Nós somos seres humanos por condição e não natureza. O que nos coloca na condição de “ético” é agir de acordo com os critérios que usamos para condenar a atitude dos outros. A palavra ética vem do grego Ethikós, que significa "modo de agir". Diz respeito ao comportamento humano balizado pelo valor moral e pela noção de justiça. Infelizmente, parece que a ética e a boa conduta estão sendo relegadas a um plano cada vez mais secundário em nosso meio.

Costumo lembrar de um fato ocorrido em 01/09/1994, quando o ministro Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda do governo FHC, em conversa nos bastidores da TV com o jornalista Carlos Monforte, captada por antenas parabólicas de telespectadores antes de entrar ao vivo no Jornal da Globo, disse: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde". Então, essa fala foi o bastante para que a pressão da opinião publica sobre o fato fosse suficiente para que ele renunciasse ao cargo de ministro.

Comparado ao show de horrores propiciados por políticos de todo o Brasil, isso parece um pequeno e inofensivo cisco. O que o país mudou de lá pra cá, no que se refere aos padrões de comportamento não está escrito em nenhum gibi. Se não, vejamos.

Existe uma comissão de ética na câmara federal que aprovou o parecer do relator defendendo a cassação do mandato do deputado Glauber Braga, por ter expulsado das dependências da câmara, um provocador que fez graves ofensas a ele e a sua mãe que estava internada e que veio a falecer logo depois.

Pois bem. O relator que fez o parecer propondo a cassação do deputado, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), em 2001, deu socos e chutes no autor de um livro com denúncias contra Antonio Carlos Magalhães, tio dele. Nunca teve nenhuma punição.

A deputada Carla Zambelli, que perseguiu um jornalista negro com arma em punho no meio da rua, acompanhada de seu segurança também armado, só teve o mandato cassado pela justiça e não pela comissão de ética da câmara dos deputados. 

Tal diferença de tratamento destinada aos dois parlamentares é óbvia. Glauber foi vítima de um parecer encomendado, pois o parlamentar teve a coragem de denunciar as manobras do ex-presidente da câmara dos deputados, na destinação das famigeradas emendas do orçamento secreto. É um parlamentar de esquerda.

Em Mogi das Cruzes, a vereadora Inês Paz, do mesmo partido do Glauber, pessoa publicamente reconhecida pela sua seriedade e combatividade, foi denunciada pelo Ministério Público por improbidade administrativa. Isso numa cidade que volta e meia tem vereadores investigados e presos por práticas de corrupção.
Por onde andará a ética nessas comissões e ações de agentes públicos?

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.