A desigualdade no Brasil não poderia ser mais escancarada. Em meio a tantas pessoas desempregadas por causa da crise econômica, somos pegos de surpreso com a notícia de que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou o aumento dos próprios salários. No lugar dos R$ 33,7 mil que caem por mês na conta dos ministros, a partir do ano que vem, serão R$ 39,2 mil, ou seja, um reajuste de 16,38%. E o principal, sem greve, sem briga, sem esforço, fácil.
O processo ainda será encaminhado para a sanção da presidente Dilma Rousseff (PT), que não vai querer comprar briga a essa altura do campeonato. A verdade é que aprovar o reajuste agora, neste momento em que a imagem da petista está arranhada pela crise, é mais uma manobra política para conseguir fazer valer os interesses próprios dos ministros.
O STF alegou que o índice de reajuste para salário dos ministros levou em conta a recomposição de perdas inflacionárias de 2009 a 2014, a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2015 e um "resíduo" de reajuste que não foi atendido em pleito anterior. Ora, tratar valores tão altos como "resíduos" é uma falta de respeito com o brasileiro. Estima-se que o aumento custará milhões para o governo e, indiretamente, ao nosso bolso, pois pagamos os impostos.
De outro lado, aqui na região, temos cerca de 200 operários que trabalham na construção de prédios de alto padrão no bairro Nova Mogilar, em Mogi das Cruzes. Desde segunda-feira eles fazem protestos e buscam chegar a um acordo com os patrões. Mas não é para um reajuste de 16%, e sim por direitos básicos de trabalho.
Ou ainda, a greve anunciada para hoje dos auditores fiscais da Receita Federal. Eles são responsáveis por recolher, nada mais, nada menos, que R$ 1 bilhão em impostos e multas para o governo federal por dia, mas não estão conseguindo ter o mesmo reconhecimento que outros profissionais.
São tantas categorias em busca de melhores salários, condições de trabalho e reconhecimento, mas o Supremo aproveita a crise para forçar Dilma a aceitar o aumento dos próprios salários deles. Será que com R$ 32 mil não é possível sobreviver no Brasil? Está faltando dinheiro para os ministros pagarem o leite de suas crianças? E os subsídios deles? Não conseguem exercer seu trabalho com o que ganham?
Que a população brasileira guarde o nome dos ministros e políticos que agem com esperteza e ganância em momentos de crise como esta pela qual passamos.