Diversas síndromes e problemas afetam a saúde mental nos tempos atuais, e podem se intensificar no final do ano. De acordo com um estudo da International Stress Management Association (Isma), atualmente, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos diagnosticados de Bournout – distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema causadas por desgaste no ambiente de trabalho. Além disso, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelou que 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade.
Adriana Cordeiro dos Santos, assistente social pós-graduada em Saúde Pública, que coordena a Rede de Atenção Psicossocial de Itaquaquecetuba, destaca que entre janeiro e novembro deste ano foram contabilizados 156 mil atendimentos das principais unidades e ambulatórios de saúde mental da cidade. "Esse aumento de casos está relacionado a pressão que a gente tem no mundo moderno, e também podemos citar a interferência política que também gera uma instabilidade”, afirma.
A coordenadora também explica que as redes sociais são um fator em potencial para números preocupantes de casos no país. “As redes têm dois fatores: o ponto positivo de um acesso fácil para trabalho e para diversas atividades ao mesmo tempo, mas também promove uma carga excessiva por estar o tempo inteiro conectado. Então, é importante usar com moderação”, recomenda.
Dores de cabeça frequentes, padrão de sono irregular, alteração intestinal, falta de foco, tremores, taquicardia, isolamento social, aumento no consumo de álcool e de outras drogas que trazem dependência são sintomas, segundo a assistente social, que podem estar relacionados a uma saúde mental desgastada e que precisa de cuidados. “Mas, esses sintomas podem ser confundidos com outras patologias, por isso é extremamente importante procurar ajuda de um profissional para que fique tudo bem”, destaca.
Fim do ano
Esses problemas podem aumentar potencialmente no final do ano, de acordo com Adriana: “O fim do ano acaba sendo estressante, pois além da pessoa ter que lidar com uma sobrecarga de trabalho que ela vem acumulando o ano todo, cumprir metas, a questão do aprimoramento, e ainda tem as confraternizações, que gera uma ansiedade, uma preocupação em agradar todo mundo, de gerenciar festas, participar. Isso tudo acaba gerando um desgaste de energia intenso e afetando o sistema fisiológico também”.
Para enfrentar esses problemas, Adriana salienta alguns cuidados importantes, como estabelecer as relações de trabalho de forma mais saudável, aprender a compreender os limites para que não haja uma cobrança excessiva, e priorizar momentos de lazer e atividades que promovam o bem-estar. “É preciso separar as linhas de trabalho, família e lazer para ter um ambiente harmonioso e equilibrado”.
Ela ainda evidencia o cuidado com metas para o próximo ano. “O planejamento é bom desde que tenha possibilidade de alcançá-lo, e não seja algo impossível para não gerar frustração. Você tem que ter um foco, saber até onde vai chegar e se não chegar, ter a possibilidade de recomeço. Preparar as metas é legal também, até porque a gente não se sobrecarrega, mas entender, ter o autoconhecimento do que eu sou capaz é a chave”, conclui.
Carga emocional
Para Danilo Nunes, de 29 anos, administrador/assistente financeiro, o final do ano traz uma carga emocional mais pesada: “Apesar de eu não me considerar uma pessoa ansiosa, nas épocas de festa do fim de ano eu fico mais preocupado. São muitas cobranças e responsabilidades com a família, ceia de Natal, resolver tudo no trabalho, comprar presentes, me organizar financeiramente para os gastos excessivos de fim de ano”.
Além disso, para Nunes cumprir as metas é extremamente importante: “A cobrança que tenho comigo mesmo para cumprir todas as metas que estabeleci é o mais complicado e vi que isso não estava me fazendo bem. Me sentia chateado por não ter conseguido algumas conquistas e preocupado com as metas do ano que vem. Com isso, vi que algo que era para ser saudável, e acabou me deixando pirado”.
O administrador ressalta a importância de manter um equilíbrio entre o possível e o imaginável. “Após buscar ajuda psicológica vi que algumas coisas eram apenas imagináveis, elas existiam e eram boas na teoria, na prática não tinha como dar certo. Por isso, eu sempre falo que é importante entendermos todo o contexto que vivemos para, aí sim, ter metas saudáveis e passar por processos difíceis, como o final do ano, de uma maneira mais leve e feliz”, finaliza.
*Texto supervisionado pelo editor.