Paris tem 2,2 milhões de habitantes. Mariana 58 mil. Ambas são lindas e estão enlutadas. O gosto amargo da dor vem da violência que sofreram. São de naturezas distintas, mas nenhuma das atrocidades é natural.
Em Paris morreram, até aqui, 130 pessoas, alvejadas no espaço de meia-hora. Não há causa, ideologia, visão de mundo que justifique a chacina covarde de tantos inocentes. As guerras do século passado tinham alvos militares e palcos de combate. Agora, o terror ataca onde quer e a quem quer, para impactar.
As potências ocidentais, em suas políticas para outras áreas do mundo, costumam nutrir seus adversários, chocar o ovo da serpente. Por interesses geopolíticos e econômicos, os EUA já apoiaram Bin Laden e Sadam. Por interesses econômicos e geopolíticos, países ocidentais, como a França, armaram grupos que queriam derrubar Assad, na Síria.
Em Mariana foram destruídas casas, rios e vidas - humanas e animais. As sequelas durarão um século! A mineradora Samarco/Vale, como quase todas do ramo, quer lucros, ao custo de intervenções que agridem a paisagem. Os pobres que encontrem lugar para morar, mesmo que seja a dois quilômetros das barragens. Sem acompanhamento técnico, elas podem romper. E romperam! A onda de lama tóxica matou gente e se alonga de Minas Gerais ao Espírito Santo.
O papa Francisco repete que estamos vivendo a 3ª Guerra Mundial em etapas. Guerra entre culturas, países, interesses. Guerra de destruição do planeta, em que estão em campos opostos o sistema de produção e consumo predatório, insustentável, e os que acreditam em um outro mundo possível, onde o realmente necessário será o suficiente.
Nada de fazer ranking macabro do que mais mata. A humanidade está perdendo a batalha para o ódio, a ânsia de vingança, o afã do ganho a qualquer preço. Em Paris, jovens encapuzados e fanatizados deixaram um rastro de sangue, eliminando mais de uma centena, quase todos jovens. Em Mariana, a tenebrosa máscara de lama destruiu vidas, povoados e mananciais. O rastro marrom segue seu curso devastador. É urgente dizer não!