O segundo mês do ano é dedicado à campanha Fevereiro Laranja, que tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a leucemia e a importância da doação de medula óssea. De acordo com a revista Abrale, nos últimos três anos, cerca de 8,4 mil crianças receberam um diagnóstico de câncer. Quase 1/3 (28%) desses diagnósticos são de leucemia infantil, o câncer mais comum na faixa etária de 0 a 19 anos.

O Dr. Roberto Plaza, Oncologista e Hematologista Pediátrico do Centro Oncológico de Mogi das Cruzes e do Instituto do Tratamento do Câncer Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), ressalta a importância do diagnóstico precoce. "Em geral para os cânceres infantis, ele melhora muito o prognóstico, pois quanto mais cedo a doença é identificada, mais localizada ela é, o que facilita e permite tratamentos menos intensivos, menos complicações e nos casos de tumores sólidos cirurgias mais conservadoras. Nas leucemias, quanto mais cedo se faz o diagnóstico, melhor será a sua classificação de risco, menores serão as complicações que a doença pode provocar e menor será o risco da doença voltar", afirmou.

O médico afirma que "a leucemia é um tipo de câncer maligno, que causa o acúmulo de células doentes na medula óssea que é a nossa fábrica do sangue, onde essas células doentes substituem as saudáveis. É uma doença dos glóbulos brancos (leucócitos), que sofrem uma mutação e passam a proliferar de maneira descontrolada e substituem as células normalmente produzidas na medula óssea, impedindo que sejam formadas, além desses céluas malignas caem na circulação sanguínea e invadirem outros órgãos do nosso corpo", destacou.

Segundo Plaza, os principais sintomas decorrem da não fabricação dos elementos normais da medula óssea e são: anemia, febre e sangramentos que muitas vezes aparecem num intervalo curto de tempo como no caso das leucemias agudas da infância, além de outros decorrentes da invasão das células malignas de outros órgãos através da corrente sanguínea como aumento dos gânglios linfáticos (as chamadas ínguas), aumento do baço, aumento do fígado, dores ósseas (mais comum nas leucemias linfóides agudas) e cefaléia, nos casos raros quando ela invade o sistema nervoso central.

De acordo com o Oncologista, a leucemia pode ser confundida com outras doenças. "Inicialmente pode sim, como algumas doenças infecciosas (mononucleose, leishmaniose e outras), doenças hematológicas como a Trombocitopenia Imune Aguda (doença benigna que também acomete crianças mais e provoca sangramentos, mas só por diminuição das plaquetas) e aplasia de medula óssea (doenças raras onde a medula óssea deixa de funcionar por alteração no tecido da fábrica do sangue).

O especialista esclarece que o primeiro exame a ser feito é um hemograma simples onde poderão ser constatadas a anemia, a diminuição dos glóbulos brancos saudáveis ou mesmo aumento de glóbulos brancos malignos (chamados de blastos) e diminuição das plaquetas (células responsáveis por evitar que sangremos), sendo que para o diagnóstico definitivo o paciente deverá ser submetido a uma punção aspirativa da medula óssea com uma agulha, exame conhecido como mielograma onde o material da fábrica do sangue será analisado no microscópio e também enviado para outros estudos para melhor identificação do tipo específico de leucemia como imunofenotipagem, citogenética e de biologia molecular (identifica as mutações) que orientam o melhor tratamento e ajudam a definir o prognóstico da doença.

Cânceres mais comuns

Plaza contou que "os câncer mais comuns da infância são as leucemias agudas que correspondem a 30%, seguidos dos tumores de sistema nervoso central (20%), linfomas (12%) e alguns tumores sólidos embrionários que acometem a região abdominal que são o neuroblastoma (supra renal) e Tumor de Wilms (tumor renal) ambos correspondendo a 7% dos cânceres infantis".

De acordo com o Oncologista e Hematologista Pediátrico, as leucemias predominantes na infância são as leucemias agudas, onde as células malignas se multiplicam mais rapidamente por sofrerem a mutação que a originam numa fase muito imatura, levando-as a se multiplicar rapidamente. Em 80% doas casos são do tipo linfóide aguda e em 20% do tipo mieloide aguda. Leucemias crônicas de evolução mais lenta e mais comuns no adulto são muito raras na infância, correspondendo somente a 3% dos casos.

