Exclua-se o presidente? Opondo-se à ordem natural das coisas legais surgem os tiranos de três cepas: os que chegam pela força das armas, ou pela sucessão hereditária, chegando mesmo ao poder, pelo voto popular. Pela ameaça que paira por aí, parece ser este nosso caso!

Os que chegam ao poder pela guerra comportam-se como conquistadores, subjugando o povo pelo poder das armas e apoderam-se de suas presas. Os que nascem soberanos, nascidos e criados no sangue da tirania, tratam os povos como se fossem servos hereditários, como quem lida com escravos naturais. Os tiranos que chegaram ao poder pelo voto popular, logo que assumem o governo, procuram de tudo fazer para permanecer como mandatários por todo o sempre, impondo suas vontades e ultrapassando, em muito, a crueldade dos outros tipos de tiranos.

Objetivando a conservação da tirania procuram, por todos os meios possíveis, aumentar a servidão fazendo com que os seus súditos esqueçam completamente o que é liberdade. Os tiranos, sejam eles os que chegaram ao poder pelo uso das armas, pela hereditariedade ou pelo voto, utilizam o mesmo modo de reinar.

O modo de reinar dos tiranos, depois de assumir o poder, é oferecer ao povo vantagens por meio de benesses, diversão e jogos públicos. Gratificando os cinco sentidos de um povo é a forma mais fácil do tirano impor os seus desejos. Se não percebem, trair um pássaro com o apito ou o peixe com a isca do anzol, é mais difícil que atrair o povo para a servidão, pois basta passar-lhes junto à boca um engodo de que eles se sentem carentes. Sem excluir as exceções, válidas e necessárias, principalmente numa condição de alta emergência.

Até mesmo tiranos ferozes se espantam como o povo pode suportar um homem que lhes faz mal; utilizando disfarces religiosos, assumindo aspecto de certas divindades e doando-lhes toscas benesses. Outro aspecto importante é que os tiranos não governam sozinhos, mas acompanhados por uma escória humana.

Raul Rodrigues é mestre em Engenharia e ex-professor universitário.