A violência contra a mulher tem ocupado cada vez mais espaço na mídia. E por um único fator, nunca se teve tantas notícias de ocorrências onde as mulheres são vítimas. É verdade que o fenômeno das redes sociais ajuda a potencializar essas notícias. Antes, muitas vezes, esse tipo de violência ficava restrito ao conjunto de pessoas mais próximas da vítima e do algoz.
Na maioria das vezes, a violência é praticada por alguém que tem proximidade da vítima. São ex ou atuais que não aceitam a ideia de uma separação. E o pior, parte da sociedade acaba tentando naturalizar esse comportamento.
Não é à toa que em vários casos envolvendo acusação de assédio ou violência sexual contra jogadores de futebol, uma verdadeira horda de machistas se põe a questionar o comportamento da mulher e não o do agressor. A indignação vai ainda mais além. Quantas mulheres não foram assassinadas nos últimos anos, mesmo tendo medidas protetivas em seu favor, destinadas a pessoas que estejam em situação de risco, perigo ou vulnerabilidade. Ou seja, a mulher toma a coragem de denunciar, pede proteção da Justiça, o agressor é conduzido a uma delegacia (quando é), e sai para continuar ameaçando a mulher. Enquanto parte da sociedade chora por esses acontecimentos, muitos tratam isso como se fosse mimimi.
Na última semana, o famigerado BBB trouxe esse debate de uma forma muito ampla. Dois integrantes do reality show foram expulsos por comportamentos abusivos contra uma mulher mexicana que estava fazendo um intercâmbio no programa brasileiro, um deles surpreso com a repercussão de seu ato. É a normalização introjetada nesse horrendo universo masculino.
Numa relação homem e mulher, tudo o que vem depois do não passa a ser assédio. Não é não. Que a sociedade, que já criou a Lei Maria da Penha, desenvolva mais instrumentos para promover o protagonismo das mulheres e para coibir todo tipo de violência. Uma sociedade onde as mulheres são respeitadas, é uma sociedade melhor para todos.
Afonso Pola é sociólogo e professor.