O provável fim da última favela do centro da capital paulista, a “Favela do Moinho”, continua sendo alvo de debates e teorias de senso comum, políticas e sociais, com as últimas repercussões de que a resolução da área é cobiçada pelo presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas, ambos políticos mais cotados para disputar as eleições presidenciais do ano que vem.
Um lado do assunto, o da desfavelização, apresenta um deslocamento de moradia irregular com direcionamento para novas habitações, com o interesse de revitalizar a região que abrigava a cracolândia. Já o outro direcionamento do tema, apresenta um processo de expulsão de moradores com o intuito de mudança no perfil e acesso social, para a valorização imobiliária nobre.
Apesar da complexidade de ambos posicionamentos, é evidente que um processo de mudança de estrutura social dessa magnitude, envolve entre os seus dilemas, primeiro, a negação histórica do governo brasileiro com a moradia digna para o seu povo - isso é como encontrar o pai ou mãe que abandona um filho e o procura para um novo relacionamento, e segundo, é a estratégia econômica e social na área substituída para um público-alvo com poder aquisitivo, que naturalmente vai distanciar o acesso do cidadão mais pobre, nesse estudo de caso, da região central paulistana.
Enquanto os nossos representantes políticos não reconhecerem oficialmente o trauma que temos na história do nosso país com o direito da moradia, e não realizar políticas públicas de reconciliação mental, social e dignidade humana, essa temática continuará sendo um monólogo social.
Nas últimas semanas, a vereadora Sonaira Fernandes (PL), disse em suas redes sociais sobre a Favela do Moinho, que: “A desfavelização é o único caminho para dar dignidade para essas famílias humildes. Nobre vereadora, sobre esse contexto, a desfavelização tem várias estradas não percorridas, aliás, vários becos e vielas que esperam estrutura urbana e o reconhecimento social.
Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.