Tenho insistido muito na tese de que o país não se tornará menos corrupto se não aumentarmos o nível de consciência cidadã do nosso povo. A velha e nefasta máxima do jeitinho brasileiro faz com que sejamos um povo caracterizado por buscar caminhos que burlam as leis e regras vigentes.
Muitas vezes cobramos o que não praticamos. Queremos um país de primeiro mundo, mas não nos comportamos como cidadãos de primeiro mundo. Muitos daqueles que gritam contra a corrupção são sonegadores de impostos, compram produtos piratas, estacionam seus carros em vagas especiais e pagam propina quando lhes é conveniente. Parte do nosso subdesenvolvimento tem como base o modo de pensar e agir de uma grande quantidade de brasileiros que não consegue se comportar com um mínimo de cidadania, urbanidade e respeito ao próximo.
Será que não é por meio desses pequenos desvios que a cultura da corrupção se instala e se reproduz em nossa sociedade? Infelizmente, quando todo um sistema cai em descrédito cada um tenta fazer valer a sua própria vantagem. Qual distância separa a disseminada prática do jeitinho dos grandes escândalos de corrupção? Enquanto nossas atenções estão voltadas para o escândalo da vez, quantos outros não estão sendo gestados?
A ação anticorrupção em nossa cultura deve passar pela alteração da permissividade cultural. Enquanto os cidadãos brasileiros não agirem cotidianamente na busca de coibir, perante seus pares, atos corriqueiros considerados como normais ou de consequência minimizada, as bases para a mudança cultural não serão lançadas. Muitos cidadãos já buscam coibir tais ações.
Em nosso país a corrupção é tão disseminada, que chega a se confundir com as inúmeras características que delineiam nossa identidade. È bom não perder de vista o fato que os políticos corruptos não vieram de outro planeta com o objetivo de capturar nossas instâncias de poder para surrupiar nossas riquezas. Eles foram eleitos por nós. Incluindo aqueles que possuem um passado nada recomendado.
Afonso Pola é sociólogo e professor.