As instituições políticas brasileiras não gozam de muito prestígio perante o nosso povo. E tal situação parece compreensível diante dos inúmeros escândalos envolvendo as diferentes esferas do poder. Mesmo quando o foco da mídia e a atenção das pessoas miravam um caso específico, como foi o caso da Petrobras, ainda assim, os esquemas de corrupção continuaram ativos por todo o país.
Basta lembrarmos que Jair Bolsonaro de elegeu em 2018, com um forte discurso contra a corrupção e, depois que assumiu o governo, passou a colocar sob o sigilo uma série de ações praticadas por ele e por seus ministros. Na medida em esses sigilos vão sendo derrubados, surgem diante dos nossos olhos diversas evidências de era só discurso.
É justamente isso que tem motivado o desprezo das pessoas em relação à atividade política, mesmo sendo ela imprescindível à democracia. Na medida em que esse sentimento se generaliza pela sociedade e causa o divórcio dela com a política, mais essa atividade se deforma e se transforma em espaço para a realização de interesses espúrios de pessoas e/ou de grupos. A política, atividade fundamental para a construção e fortalecimento da democracia, acaba tornando-se um verdadeiro balcão usado para deploráveis negociatas.
Esse diagnóstico é muito preocupante, pois tal perspectiva reduz de forma desproporcional a importância da atividade política para a humanidade e para a democracia. Afinal, a história nos mostra que foram as batalhas políticas vivenciadas nos séculos XIX e XX que propiciaram conquistas fundamentais como a abolição da escravatura, o sufrágio universal, o voto feminino e os direitos trabalhistas.
Desde o advento da Revolução Industrial ocorrida na segunda metade do século XVIII, a política tem sido o grande contraponto do mercado, principalmente a partir de 1917. Mesmo com todos os seus problemas (e não foram poucos) a afirmação da União Soviética e do Bloco Socialista na primeira metade do século XX foi responsável por algumas concessões do sistema capitalista. O Estado de Bem-estar Social (Welfare State) disseminado por diversos países europeus e a ação de alguns governos da América Latina (como Peron e Vargas), caracterizados de “populistas”, demonstram isso.
É justamente por isso que a reforma política torna-se necessária e urgente. Ela é o caminho capaz de devolver a importância dessa atividade. É matéria de fundamental interesse para a população brasileira e é essa mesma população quem deve inspirá-la. Ela pressupõe uma série de medidas e alterações legais para transformar o sistema eleitoral e político.
E o melhor momento para que ela aconteça é no início de governo.
*Afonso Pola é sociólogo e professor.