estufa] o mais rápido possível.” Planos de ação A última década foi a mais quente de todas, desde que se tem registro. No entanto, nem um terço das nações do mundo (62 países de 197) enviou seus planos de ação climática, conhecidos como contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) no âmbito do Acordo de Paris. Os EUA, sob a liderança de Donald Trump, abandonaram o processo. A Europa prometeu, mas até agora não cumpriu. A China, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa, foi acusada de não assumir compromissos suficientes. Indígenas O secretário-geral da ONU pediu também que as comunidades indígenas passem a ter maior presença e influência na COP30 do que as pessoas pagas por empresas. “Todos sabemos o que os lobistas querem”, afirmou Guterres. Os lobistas querem “aumentar os seus lucros, e o preço será pago pela humanidade”. “É fundamental investir naqueles que são os melhores guardiões da natureza. E os melhores guardiões da natureza são precisamente as comunidades indígenas”, defendeu o secretário-geral da ONU. Esta foi a primeira vez que o secretário-geral concedeu uma entrevista exclusiva a um jornalista de uma comunidade indígena, Wajã Xipai, repórter da Sumaúma do povo Xipai, que se juntou ao Guardian. O ano de 2026 será o último de António Guterres como secretário-geral da ONU. Ele admitiu que gostaria de ter se concentrado nos temas clima e natureza mais cedo, embora ambos sejam prioridade agora.  COP30 Aos líderes que vão ser reunir na COP30, o secretário-geral das Nações Unidas pediu que não adiem por mais tempo o corte nas emissões de gases com efeito de estufa.  O evento ocorrerá no Brasil, de 10 a 21 de novembro. *É proibida a reprodução deste conteúdo Relacionadas Atletas pedem reforço no combate às mudanças climáticas antes da COP30 Caravana social vai à COP30 denunciar megaprojetos do agronegócio