O Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, ganha um novo e importante reforço com a recente sanção da Lei nº 15.199. A nova legislação não apenas oficializa a campanha, mas também estabelece o dia 17 de setembro como o Dia Nacional de Prevenção da Automutilação e esta quarta-feira, dia 10 de setembro, para a Prevenção do Suicídio. Em um cenário global onde mais de 1 bilhão de pessoas enfrentam transtornos mentais como ansiedade e depressão, Eliana Santos de Farias, coordenadora do curso de Psicologia do Centro Universitário Braz Cubas, destaca a urgência de uma abordagem contínua e preventiva sobre a saúde mental.
"Como toda data específica, essa serve para pararmos e refletirmos sobre a saúde mental. O Setembro Amarelo ajuda a quebrar o silêncio e mostrar que falar sobre saúde mental é fundamental", destaca a professora. Ela ressalta o impacto da campanha em promover a educação sobre os sinais de alerta, desmistificar o tabu do suicídio e, crucialmente, em criar uma rede de apoio mais forte, incentivando a solidariedade e a empatia.
A especialista enfatiza que a saúde mental não deve ser abordada apenas em momentos de crise. "A crise não acontece do nada. É preciso algum tempo em sofrimento para alcançar este nível de sofrimento psíquico", esclarece. Por isso, a prevenção e o autocuidado diário são pilares essenciais para manter o equilíbrio emocional. Pequenas ações cotidianas podem fazer uma grande diferença, e a professora Eliana aponta para a importância da autopercepção para buscar ajuda profissional, quando necessário.
Além disso, segundo ela, a adoção de hábitos saudáveis é fundamental: atividades físicas, que auxiliam na produção de neurotransmissores e, se feitas ao ar livre, ampliam o repertório social; uma boa higiene do sono, essencial para um descanso reparador; uma alimentação equilibrada, que contribui para o bem-estar geral; e, por fim, uma vida social de qualidade, cujo valor não deve ser subestimado.
Com mais de duas décadas de experiência na área, a psicóloga ressalta que a identificação de sinais de alerta é um pilar fundamental na prevenção do sofrimento emocional. "Esses sinais são, muitas vezes, mudanças no comportamento, nos padrões de pensamento ou nas emoções", ressalta. Ela orienta a observar o isolamento social, a perda de interesse por atividades que antes davam prazer, oscilações extremas de
humor, irritabilidade, desesperança, e alterações no sono e na alimentação.
A docente também alerta para falas que expressam desesperança ou falta de sentido na vida. "A busca por ajuda profissional não deve ser vista como um último recurso, mas sim como um ato de autocuidado e de coragem", afirma a coordenadora. Ela indica que o momento de procurar ajuda é quando o sofrimento emocional interfere significativamente nas áreas da vida, como trabalho, relacionamentos ou rotina diária. "Quanto antes você buscar esse apoio, mais efetivo e menos desgastante será o processo de recuperação", complementa.
Burnout e crises emocionais
O Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, é um desafio alarmante que tem se tornado cada vez mais comum, impulsionado pela pressão excessiva por produtividade, a cultura de "estar sempre ligado" e a ausência de limites claros entre vida pessoal e profissional. Eliana diferencia o Burnout do estresse "normal": enquanto o estresse pode ser comum e pontual, o Burnout é um distúrbio emocional grave, resultado do estresse crônico no trabalho, manifestando-se como exaustão física e mental extrema, despersonalização e ineficácia. Para prevenir o Burnout, a psicóloga sugere estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal, priorizar o autocuidado com exercícios, alimentação e sono, além de aprender a dizer não e delegar tarefas.
A juventude, em particular, é mais vulnerável a crises emocionais devido às grandes mudanças biológicas e sociais, à intensa pressão por desempenho e à constante comparação nas redes sociais. Os cuidados preventivos para jovens focam no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, enquanto para adultos, o foco é o manejo do estresse crônico, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a qualidade das relações.
Além do Burnout, psicólogos estão preocupados com o aumento de transtornos de ansiedade generalizada e depressão, nomofobia (medo irracional de ficar sem o celular), síndrome de JOMO (Joy of Missing Out) e perfeccionismo excessivo. "Para além das questões já experienciadas em nossa história de vida, há um consenso sobre manter o corpo biologicamente mais equilibrado. Então, o hábito de atividade física e interações sociais de qualidade ajudam na produção de substâncias (neurotransmissores) que regulam a química do nosso cérebro", explica.
Para este Setembro Amarelo, Eliana deixa uma mensagem essencial: "Você não está sozinho e a sua dor é válida. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem e, ao invés de esperar a crise chegar, busque o autocuidado em pequenos hábitos diários, sem medo ou vergonha. Lembre-se que procurar ajuda profissional é um sinal de força, e não de fraqueza, um passo essencial para uma vida mais plena e resiliente. A ajuda profissional pode vir de profissionais particulares, convênio médico ou SUS."