Desde a minha formação em Jornalismo, nunca perdi o hábito de ler jornal impresso. Leio vários conteúdos, de regional à nacional, e até internacional – este online, onde na maioria das minhas experiências de leitura, fico depressivo.  O consumo de conteúdos sobre guerras, fome, doenças e injustiças sociais mexem bastante comigo e apresentam a procura por uma resposta de mudança que não encontro.

Foi assim o meu sentimento, quando estava lendo um jornal na praça do Centro de Convenções, em Ferraz de Vasconcelos, quando um jovem ouvindo uma música com o volume alto, cantava: 

Só preciso de um dinheiro pra comprar um “mé”,
 O “leitin” “das criança” e o “modess” da “muié”.
 O resto é só fé, só fé, só fé.
 O resto é só fé, só fé, só fé.

Eu não sabia até o momento que esse som era o novo hit popular brasileiro, do cantor anapolino, Gabriel De Ângelo, apelidado de Grelo.  Comecei a observar que as pessoas que cantam essa música, fazem com alegria, com tom de brincadeiras, mas identifiquei que esses indivíduos não prestam atenção no significado da canção, a meu ver, viver por fé é acreditar e/ou esperar que algo melhore ou mude, é uma condição que pelo menos eu, tenho muita dificuldade de aceitar.

Ter o comportamento de fé pode ser natural quando almejamos por um acontecimento que não temos controle. É uma reação de defesa, uma conduta resistente. A esperança positiva pode ser religiosa, mas em qualquer dos seus significados, não podemos aceitar que ela é simplesmente uma atitude contrária à dúvida.

O cantor Milton Nascimento, apresenta na música “Maria, Maria”, que quem dá risada quando deve chorar, ou ainda não consegue viver e apenas aguentar a sua vida, tem a estranha mania de ter fé na vida.

Não podemos banalizar a fé a ponto de ficarmos cegos, praticar a fé-racional é um comportamento menos dolorido e ter o conhecimento científico ao lado é um caminho necessário...


 Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no Divã” e “A vida de cão do Requis”.