Para o especialista não se conhecem com precisão os fatores que causam a leucemia e, portanto, não existe uma forma de prevenção. "Somente em 4% das vezes são identificados fatores predisponentes como a exposição a irradiação prévia (Bomba atômica de Hiroshima), a exposição excessiva a determinados produtos químicos (benzeno e pesticidas), além de algumas doenças que aumentam a chance da criança desenvolver a leucemia como Síndrome de Down, Anemia de Fanconi (aplasia medular congênita) e certas doenças imunológicas congênitas raras como ataxia-telengectasia, Síndrome de Bloom, além de exposição prévia a determinados tratamentos para o câncer (radioterapia e a algumas medicações quimioterápicas específicas)", disse.

Plaza ressaltou que "na infância, as chances de curas são extremamente grandes, chegando a aproximadamente 80-90% nos casos das leucemias linfóides agudas que são as mais frequentes e de 60-70% para os casos de leucemias mieloides agudas. Nos raros casos de leucemia mieloide crônica, o uso de terapia dirigida contra a mutação que causa a doença, através de uma medicação em forma de comprimido denominada mesilato de imatinibe, provocou uma revolução no seu tratamento, possibilitando o controle e cura da doença sem a necessidade de transplante de medula".

Dúvidas frequentes

O câncer/leucemia pode ser hereditário?

Plaza: "Importante esclarecer isso. As pessoas confundem as palavras genética com hereditária. O Câncer e a leucemia são doenças onde acontece uma mutação genética nas células previamente saudáveis do nosso corpo previamente durante a vida do ser humano.

Na grande maioria absoluta das vezes, como no caso das leucemias não são hereditários, não sendo transmitidas de geração para geração".

Existem tratamento de prevenção nos protocolos infantis?

Plaza: "Não existem tratamentos de prevenção para as leucemias na infância. Como o diagnóstico precoce é o mais importante, as crianças e adultos devem fazer seus exames sanguíneos de rotina anualmente, principalmente o hemograma completo de rotina todos os anos, além de ter uma vida saudável, uma boa alimentação e evitar a exposição a produtos químicos tóxicos e irradiações ionizantes. Aí sim, as chances de desenvolver cânceres ao longo da vida diminui em muito!".

Todos os casos precisam de transplante?

"Raramente as crianças necessitam de transplante de medula óssea. As leucemias agudas, principalmente a leucemia linfóide aguda que corresponde a maioria dos casos chegam a apresentar 90% de cura com o tratamento usando combinação de agentes quimioterápicos seguindo as recomendações de protocolos bem estabelecidos. O transplante ficará reservado aos 20 % dos casos de recaída da doença (quando ela volta) e para os casos mais raros de leucemia mieloide aguda quando pela sua maior agressividade e menor chance de sucesso o transplante estiver indicado!".

De acordo com o especialista a quantidade de doadores de medula óssea no Brasil tem melhorado ao longo dos anos, mas ainda é muito pequena se compararmos a outros países desenvolvidos. "Existe muita desinformação sobre o tema. Ë muito fácil se tornar um doador voluntário. Basta ir ao Hemocentro da sua cidade, realizar seu cadastro no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula óssea (Redome) e apenas coletar uma amostra de sangue que será necessária para realizar a tipagem do HLA (identificação de possível compatibilidade com o HLA de outras pessoas), ser saudável. É um ato de Amor que não dói nada e pode ajudar a salvar vidas", destacou.

Liz Paranhos

No mês passando, o Grupo Mogi News/Dat publicou a história da suzanense Liz Paranhos, de apenas 1 ano e 7 meses. A menina foi diagnosticada com leucemia quando completou o primeiro aniversário e, desde a descoberta, Liz realiza o tratamento para combater a doença. A criança passa por atendimento no Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (GRAACC), está em fase de remissão da doença, segue com as quimeoterapias à caminho da manutenção e não tem indicação para transplante por estar respondendo bem ao protocolo.

Amigos e familiares da menina fizeram uma vaquinha online para ajudar a família com os custos do tratamento. Os interessados em contribuir podem acessar o site https://www.vakinha.com.br/3196479 ou por meio do pix [email protected]. Mais informações de Liz Paranhos podem ser acompanhadas por meio das redes sociais @lizparanhos