Saia às ruas e pergunte para qualquer pessoa sobre um dos pilares de sua fé, e ela provavelmente responderá "o amor ao próximo", levando em conta que o Brasil é um país majoritariamente cristão, seja católico ou protestante. Nossas crenças, que nos fazem unir como comunidade e como sociedade com regras, colocam o bem-estar alheio como um dos pontos a se alcançar a Graça divina.
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) fez surgir em nosso meio mais do que o terror com uma doença até então desconhecida e inclemente, mais do que a indignação com seus negadores: fez surgir a necessidade de bairros, comunidades, cidades inteiras se unir para proteger aqueles que ficaram à mercê, sem condições para se sustentar. A corrente de doações e de voluntários registrada nas primeiras semanas e meses de 2020 foi um dos pontos que nos trouxe o mesmo orgulho pela dedicação de profissionais da saúde e de setores essenciais que, mesmo com medo, foram às ruas para garantir nossa coesão como povo.
Chegamos ao inverno de 2022, dois anos e três meses desde o início da pandemia, com um cenário social avassalador. O aumento constante do custo de vida produz uma nova espiral de insegurança não apenas na mesa ou sobre a pele que se arrepia, mas uma insegurança sobre o futuro.
Diferentemente do que vimos no começo da pandemia, quando ainda havia um "espaço de manobra" para doações, o que mais vemos hoje é a redução da capacidade de entidades beneficentes em manter suas operações, em parte pela inflação dos alimentos, em parte pelo desmonte dos programas que adquiriam alimentos na agricultura familiar.
Hoje o Alto Tietê realiza em cada um de seus municípios suas Campanhas do Agasalho. É inegável que este trabalho para proteger as famílias vulneráveis do frio é necessário, e que ações voltadas para o atendimento de pessoas em situação de rua com a distribuição de refeições é questão de vida ou morte. Mas fica o apelo para que as milhares de famílias necessitadas e invisíveis não sejam apenas recipientes da piedade divina, mas da ação real de todos nós, independentemente de nossas crenças.