Já é inverno no hemisfério sul, e essa estação deve nos trazer um super El Niño, fenômeno que promove o aquecimento das águas superficiais do Pacífico (desde a Austrália até a costa norte do Peru) e determina mudanças nos padrões de transporte de umidade e, portanto, variações na distribuição das chuvas.
Na previsão de especialistas, esse super El Niño deve provocar o aquecimento das temperaturas em até 2,5ºC em alguns locais do mundo. O impacto socioeconômico deve ser grande e atingir vários países e em particular o Brasil, já que a nossa principal atividade econômica é o agronegócio e as variações climáticas comprometem a produtividade das nossas lavouras. Em 2022 o agronegócio foi responsável por 24,8% do nosso PIB, bem como é determinante para sustentar o saldo positivo em nossa balança comercial.
É importante destacar que os modelos que dão suporte para a previsão de fenômenos assim produzem resultados diferentes. De acordo com o modelo australiano que gerou a previsão mais pessimista, o Pacífico equatorial central pode esquentar 3°C em outubro e 3,2°C em novembro. Ainda assim, a maioria dos modelos concorda: isso não vai ser um pequeno evento. A ideia de um evento leve como o El Niño de 2019 está descartada.
Para colocar as coisas em perspectiva, o evento El Niño mais intenso registrado foi em 2015, com um máximo de 2,6°C na zona de referência. O segundo lugar vai para o evento de 1997, com 2,4°C. Se as previsões da Austrália estiverem corretas, estamos falando de possíveis perdas na casa dos trilhões.
Nossas cidades precisam se preparar para um fluxo maior de chuvas no Sul do Brasil, e nós já testemunhamos diversas catástrofes provocadas pelo excesso de chuvas.
A preocupação não é só com deslizamentos. O El Niño mais forte pode provocar aumento do preço dos alimentos e doenças tropicais. É por isso que o combate ao aquecimento global deve ser uma prioridade.
Vamos dizer um sonoro não ao negacionismo. O aquecimento global existe e afeta nossas vidas.
Afonso Pola é sociólogo e professor.