Sob a coordenação do cirurgião pediátrico e urologista pediátrico Dr. Kleber Sayeg, uma equipe multiprofissional da Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes salvou uma bebê de 1,64 quilos, que nasceu com gastrosquise. Trata-se de um defeito congênito em que a criança nasce com uma abertura na parece abdominal, perto do umbigo, por onde os intestinos e outros órgãos desenvolvem-se fora do corpo sem estarem cobertos por uma membrana. A doença acomete um a cada 5 mil nascidos vivos.
O delicado procedimento mobilizou a equipe padrão ouro da Santa Casa para atuação simultânea em duas salas cirúrgicas. Em uma delas, a mãe, de 18 anos de idade foi submetida à cesariana, com 34 semanas de gestação. Foi a segunda gravidez dela, que teve o primeiro parto normal. Imediatamente após o nascimento, a menina foi levada para a outra sala onde Sayeg comandou a correção cirúrgica para recolocar os órgãos na cavidade abdominal.
"Tudo correu 100% bem! Foi um trabalho de excelência, graças à equipe altamente gabaritada da Santa Casa que aceitou fazer o procedimento. São raros os hospitais públicos preparados para uma tarefa desse porte", observou Sayeg, ao relatar que o atendimento foi realizado via Sistema Único de Saúde (SUS). A paciente vinha fazendo o pré-natal no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ocorre que se sentiu mal na noite da última segunda-feira (15), procurou a filantrópica mogiana e o ultrassom confirmou a anomalia com o feto.
A Santa Casa acionou Sayeg que escalou a equipe multiprofissional para a correção cirúrgica, realizada na terça-feira (16). O preparo das salas cirúrgicas levou quase todo o período da manhã. Foram mobilizados dois ginecologistas e obstetras, dois cirurgiões pediátricos, dois anestesistas (um deles pediátrico, com experiência em crianças com menos de 1,7 quilo), um neonatologista, duas enfermeiras especializadas em UTI Neonatal e um fisioterapeuta que deu suporte à remoção do bebê para o centro cirúrgico e monitorou todo o tempo do procedimento em que a criança teve de ficar sob ventilação pulmonar, além de enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem.
Segundo o médico, a cesárea ocorreu no momento exato para evitar complicações à paciente e à bebê. Ao nascer, a criança foi submetida à intubação orotraqueal e anestesia para passar pela cirurgia de recolocação dos órgãos na cavidade abdominal. Sayeg explica que a área da fenda no abdômen foi transformada em umbigo. "Houve também todo cuidado estético para perfeição. Ela não terá qualquer cicatriz. Poderá ir à praia usando biquíni, sem preocupação com o que passou nos primeiros minutos após vir ao mundo". O procedimento cirúrgico da recém-nascida levou cerca de 50 minutos.
Se a correção cirúrgica não ocorre imediatamente após o parto, alerta Sayeg, o risco de morte do bebê é muito alto. "Se ela desse à luz num hospital onde o procedimento não existisse, teria de aguardar a transferência para outra unidade, conforme disponibilidade da central de vagas. Pela minha experiência, provavelmente, a criança morreria de sepse (infecção generalizada) em 48 horas".
O sucesso da cirurgia da bebê também está expresso em sua perfeita recuperação. Menos de 24 horas após o procedimento, ela já havia sido retirada da respiração artificial e não precisava mais do Curare, um relaxante muscular usado para impedir o desconforto causado pela acomodação dos órgãos na cavidade abdominal.
A menina já recebeu alta da correção cirúrgica, mas permanecerá na UTI Neonatal da instituição até ganhar peso suficiente para poder ir para casa, considerando que nasceu prematuramente. "A Santa Casa é um hospital fantástico que tem a ousadia de autorizar um procedimento cirúrgico deste porte! Dispõe de uma equipe multiprofissional padrão ouro (de gabarito e empenho inquebrantáveis) que faz o seu melhor. Não por menos é referência regional em Obstetrícia e Neonatologia, com excelência para atender uma cidade grande como Mogi das Cruzes e municípios vizinhos", pontua Sayeg que é mestre em Medicina Regenerativa na Reconstrução Uretral e também leciona na cadeira de Cirurgia Pediátrica da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e na Faculdade Santa Marcelina.