Havia um perfume de mirra (incenso) no ar. O vento esbarrava no pé-de-pluma - que geralmente floresce no inverno - e preenchia o jardim com aquele aroma marcante. Além dos bancos de madeira e a grama bem aparada, o terreno cultivado com flores e plantas ornamentais, situado bem no centro de Mogi das Cruzes, ainda ostenta uma árvore flamboyant centenária. Este é o primeiro jardim mogiano, construído no século 18 para servir de quintal aos religiosos do Convento do Carmo. Foi neste ambiente que o coordenador de Acervo da Província Carmelitana de Santo Elias, Marcos Antônio Siqueira Marques, de 42 anos, responsável pelo espaço, concedeu entrevista ao Mogi News. "Aqui dentro não dá para imaginar que estamos bem no centro da cidade", diz Marques. O espaço religioso encravado no meio urbano, bem no quadrilátero formado pelas ruas Otto Unger, São João, Antônio Cândido Vieira e Senador Dantas, é o berço de Mogi das Cruzes, já que o crescimento da maior cidade do Alto Tietê se deu naquele entorno. De acordo com Marques, formado em arte e pós-graduado em patrimônio histórico, o complexo do Carmo - composto atualmente por três igrejas (uma do século 17, outra do 18 e a mais recente transformada em templo nos anos de 1970) e o convento, que começou a ser eguido em 1627. "A área do carmo vinha da área da praça 1º de Setembro e terminava no Corpo de Bombeiros, no Shangai. Com o tempo, acabou se encolhendo e hoje temos apenas este quarteirão", define.
A relação de Mogi das Cruzes com a Nossa Senhora do Carmo começou no século 17 com a chegada dos religiosos da Ordem do Carmo, também conhecidos como Carmelitas, que vieram de São Paulo e de Santos. Eles teriam atendido a um pedido de devotos que já viviam em Mogi. Foram eles e os frades que deram início às construções, primeiro do convento e de uma pequena capela, que acabou se transformando na primeira igreja do Carmo, além de um cemitério: "A igreja da Ordem 1ª levou 100 anos para ser construída. Era uma época em que São Paulo não tinha muito dinheiro. A igreja tem o estilo Barroco e é quase toda talhada em madeira", explica.
Estar ali dentro é mergulhar no passado. Uma travessia secular. São dois púlpitos (um de cada lado), dois confissionários, imagens barrocas, entre elas a de Jesus Cristo, situada à esquerda (na visão de quem entra) e no altar a inscrição em latim: "Mater Decor Carmeli", que significa: "Mãe dos Carmelitas". Há pouca luz dentro da