Desde sempre, falar de política, futebol e religião causa conflitos. A última do momento é a estreia, ocorrida ontem, do filme Os Dez Mandamentos, que é uma adaptação de um seriado da TV Record. Entre tantos comentários sobre o filme, principalmente na Internet, está o de que a emissora teria distribuído ingressos antecipados aos fiéis para então a Imprensa divulgar que a pré-venda do filme foi um sucesso.
Nesta discussão, um lado pode fazer sentido - o de uma estratégia de marketing da emissora -, mas também existe a possibilidade de isto ser uma mentira plantada para 'diminuir' a obra, que foi um fenômeno de audiência na televisão. Outra questão mais aprofundada é em relação ao tema.
Entre os comentários anônimos na Internet, alguns falam que a emissora estaria se aproveitando do tema (religião) para ter os fiéis nas salas de cinema e faturar com isso. No entanto, se esquecem que muitos filmes americanos tratam do tema e de forma muito menos respeitosa. É o caso de 'Código da Vinci', onde a trama insinua que a história contada na Bíblia é diferente das pregadas nas igrejas, ou ainda 'Paixão de Cristo', onde Jesus é retratado de uma forma bem diferente das escrituras.
A estreia de Os Dez Mandamentos nas salas de cinema tem outro porém. O filme invade uma área dominada pela Rede Globo no Brasil, com filmes de comédia estrelados por seus funcionários ou ainda de tramas dramáticas, sempre com atores de seu elenco. Ou seja, por mais cordial que a emissora seja, alguma intriga seria causada, ainda mais no meio televisivo, onde a fofoca é mote para a audiência.
Ainda temos os mais radicais (não os fiéis), que temem o domínio do bispo Edir Macedo dos meios de comunicação no País. Depois da inauguração do Templo de Salomão, que custou milhões, o olho grande de quem não é evangélico ficou maior. Estaria ele dominando mesmo o mercado, ou apenas ocupando um lugar ainda não explorado na mídia?
Quase toda crítica negativa tem como base algum sentimento pessimista e contraditório. Poderíamos todos esperar pela recepção do público ao filme, e só então tomar uma opinião sobre o tema. Mas somos seres humanos, com defeitos e o costume do pré-julgamento. Só mesmo com muita fé.
Qual o problema de os fiéis lotarem as salas de cinema? Muitas pessoas irão se converter? Mais mal do que um filme de violência explícita isso ele não causará, esta é a única certeza de toda esta controvérsia.