O mandamento "não usar o nome de Deus em vão" é reverência ao sagrado, ao que nos transcende. A tudo o que, na nossa existência terrena, vai além do mundo apequenado das coisas ou do ritmo da pressa, "alma dos nossos negócios". Atitude de respeito místico diante do que nos ultrapassa.
O psicanalista Jurandir Freire Costa diz que vivemos tempos de "credulidade infantilizada e descrença generalizada". A infantilização da fé, inserida na economia da salvação individual e na tal teologia da prosperidade, tem sido usada inescrupulosamente para se obter dividendos políticos e financeiros. "Jesus é o caminho e eu sou o pedágio", parecem dizer certos líderes religiosos, ávidos por recompensa material em troca de serviços de refrigério espiritual e supostas curas físicas. Os deserdados que buscam amparo são um filão de votos, uma relíquia. No mundo do mercado total, os vendilhões do templo prosperam.
Leio agora que o presidente da Câmara dos Deputados tem centenas de domínios na internet vinculadas à fé religiosa, como jesus.com e crentecompra.com. Ele também estaria transitando da igreja Sara Nossa Terra para a Assembleia de Deus, por motivos doutrinários não conhecidos. A Assembleia de Deus tem 13 vezes mais fiéis que a Sara.
Nada contra a utilização de meios eletrônicos para a propagação de qualquer fé - desde que não se dissemine intolerância e charlatanice. Toda manipulação é uma blasfêmia. Fazer do sentimento religioso das pessoas um instrumento eleitoral é negar a própria religião.
Mas o que chamou mais atenção foi a frota de carrões, incluídos Porsches avaliados em mais de R$ 500 mil, na "conta" das empresas religiosas do deputado Cunha e sua esposa. Imediatamente me veio a cena evangélica de Jesus pedindo uma jumentinha emprestada para entrar em Jerusalém, episódio celebrado no Domingo de Ramos.
Exegetas ensinam que a simbologia do burrico é a da simplicidade e do despojamento, contrastando com os potentes cavalos dos reis de então, que utilizavam o poder para perpetuar a dominação sobre o povo. Não para servir, mas para se servir. Usando o nome de Deus em vão...