O Grupo Mogi News/DAT segue a sequência de reportagens especiais sobre o Abril Azul - Mês de Conscientização Sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), com entrevistas com Carolina Jimenez, mãe de Helena, de 5 anos, e Virgínia Leidi, mãe de Lucas, 4. As crianças têm TEA e fazem tratamento na Clínica Sinapses, em Mogi das Cruzes. Elas contam como foi receber o diagnóstico e os primeiros passos para iniciar o tratamento dos filhos. Confira também a gravação com as mães em nosso canal no YouTube - PortalNews Oficial, que também reúne entrevistas com especialistas no tema de diferentes especialidades.
Carolina, que já tinha duas meninas, destacou a importância do acompanhamento precoce e o papel da família para o desenvolvimento da caçula Helena. Ela relembrou o emaranhado de sentimentos ao descobrir o autismo e a felicidade pela evolução da filha.
Mogi News: O que te levou a procurar um pediatra?
Carolina Jimenez: Desde um ano e um mês, percebemos muito a necessidade da Helena em estar em casa a todo tempo, e não querer estar em lugares aglomerados. Ela chorava muito, mas quando chegava em casa parava.
Quando ela foi para a escolinha, com um ano e oito meses, eu perguntei para a professora se o comportamento dela era comum. E ela me disse que 'tudo bem, tudo normal, a única coisa que vejo de relevante é que parece que ela não ouve muito bem'. A partir daí eu busquei o pediatra.
MN: Qual foi a orientação do pediatra?
Carolina: Na verdade, se eu tivesse ouvido o posicionamento do pediatra na época, eu não teria entrado com o tratamento precoce, porque ele disse que cada criança tinha seu tempo e que eu deveria esperar que em algum momento a Helena iria falar. Eu ainda insisti e perguntei para ele se poderíamos fazer alguns exames e encaminhamento ao neuropsicólogo.
Naquele momento, eu saí com um encaminhamento para o psiquiatra infantil e para a neuropsicóloga, e foram reportados para mim 23 tipos de exames. Com todos os exames, o psiquiatra me disse que estava tudo normal, e encaminhou a Helena para avaliação com uma equipe multidisciplinar para analisar o comportamento dela. Depois que passei por cinco sessões com a Helena, sendo uma em que a equipe aqui da Sinapses foi avaliá-la na escola, chegamos no diagnóstico de autismo.
MN: Como foi esse processo?
Carolina: Foi uma adaptação para todos da família, por isso precisávamos acompanhar a rotina das terapias tanto quanto a rotina das irmãs mais velhas, que também precisavam entender todo o contexto, que para a Helena todo o aprendizado era diferente. Mas, mesmo sendo diferente, sempre introduzimos o comum, e acho que isso foi muito importante para a fala, verbalização e socialização.
MN: Mudou a socialização da Helena?
Carolina: Não só com a família, com todos. Hoje ela para em fila de supermercado e começa a conversar com quem está atrás.
Superação
Já Virgínia Leidi, mãe de primeira viagem, contou que foi durante a pandemia de Covid-19 que identificaram comportamentos incomuns no filho Lucas.
MN: O que você viu no Lucas que chamou sua atenção?
Virgínia Leidi: Até um ano e dois meses estava tudo ótimo e como é meu único filho eu não tinha essa referência. Aí começou a pandemia em 2020 e ficamos isolados. Muitas coisas ele deixou de fazer. Ele falava algumas palavras e parou, mandava tchau para todo mundo e parou. As coisas começaram a regredir. Eu comecei a negar, pensando que poderia ser a pandemia, mas o tempo foi passando e realmente ficou muito marcante. Então começou uma angústia, que se tornou força para marcarmos com uma pediatra.
A pediatra o encaminhou para uma fonoaudióloga e chegamos na Sinapses. A nossa querida doutora Luciana Garcia simplesmente começou com as intervenções urgentemente. Eu lembro até hoje que neste dia eu perguntei para ela quanto tempo era de tratamento, se um mês ou dois. Não tinha a mínima ideia do que era autismo. Ela sorriu de uma forma muito amorosa e falou: 'é para a vida toda'. E fomos avançando e conquistando cada caminho. Não é fácil, mas cada vez que eu olho para trás eu vejo o quanto a gente conquistou, o quanto a gente abraça e acredita no Lucas. É marcante para mim até hoje, a intervenção precoce, acreditar e aceitar também, porque levou um tempo grande para mim.
MN: A sua primeira ao receber o diagnóstico do Lucas foi negar?
Virgínia: A primeira, mas que durou bastante tempo. Quando a gente aceita, tudo flui de uma forma melhor, até para eles.
MN: E como está o Lucas hoje?
Virgínia: Hoje em dia é uma fase em que todos os dias eu agradeço por ter começado cedo. O Lucas está muito bem e eu acredito e acreditamos muito nele. Sempre fui muito orgulhosa dele, mas hoje eu não tenho nem palavras para dizer o que eu sinto e vivo todos os dias com ele.
MN: Ele voltou a mandar tchau?
Virgínia: Ele voltou! Tem muito mais a conquistar, mas tem uma questão: coração de mãe não se engana. Então podemos ter um monte de questões como pandemia, conselho de pediatra, esperar o tempo deles, mas o coração de mãe não se engana. Também é importante não cair na negação, porque (o autismo) não é nada. Temos que abraçar, e conquistar. Família, terapia e escola, todo mundo unido, do contrário não funciona. O Lucas é meu maior orgulho e sei que a cada dia vai conquistar mais e mais coisas do jeito que ele é. Cada um é como é, e está tudo bem.
*Texto supervisionado pelo editor.