Nestes dias de declarada quarentena é interessante invocar o poder para, pelo menos, saber dele o que poderia e deveria ser feito, sem esquecer que há duas formas absolutamente distintas de poder! Saber distinguí-las é o passo mais importante para qualquer objetivo pessoal de mudança interior. A primeira espécie de poder é aquela que se tem ao nascer, que nos leva ao prazer, à alegria e ao fazer. É o poder natural, da vontade, da energia construtiva e do amor, imprescindível à felicidade.

A outra espécie de poder é o poder, digamos, "podre", ditado pelo grupo quando este estabelece modelos de aspirações ilimitadas, assim adquirindo e mantendo o controle para alcançar os seus fins. Poder "podre" que é alimentado por fontes externas, como a ambição desmedida, a avidez por bens materiais, e por fontes internas como medo, sentimentos de impotência e incapacidade.

Um dos ideais fantasiosos de quem exercita o poder "podre" é o de ser um super herói, melhor do que todos. Essa fantasia surge paralelamente a sentimentos de inutilidade. Sentir-se impotente é algo que vem da falta de confiança e da desconsideração que a pessoa tem por si mesma. Por mais paradoxal que possa parecer, o sentimento de impotência é o grande estímulo e desafio que os indivíduos necessitam para se sentir impotentes. O caminho que perseguem, na fantasia de se elevar, é norteado pelo uso do poder "podre". Os sentimentos alteram-se. A onipotência equilibra a angústia da inferioridade e o medo da opressão. O indivíduo desqualifica sua própria capacidade de ser feliz e passa a viver na crença de que só mandando e controlando vai ser querido, respeitado, podendo viver com prazer e alegria.

O poder "podre" alimenta-se também da mentira, como ela vem sendo praticada no nosso dia a dia. No relacionamento familiar, no trabalho e até no lazer lá estará ela sempre de plantão. Políticos mentem ao prometer o que não podem cumprir, e patrões ao justificar não poder pagar melhores salários.

Raul Rodrigues é mestre em Engenharia e ex-professor universitário.