Basta um segundo e várias vidas podem mudar - esta é a premissa que é ensinada nos cursos de formação de condutores pelo país afora. O trânsito, que se comporta como um organismo vivo independente na paisagem urbana, cobra um preço alto demais para manter as engrenagens da vida em pleno funcionamento.

Mas há uma luz que se lança por entre as nuvens de tristeza que é o trânsito brasileiro e sua taxa de mortalidade, principalmente no Alto Tietê: a redução por mais um mês do número de mortes na maioria das cidades da região mostra que há uma solução para a retomada da vida normal, no pós-pandemia, sem recorrer à selvageria do trânsito que nos assusta diariamente.

Os números do Alto Tietê que registram a queda, no entanto, devem ser recebidos para além do valor de face, e entender o que se esconde nas entrelinhas: enquanto que em agosto a queda foi de mais de 38%, a redução de 11% demonstra que o cuidado tomado neste ano encaminha-se para a normalidade, para a normalização. O cuidado redobrado que empregamos neste ano, diante do entusiasmo que foi a volta às atividades normais corre o risco de se dissipar na normalização do cotidiano, da volta à falta de atenção de nossos prazos diários.

Cabe também uma atenção aos gestores públicos para a aplicação correta dos recursos encaminhados para a garantia da engenharia de tráfego. O valor encaminhado pelo Estado às prefeituras em convênios e parcerias para o aumento da segurança das vias com maior registro de acidentes não pode e não deve ser atrelada apenas ao binômio educação-tapa buracos, ou correremos o risco de desvirtuar uma das mais completas e inspiradoras iniciativas promovidas pelo poder público para a preservação da vida no trânsito.

A conscientização do motorista, peça fundamental da paisagem urbana, é importante, mas é fundamental que o trânsito seja inteligente, seja orientado não apenas para a velocidade de deslocamento, mas também para o ambiente do entorno das vias, que critérios verdadeiramente técnicos sejam aplicados na formação das ruas e avenidas. Ou viveremos eternos ciclos de lágrimas e arrependimento em nossas vias.