Foi destaque nesta semana nas redes sociais e na Imprensa de forma geral o preconceito etário, chamado de etarismo, idadismo ou ageísmo, praticado por universitárias da cidade de Bauru, no interior de Estado, contra uma colega de turma de mais de 40 anos. Uma mostra de que não só as pessoas com 60 anos ou mais que são hostilizadas e menosprezadas apenas pela idade que possuem.
No vídeo que circula nas redes sociais, as estudantes do curso de Biomedicina de uma universidade particular perguntam como "desmatricular" a colega que deveria estar "aposentada" e não poderia mais fazer faculdade pela idade que tem. A vítima do preconceito é Patrícia Linhares, caloura de Biomedicina, que em entrevistas a veículos de Imprensa já afirmou que tem recebido apoio de outros estudantes e pretende continuar a graduação.
O enfrentamento ao preconceito etário tem sido alvo de diversas ações pelo mundo. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório mundial sobre o idadismo, que coloca em risco a solidariedade entre as gerações, como também a saúde e o bem-estar das vítimas. E como bem destaca o órgão, é também um obstáculo para a formulação de políticas públicas e ações eficazes para um envelhecimento digno e saudável.
O texto conta com a participação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas e pelo Fundo de População das Nações Unidas, e está disponível no link - https://www.paho.org/pt/documentos/relatorio-mundial-sobre-idadismo . A publicação lembra que o preconceito começa cedo, ainda na infância, e é reforçado ao longo do tempo, e ainda pode ocorrer associado a outros tipos de discriminação, como o capacitismo (contra a pessoa com deficiência) e o sexismo (segundo o gênero).
O preconceito etário está em toda parte, como mostra o relatório, nas instituições de saúde e assistência social, no local de trabalho, na mídia, no Judiciário, e em uma série de instituições e setores de diferentes segmentos. Como também pode ser contra si próprio, com a percepção que temos sobre o nosso próprio envelhecer.
Década do Envelhecimento
A Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030, declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2020, considerada uma importante estratégia para construir uma sociedade para todas as idades, propõe a atuação em quatro áreas:
- Mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação à idade e ao envelhecimento;
- Garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas;
- Entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde, centrados na pessoa e adequados à pessoa idosa;
- Propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem
Medidas simples que podem mudar a forma como vemos o envelhecer. Saiba mais no site https://bit.ly/3LqeZSg
Brasil
Pensando no Brasil, temos uma iniciativa importante que é o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, que está na segunda edição. A iniciativa, promovida pela consultoria Longevida e parceiros de diferentes regiões do Brasil, reúne frases e expressões que descartam a autonomia e independência da pessoa, usando diminutivos para infantilizá-la. Há também depoimentos de quem sofre o preconceito. O Glossário está disponível gratuitamente no site - https://www.longevida.ong.br/
Fundamental na causa do envelhecimento é o Estatuto da Pessoa Idosa (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm), que completa 20 anos em 1 de outubro, data em que se celebra também o Dia da Pessoa Idosa. Um artigo da legislação, considerada uma das mais completas sobre o tema, tem sido muito lembrado por especialistas e estudiosos da área do envelhecimento e da longevidade diante do vídeo divulgado pelas universitárias de Bauru.
O Artigo 22 da legislação determina que "nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização da pessoa idosa, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria".