Uma das campanhas de destaque deste mês é o Junho Violeta, em referência ao Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado neste domingo (15). Para marcar a data, são realizados eventos educativos e debates em Mogi das Cruzes e também na região. Apenas na cidade, a população com 60 anos ou mais se aproxima de 70 mil pessoas. Lideranças mogianas ressaltam a urgência de enfrentar esse problema por vezes subnotificado, que ocorre majoritariamente no âmbito familiar. 

Para Juraci Almeida, vice-presidente do Conselho do Idoso de Mogi das Cruzes, a data celebrada neste domingo é importante para refletir. “A sociedade tem a ideia de que a pessoa vale o quanto ela produz e o quanto ganha. Os mais velhos, que estão fora do mercado de trabalho e muitas vezes vivem com uma pequena aposentadoria, são considerados inúteis e, consequentemente, invisíveis”, avalia Juraci, destacando que uma parcela significativa de idosos está em situação de abandono, sendo vítima de maus-tratos, muitas vezes praticados pelos próprios familiares ou pelo Estado.

Os casos de violência em Mogi são comuns, segundo Juraci, assim como em outras cidades. “Familiares tentam forçar procurações para ter acesso a cartões de aposentadoria, empréstimos bancários, bens patrimoniais e vendas de imóveis sem consentimento.”, alerta, destacando ainda os abusos por parte de empresas e planos de saúde. 

Outra forma comum de violência, segundo a vice-presidente do Conselho, é expulsar o idoso de seu espaço. Ela também chama atenção para as violências institucionais, que não aparecem nas estatísticas oficiais e que precisam ser mais denunciadas, como as dificuldades para obter pensões, benefícios, aposentadoria e transportes adequados. 

“O descaso por parte do Estado e municípios com a ausência de serviços públicos que ofereçam cuidados, proteção e assistência aos mais velhos, tem contribuído muito. Os mais pobres são os que mais têm dificuldades de acesso aos serviços de saúde, moradia, e alimentação e devido a invisibilidade são abandonados", afirma Juraci.

Envelhecimento

A assistente social Yamim Alves, que atua no atendimento de idosos há seis anos e coordena a Casa de Clara - serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para pessoas idosas, na Vila Brasileira, em Mogi - destaca que a data tem caráter educativo e de alerta. “Precisamos falar mundialmente sobre o envelhecimento. O público mais velho precisa deixar de ser invisível. Quando falamos desse dia e trazemos esse debate à tona, os idosos ficam mais protegidos”, afirma. 

Para Yamim, é dever de todos denunciar os casos, que em sua maioria ocorrem na própria casa e vão além de ataques físicos. “Hoje, no trabalho com os idosos, é possível identificar violências como negar acesso a direitos e as violências institucionais, quando o idoso não é atendido com prioridade em hospitais e instituições”, pontua. Ela destaca ainda que outros tipos de violência podem passar despercebido como em relação à tecnologia: “Quando a gente digitaliza tudo e não promove o acesso da pessoa idosa a esses meios de tecnologia, elas ficam excluídas, está violando os direitos deles”.
 
Para evitar situações assim, a assistente social salienta a necessidade de manter diferentes canais de atendimento e ações de letramento digital. “Estamos também em um período de muitas fraudes. Pedem para tirar uma selfie da pessoa idosa e, quando vê, tem um empréstimo no nome dela”, alerta, destacando também a violência patrimonial, como familiares que se apropriam dos bens das pessoas idosas.
 
No combate às violências, Yamim ressalta a importância de mudar a cultura sobre o envelhecimento e envolver todas as gerações, incluindo crianças, adolescentes, jovens e adultos. De acordo com ela, os idosos atualmente buscam autonomia e liberdade. “Eles estão envelhecendo de forma ativa, querem dançar, festejar, ter autonomia e liberdade que merecem. Não é porque a pessoa ficou idosa que perdeu seus direitos ou que precisa ser podada”, conclui.

Casa de Clara
 
  
A Casa de Clara, coordenada por Yamim, completará dois anos em setembro. São atendidos cerca de 150 idosos na Vila Brasileira, desenvolvendo atividades de convivência, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, além de atividades culturais, passeios e debates. “Em uma Mogi ideal seriam 50 mil vagas em serviços desse tipo para que todos tivessem acesso”, comenta a coordenadora.
 
Para celebrar o Dia Mundial de Conscientização da Violência ao Idoso, no sábado foi promovido um ato com diferentes gerações, que incluiu um mural feito com pintura de mãos, simbolizando a luta contra a violência e a convivência familiar.
 
Cultura de respeito
 
Mauro Mitsuro Yokoyama, secretário da Longevidade de Mogi, também reforça a importância do Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa e do papel do município no enfrentamento ao problema. Segundo ele, a secretaria tem caráter intersetorial e busca ampliar parcerias com entidades e conselhos para fortalecer a rede de proteção. A pasta foi criada em fevereiro e busca recursos para tratar das demandas dessa população.

Entre as ações da pasta, o secretário destaca a fiscalização de instituições de longa permanência (ILPIs), onde podem ocorrer casos de negligência ou descaso, e revela que a Prefeitura estuda a implantação de um novo Centro de Convivência do Idoso. Os detalhes ainda serão divulgados e o secretário diz que deve, em breve, buscar recursos com o Governo Federal.
 
Yokoyama destaca a importância da integração social e defende que o trabalho de conscientização comece desde cedo, com ações educativas nas escolas que promovam o respeito e o cuidado entre gerações, como forma de prevenir diferentes tipos de violência. 

Na próxima quarta-feira (18), das 9h às 11h, a Câmara Municipal de Mogi das Cruzes recebe o primeiro encontro do Fórum Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa. A abertura contará com palestra da ativista Norma Rangel. O fórum deve funcionar como espaço permanente de articulação para fortalecer políticas públicas voltadas ao envelhecimento com dignidade.

Denúncias 

As denúncias de casos de violência contra pessoas idosas podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100, pelo Conselho da Pessoa Idosa de Mogi no telefone 4798-4716 ou pelo WhatsApp (11) 9 3722-4651, além da Defensoria Pública e da Promotoria da Pessoa Idosa.

Galeria
Foto 1 - Juraci Almeida, vice-presidente do Conselho do Idoso, destaca importância das denúncias - Divulgação 

Foto 2 - Yamim Alves é coordenadora da Casa de Clara - Divulgação 

Foto 3 - Mauro Yokoyama assumiu a recém-criada Secretaria da Longevidade de Mogi - Diego Barbieri/CMMC