Vivemos em um país destroçado por uma. Algumas dessas crises são perenes, pois nos acompanham desde o nosso suposto "descobrimento". Nunca, na história desse país (pós início da colonização), interrompemos a promíscua relação entre os âmbitos público e privado.

Só para citar um exemplo: a Petrobras privatizou seus gasodutos para a Transportadora Associada de Gás S.A (TAG) por R$ 36 bi e gasta R$ 3 bi ao ano para alugar gasodutos que privatizou. Com a privatização, em pelo menos dez anos, a petroleira vai gastar todo o "lucro" com a venda do ativo em pagamento de aluguel do gasoduto que antes fazia parte do seu patrimônio.

Assim como a Hidra, nossas crises ressurgem a todo momento, minando nossa frágil democracia e corroendo as bases da nossa sociedade. Temos um governante de plantão que, desde o início do mandato e no exercício de suas funções, comete a famosa "quebra de decoro" dia sim e outro também. Mente de forma compulsiva sem que as outras instituições demostrem a necessária capacidade de brecá-lo.

Mas o mais trágico é perceber que o país parece ter se rendido ao que é feito ao arrepio da lei. Senão vejamos: a compra de aparelho desbloqueador de canal de TV pago é considerada um crime de receptação de mercadoria ilegal e pode levar a pessoa para uma detenção de, pelo menos, um ano, mesmo que eles sejam produzidos legalmente. No entanto, em diversos meios de comunicação e plataformas digitais, vemos propaganda promovendo esses aparelhos sem nenhum pudor. E é importante dizer que muitos dos ditos "cidadãos de bem", que praticam um discurso extremamente moralista, fazem uso disso e se orgulham de sua esperteza.

O mesmo vale para essas propagandas de empresas que anunciam nos canais das TVs aberta, prometendo reverter as punições que te impedem de dirigir (suspensão e cassação da habilitação).

Ou seja, vivemos em um país onde muitos crimes acontecem às claras, com a benção das nossas capengas instituições.

Afonso Pola é sociólogo e professor